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"O Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho, é eleito melhor ficção no Festival do Rio

Cena de "O Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho - Divulgação
Cena de "O Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho Imagem: Divulgação

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio de Janeiro

11/10/2012 23h22

O longa ficção "O Som ao Redor", do pernambucano Kleber Mendonça Filho, foi o grande vencedor do Troféu Redentor no Festival de Cinema do Rio, na noite desta quinta-feira (11). A cerimônia de premiação ocorreu no Cine Odeon, tradicional sala de cinema carioca.

O drama "O Som ao Redor" (131 minutos) foi o escolhido não apenas como melhor ficção mas também na categoria de melhor roteiro pelo júri oficial do festival que contou com a produtora Lucy Barreto, Marcos Prado, Renato Falcão e o diretor de Cinema do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Rajendra Roy.

“Eu nunca espero receber prêmio. Quando recebi o melhor roteiro já estava satisfeito que iria voltar para casa com o prêmio. O cinema pernambucano está com uma presença bem forte hoje, não só em festivais brasileiros, mas também nos estrangeiros”, disse ao UOL Kleber Mendonça Filho.

O primeiro longa de Mendonça Filho foi exibido há duas semanas no Festival de Brasília e já roda o mundo há oito meses em mais de 30 festivais internacionais.

“O filme estreou fora há oito meses. Começou em Roterdã, depois foi para o New Directors/New Films no MOMA em Nova York, Austrália, Portugal, Dinamarca e Cannes na França, e vai agora em novembro para Berlim. Já está em 33 festivais internacionais e esse é o segundo grande festival brasileiro que participa”, disse o diretor.

A produção de R$ 1,8 milhão considerada de baixo orçamento foi toda rodada em Recife e conta a vida de uma rua de classe média na zona sul da capital pernambucana que toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular.

O longa é uma crônica brasileira e faz uma reflexão sobre a violência em muitos centros urbanos. “É um filme sobre gente vivendo a vida, um drama, prefiro não colocar tantos objetivos”, disse.

"O Som ao Redor" tem previsão para estrear no dia 4 de janeiro de 2013.

“A Busca” é eleito melhor ficção pelos espectadores

Já o voto popular elegeu “A Busca” de Luciano Moura como o melhor longa-metragem de ficção que conta com a atuação de Wagner Moura e Mariana Lima num drama com toques de suspense.

"Incrível, para o filme, o Festival do Rio é uma plataforma. A gente está no caminho certo, é um filme que toca", disse o diretor ao receber o Troféu Redentor.

“A Busca” já estava cotado para ganhar alguma das categorias. Minutos antes da premiação, Luciano Moura admitiu que era difícil segurar a ansiedade. “Tem uma diversidade muito interessante de filmes no Festival e cada júri é uma cabeça. Já se fala que, este ano, é o festival com melhor nível de filmes da Première Brasil. O ideal é chegar sem expectativa. Cinema não é competição”, afirmou Moura.

Otávio Müller, Leandra Leal e Negrini premiados

Otávio Müller, que protagonizou  "O Gorila" de José Eduardo Belmonte, foi escolhido como melhor ator. O Troféu Redentor foi entregue por Cristiane Torloni.

"Personagem a gente não faz sozinho, toda a equipe me ajudou a fazer o personagem. Vou dedicar esse prêmio à minha família e a minha mulher. Eu nasci para ser ator", disse emocionado.

Müller contracenou com Alessandra Negrini que ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no mesmo filme inspirado num conto de Sérgio S'antana.

Antes do anúncio do prêmio, José Eduardo Belmonte, diretor de "O Gorila", admitiu que tinha esperança que o prêmio fosse para o protagonista. “Quero muito que o Otavio ganhe, ele é o símbolo do filme. Estar aqui nessa mostra, uma das principais do país é muito bacana. O filme não abre mão de algumas idiossincrasias. Fiquei chocado com a boa recepção nas sessões onde o filme foi exibido”, disse ao UOL.

Já para Alessandra Negrini, ganhar um prêmio representa uma “coroação” do trabalho. “Cinema é feito com muito amor, paixão e dedicação. Festivais como esse trazem para a gente a parte do glamour, que na verdade é feito com suor e esforço. O que me deixou feliz é que eu o filme foi super bem recebido. Um grande prazer trabalhar com o Otávio, a gente fez um par muito bonitinho. Belmonte é um mestre e graças a ele que a gente está levando esse prêmio”, afirmou Negrini ao final da premiação.

