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Filho de David Cronenberg estreia como diretor fazendo genérico do cinema do pai

Chico Fireman

Especial para o UOL, de São Paulo

30/10/2012 05h00

A herança cobra seu preço. O filho que escolhe a profissão do pai vive uma dicotomia: enquanto se aventura por uma área que sempre esteve ali, próxima, se sujeita à eterna comparação. Quando o pai em questão é um artista de renome o julgamento é bem mais cruel. Sofia Coppola surgiu no cinema à sombra de Francis Ford Coppola - foi massacrada como atriz -, mas, em sua carreira como diretora, procurou seguir um caminho próprio. Estabeleceu uma linguagem e um universo. Ganhou respeito e um Oscar.

Se Brandon Cronenberg não quisesse ser comparado com seu pai, que tivesse feito um filme bem diferente de “Antiviral”, um dos destaques da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O primeiro longa-metragem do canadense reúne tantos ecos e interferências do trabalho de David Cronenberg que é impossível dissociar um do outro. Embora pareça se esforçar para entregar um filme de impacto, Brandon fez um “genérico” do pai.

Cronenberg, o original, é um cineasta com uma assinatura muito forte. Suas marcas são reconhecidas facilmente: exames pessimistas da humanidade, linguagem visual transformando corpo e mente dos personagens, paixão pela ficção-científica. Quando Brandon cria uma trama envolvendo o comércio de vírus de famosos num futuro próximo, passeia pelos mesmos temas, visitando o mesmo universo e evocando inclusive alguns maneirismos que o pai já abandonou.  

E as referências não param por aí. O ator Caleb Landry Jones parece muito com Ronald Mlodzik, protagonista dos primeiros longas de David Cronenberg, inclusive no modelo econômico e apático de interpretação. Sarah Gadon também está em “Cosmópolis”, último filme do pai de Brandon.

Isso tudo poderia estar em segundo plano se “Antiviral” funcionasse como um só, mas a proposta do longa – a radicalização do culto às celebridades –, apesar de abrir uma discussão interessante, não se sustenta. O diretor recorre a simplificações e utiliza uma estética de choque para incomodar, jogando a falta de elaboração do roteiro para debaixo do tapete. A trama se dilui num papo pseudo-intelectual/filosófico/científico que deixa evidente a falta de experiência de Brandon para concluir sua reflexão.


Serviço:

"Antiviral" (2012, Estados Unidos, Canadá)

Quando: terça-feira (30), às 18h
Onde: CINESESC - Rua Augusta, 2075 - Jardim Paulista

Quando: quinta-feira (1º), às 15h
Onde: Cinemateca - Sala BNDES - Largo Senador Raul Cardoso, 207 - Vila Mariana