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Atores novatos dão mais autenticidade a filme sobre relação entre Gonzagão e Gonzaguinha

O músico Chambinho do Acordeon em cena de "Gonzaga - De Pai para Filho", de Breno Silveira - Divulgação
O músico Chambinho do Acordeon em cena de "Gonzaga - De Pai para Filho", de Breno Silveira Imagem: Divulgação

Natalia Engler

Do UOL, em São Paulo

23/10/2012 05h00

Tudo que envolve o Rei do Baião Luiz Gonzaga é grande, insiste o cineasta Breno Silveira (“À Beira do Caminho”), mas grande também foi o risco assumido por ele na escolha do protagonista de seu novo filme, “Gonzaga - De Pai para Filho”. O longa é também mais uma incursão do diretor no mundo da música e das relações entre pais e filhos, depois de “Dois Filhos de Francisco" (2005).

OS TRÊS GONZAGAS

  • Land Vieira, 19: dos 17 aos 23 anos

  • Divulgação

    Chambinho do Acordeon, 32: dos 27 aos 50 anos

  • Divulgação

    Adélio Lima, 40: aos 70 anos

Na produção, que estreia em cerca de 400 salas na sexta-feira (26), o pai era Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e o filho, o também músico Gonzaguinha, com quem ele sempre teve uma relação difícil.

Depois de fazer testes com artistas conhecidos, Breno foi encontrar seus protagonistas em três atores sem qualquer passagem pelo cinema – um deles sequer tinha experiência em atuação. Para as três fases do personagem, Breno escolheu Land Viera, 19, que atuou nas novelas “Cama de Gato” e “Cordel Encantado”, o pernambucano Adélio Lima, 40, que se apresentava como o Rei do Baião no Museu Luiz Gonzaga em Caruaru (PE), e o músico Nivaldo Expedito de Carvalho, 32, conhecido como Chambinho do Acordeon, que jamais tinha atuado.

“No começo, eu tinha certeza que ia encontrar um bom ator que pudesse ser maquiado para ser Gonzaga. Não me dei conta até começarem os testes de que estava completamente errado. E foi me dando medo quando percebi que ninguém preenchia a quantidade absurda de requisitos: ser parecido fisicamente, cantar, tocar sanfona, que é difícil. Eu achei em um momento que o filme não ia rolar, que a procura do Gonzagão ia inviabilizar o filme. E aí surgiu a ideia de procurar no povo”, conta Breno.

“Procurar no povo” significou anunciar testes em rádios de todo o Nordeste, o que rendeu milhares de inscrições, que passaram por diversos filtros até chegar em cinco candidatos que foram levados para uma preparação no Rio de Janeiro. Entre eles estavam Adélio e Chambinho, que disputavam o papel de Gonzagão na mesma fase, entre os 27 e os 50 anos.

Adélio tinha alguma experiência como ator amador, encarnando Gonzaga no museu localizado em Caruaru. Já Chambinho nunca tinha atuado.

“Quando eu vi o Chambinho cantar, pensei ‘O Gonzaga baixa nesse cara quando ele canta Gonzaga’. Ele tem uma impostação muito parecida, uma sanfona muito parecida, um sorriso que parecia o do Gonzaga – porque o Gonzaga tinha um sorriso meio malandro, meio matuto, mas um sorriso que não tinha medo. Parece que ele passou pela vida sorrindo daquele jeito porque tinha uma sabedoria matuta que eu acho que o Chambinho também tem, e que cativa as pessoas. É nessa alma que consegui ver o Gonzagão que eu queria”, conta Breno.

Mesmo tendo selecionado Chambinho para a vida adulta de Gonzaga, Breno também reconheceu talento em Adélio e decidiu escalá-lo para viver o personagem aos 70 anos. “Ele acabou se revelando um ator extraordinário”, diz o diretor.

Em comum, Adélio e Chambinho tinham uma história longa com Luiz Gonzaga. “Eu moro numa cidadezinha que se chama Caruaru e é a capital do forró, só isso. Então, tenho uma ligação eterna com o Rei do Baião. Sou até suspeito para falar de Gonzaga. Porque a gente vive Gonzaga, a gente respira Gonzaga. Lá em Caruaru, somos todos Gonzagas”, diz Adélio.

“Eu sempre conheci Gonzaga como Rei do Baião, como sanfoneiro. Conheci a música dele antes de conhecer a figura. A primeira lembrança que tenho de Gonzaga se confunde com o meu avô, que era sanfoneiro. Isso veio entrando na minha vida de uma forma orgânica”, conta Chambinho.

Ele também ressalta a importância que assumir um papel como este teve em sua vida. “Entrei no filme para interpretar o Gonzaga, a pessoa que urbanizou a música que permite que eu leve o pão de cada dia para casa. No meu pensamento, tinha que ter pelo menos um sanfoneiro entre esses três atores. A nossa sorte é que o diretor era o Breno, que é muito corajoso”, diz o músico, que passou por um processo de preparação intenso.

A ligação com Gonzaga também existia para Land, que interpreta o sanfoneiro quando jovem, dos 17 aos 23 anos, mesmo que o ator não tenha se dado conta no início. “Sou mineiro e meus avós adoravam um ‘forrozinho’, ouviam muito e eu cresci ouvindo isso. Só que não sabia quem cantava. Quando fui pesquisar sobre o personagem, fui vendo que as músicas da minha infância inteira eram do cara”, conta.

“Acho que tinha alguma coisa de Gonzaga nos três. Uma alma ‘gonzaguiana’ no sorriso de um, no jeito de tocar do outro, na ‘matutês’ do outro”, diz Chambinho.

A opção por atores pouco ou nada experimentados parece se encaixar na intenção de Breno de imprimir autenticidade e naturalidade ao filme. “A gente tentou ao máximo ser autêntico, que é o que o Breno queria”, afirma Adélio. Ele ressalta que o diretor “puxa muito”, mas também torce e comemora quando as coisas dão certo.

Emocionado, Adélio conta como foi gravar a última cena do filme, uma conversa de muita intensidade emocional entre o Gonzaga velho e Gonzaguinha (Júlio Andrade).

“Na última cena, precisei de alguns minutos”, conta ele, com a voz embargada. “Eu saí, fui fumar e voltei com uma determinação, que era mais uma vez fazer meu pai”, ele faz uma pausa, para recuperar a voz. “Isso aí foi uma homenagem póstuma a meu pai. Tudo que você viu no filme é meu pai. Então, antes de voltar a filmar, Breno chega no meu ouvido e diz ‘Eu quero ver seu pai agora’. O que que eu posso mais falar?”.

Se era esta emoção que Breno queria imprimir ao filme, parece que conseguiu.

TRAILER DO FILME "GONZAGA - DE PAI PARA FILHO"