Topo

Filme tcheco "Alois Nebel" mistura alucinações e guerra num impecável trabalho de animação

Cena da animação tcheca "Alois Nebel", de Tomás Lunák - Divulgação
Cena da animação tcheca "Alois Nebel", de Tomás Lunák Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, em São Paulo

27/10/2012 05h00

A animação em rotoscopia -- a técnica pela qual se desenha sobre imagens previamente filmadas -- ganha um capítulo à parte com o filme tcheco “Alois Nebel”, que integra a seleção da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa é uma adaptação animada da trilogia de histórias em quadrinhos criada por Jaroslav Rudiš e Jaromír 99 sobre a vida de um ferroviário na Tchecoslováquia do fim dos anos 1980.

O personagem-título vive numa pequena cidade próximo à fronteira com a Polônia, numa época em que a Cortina de Ferro está prestes a deixar de existir. Sua vida comum, programada com a precisão de um relógio obsessivo, reprisada como os horários dos trens, que ele repete a esmo,  é transformada quando Alois Nebel começa a sofrer de alucinações que misturam presente e passado, sonho e realidade.

Se existe uma certa burocracia na condução da trama, meio malabarista e um tanto complexa, o trabalho de animação em si é fabuloso. Totalmente realizado em preto e branco, o filme tem alguns dos melhores jogos de luz e sombra que o cinema produziu nos últimos tempos. Jogos que traduzem bem o estado de delírio em que vive o personagem principal e que abrem espaço para que os flashbacks sejam inseridos sem trauma à trama.

A República Tcheca, numa decisão corajosa, escolheu a animação para representar o país na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro no ano passado. O longa não foi um dos finalistas, mas ganhou repercussão internacional e recebeu vários prêmios e indicações ao “Oscar tcheco”. A mais surpreendente foi a de melhor ator coadjuvante para Karel Roden, que interpreta “O Mudo”. Roden pode ser visto em carne-e-osso como o homem com poderes místicos no longa “Quatro Sóis”, também selecionado para a Mostra.

A costura da trama atual a fatos acontecidos na Segunda Guerra Mundial guardam algumas obviedades e lugares comuns, mas o problema parece ser anterior ao filme. Embora a inexperiência do diretor Tomás Lunák, em seu primeiro longa, apareça na falta de fluidez e de clareza na resolução de alguns conflitos, “Alois Nebel” tem achados que dão pistas de que uma bela carreira vem por aí.

TRAILER ORIGINAL DA ANIMAÇÃO "ALOIS NEBEL", DE TOMÁS LUNÁK


Serviço

"Alois Nebel", de Tomás Lunák (República Tcheca)

Quando: sábado (27), às 19h
Onde: Shopping Cidade Jardim (Cinemark 6) - Avenida Magalhães de Castro, 12.000 - Morumbi (sessão 860)