Topo

Adaptação livre de "Crime e Castigo" mostra que Cazaquistão não faz apenas filmes "étnicos"

Cena do filme "Estudante", dirigido por Darezhan Omyrbayev - Divulgação
Cena do filme "Estudante", dirigido por Darezhan Omyrbayev Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

20/10/2012 12h00

“Tulpan”, de Sergey Dvortsevoy, é um dos poucos exemplares do cinema realizado nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central que conseguem chegar às telas brasileiras. O filme do Cazaquistão, revelado na Mostra de Cinema de São Paulo de 2008, foi lançado em poucas cópias no circuito de arte dois anos depois e agora é projetado como um dos “novos clássicos” do festival. A sessão especial acontecerá no CEU Anhanguera, no dia 25,

Como boa parte do cinema feito por aquelas bandas, o longa é um retrato singelo da vida em pequenas comunidades, onde as peculiaridades do dia a dia da população simples garantem a atenção de um espectador curioso, interessado em culturas diferentes e em personagens cujos dramas moram num universo bem distante dos que vivem nas cidades grandes. Embora seja um belo filme, “Tulpan” faz parte de um pacote étnico de venda fácil em tempos de globalização.

A produção cinematográfica do Cazaquistão (e dos países vizinhos), no entanto, não se resume a esse cinema de caráter mais folclórico. A prova está nos minutos iniciais de “Estudante”, filme de Darezhan Omirbayev, que faz parte da Perspectiva Internacional da Mostra deste ano. A sequência de abertura do longa mostra os bastidores de uma filmagem, um prólogo que pouco conversa com a história do filme, mas onde o diretor parece fazer questão de mostrar que o Cazaquistão é um país que produz cinema -- e que o cinema feito por lá pode ser urbano e contemporâneo.  

TRAILER DO FILME "ESTUDANTE"

A cena inicial serve para revelar o protagonista do filme, um estudante sem nome que é testemunha dos desmandos do poder, numa adaptação livre de um dos maiores clássicos da literatura mundial, “Crime e Castigo”, do russo Fiódor Dostoiévski. Nas imagens que vêm a seguir, o diretor retrata um Cazaquistão imponente, que segue as regras do capitalismo que venceu a "mãe Rússia": prédios colossais, avenidas largas,  carros luxuosos que contrastam com a realidade de pobreza do personagem principal.

Omirbayev pinta o país como uma terra sem lei, onde o ato do estudante é um ato de revolta, de rebeldia contra o status quo, mas, como no texto de Dostoiévski, uma atitude que desencadeia uma crise pessoal. Refém da própria culpa, o protagonista tenta compensar um mundo que desconhece seu crime pelo erro que cometeu.

Adaptar clássicos russos não é novidade para o cineasta. “Shuga”, de 2007, é uma releitura de “Anna Karenina”, de Tolstoi  e o curta “Sobre o Amor”, de 2006, tem por base um original de Tchekhov. Com “Estudante” e sua sincronia com os pesadelos de um mundo contemporâneo, Omirbayev desvincula o cinema feito no Cazaquistão do produto globalizado que se esperar de países “exóticos” e conversa com uma produção cinematográfica interessada em temas, estes sim, universais.


Serviço

"Estudante", de Darezhan Omyrbayev (Cazaquistão)

Quando: Sábado (20), às 18h
Onde: Matilha Cultural - rua Rêgo Freitas, 542, República (sessão 184)

Quando: Domingo (21), às 17h20
Onde: Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 6 - rua Frei Caneca, 569 - Consolação (sessão 221)

Quando: Segunda (22), às 19h30
Onde: Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca 4 - rua Frei Caneca, 569 - Consolação (sessão 300)

Quando: Terça (30), às 16h10
Onde: Sala Cinemateca - Sala Petrobras - largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino (sessão 1077)