Leandra Leal foi eleita melhor atriz por sua interpretação no filme "Éden", de Bruno Safadi, ao viver Karine, uma mulher grávida que perde seu marido assassinado na Baixada Fluminense e é salva por um pastor de uma igreja evangélica. A atriz não esteve presente para receber pessoalmente o troféu. Leandra Leal tirou férias após fazer a novela das 19h “Cheias de Charme” da Rede Globo e de gravar quatro longas.

"Disparos" foi revelação

Caco Ciocler foi o ator coadjuvante escolhido pelo júri oficial. Ele viveu um inspetor no filme "Disparos", um thriller de ação psicológica inspirado em casos de violência no Rio de Janeiro.

O ator não compareceu ao Odeon, mas recebeu a ligação ao vivo pela diretora Juliana Reis que o colocou no viva-voz. Ciocler, ao saber da notícia, deu uma risada de surpresa. “Queria pedir desculpas pela indelicadeza não estar aí, a minha peça estreia amanhã. Queria muito estar aí, tenho um carinho pelo festival e queria dividir o prêmio com todos os atores do filme”, disse Ciocler pelo telefone.

Uma das grandes revelações no Festival do Rio 2012 foi “Disparos”, o primeiro longa de Juliana Reis. Com Gustavo Machado interpretando um fotógrafo e Caco Ciocler, um inspetor de polícia, a ideia do longa surgiu de uma “espécie de toalha de retalhos” de casos ordinários de violência urbana na cidade que a diretora compôs e costurou num roteiro com nuances de humor.

A ficção foi premiada três vezes: melhor ator coadjuvante, melhor montagem e fotografia. Juliana Reis admitiu ao UOL que não esperava ter o filme premiado tantas vezes.

“Me foi tão surpreendente, eu nem esperava que o filme tivesse uma pegada de festival. Tinha muita ambição que pudesse falar com o espectador de sala de cinema. Isso impulsiona, dá uma alavancada em termos de visibilidade e respeitabilidade. O próximo filme já está entrando no forno”, contou. 

Veja a lista dos premiados:

Melhor Longa-Metragem de Ficção: “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho Melhor Longa-Metragem Documentário: “Helio Oiticica”, de Cesar Oiticica Filho

Melhor Curta-Metragem: animação “Realejo”, de Marcus Vinicius Vasconcelos
Melhor Direção:   Eryk Rocha pelo documentário “Jards”

Melhor Ator: Otávio Müller em “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte
Melhor Atriz: Leandra Leal em “Éden”, de Bruno Safado 
 Melhor Atriz Coadjuvante: Alessandra Negrini em “O Gorila”, de José Eduardo Belmonte

Melhor Ator Coadjuvante: Caco Ciocler em “Disparos”, de Juliana Reis

Melhor Roteiro: “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho
Melhor Montagem: Pedro Bronz e Marília Moraes em “Disparos”, de Juliana Reis Melhor Fotografia: Gustavo Hadba em “Disparos”, de Juliana Reis.
Melhor Longa-Metragem de Ficção de Voto Popular: “A Busca”, de Luciano Moura
Melhor Longa-Metragem Documentário de Voto Popular: “Dossiê Jango”, de Paulo Henrique Fontenelle.

Melhor Curta-Metragem de Voto Popular: “Zéfiro Explícito”, de Sergio Duran e Gabriela Temer

Juri Novos Rumos (Composto pelos diretores Roberto Berliner e Eduardo Nunes e pela atriz Maria Ribeiro)

Longa ficção: “Super Nada” de Rubens Rewald

Longa documentário: “A batalha do Passinho”, de Emilio Domingos

Curta: “Canção para minha irmã”, de Pedro Severien:

Homenagem especial do júri para Jair Rodrigues em “Super Nada”, de Rubens Rewald e o jovem Gambá, de 21 anos, assassinado em 1º de janeiro de 2012 por sair de um baile funk no Rio de Janeiro. O menino era famoso por dançar o passinho.