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O que os fãs podem esperar da nova trilogia "Star Wars" nas mãos da Disney

George Lucas em meio a personagens da Disney vestidos com trajes de "Star Wars" - Getty Images
George Lucas em meio a personagens da Disney vestidos com trajes de "Star Wars" Imagem: Getty Images

André Gordirro

Do UOL, em São Paulo

01/11/2012 05h00

Desde que Darth Vader revelou que era o pai de Luke Skywalker, os fãs de "Star Wars" não ficavam tão boquiabertos como nesta terça (30), quando George Lucas anunciou a venda da Lucasfilm para a Disney e – mais importante – que uma nova trilogia chegaria ao cinema, a começar pelo "Episódio VII", em 2015.

As especulações sobre como serão esses novos filmes estão voando mais rápido do que a própria Millennium Falcon; afinal de contas, Lucas jurava que jamais continuaria a saga no cinema – o que, de certa forma, não era mentira, pois ele passou o comando de "Star Wars" para a produtora Kathleen Kennedy, que terá a responsabilidade de escolher o diretor dos novos filmes. Mas que ninguém se iluda que, aposentado ou não, Lucas manterá o olho no boi que já foi seu e agora pasta em outros campos.

Além de uma nova trilogia, o anúncio deixou claro que haverá outros filmes, independentemente da contagem de “episódios”. E há uma série de TV live-action dormente ainda sob a antiga gestão da Lucasfilm. É sobre a nova trilogia e esses projetos paralelos que UOL encarna o mestre Yoda e tenta enxergar o futuro, sempre com as palavras do próprio personagem em mente: “sempre em movimento o futuro está.”

Episódios VII, VIII e IX

Os fãs nunca engoliram a balela que George Lucas tentou vender à época da Nova Trilogia (1999-2002-2005), de que a saga sempre foi pensada como seis filmes sobre a família Skywalker. Entrevistas antigas, de 1978, revelam que ele considerou inicialmente 12 filmes – quatro trilogias – e que rascunhou sinopses para cada um dos episódios. Posteriormente, quando a história ganhou corpo na mente e no papel, o cineasta fechou a conta em nove longas-metragens. O que virá agora será exatamente esta trilogia final. Mas que história ela contará?

Para decepção de muita gente, é praticamente impossível que os Episódios VII, VIII e IX sejam baseados na trilogia de livros “Herdeiros do Império”, de Timothy Zahn (lançados no Brasil nos anos 1990 pela editora Best Seller e hoje fora de catálogo). Lucas sempre olhou com desdém para o material licenciado pela Lucasfilm (livros, quadrinhos, games) e, como dito, já deixou algo planejado de próprio punho.

Além disso, “Herdeiros do Império” se passa cinco anos depois dos eventos de "O Retorno de Jedi", o que implicaria em chamar novos atores para os papéis de Harrison Ford, Carrie Fisher e Mark Hamill e correr o risco de aumentar a ira dos velhos fãs, já tão destratados pelos rumos da Nova Trilogia. Outro fator contra é que esses personagens não teriam apelo para uma nova geração de fãs – hoje as crianças que crescem vendo "Clone Wars" identificam a saga com Anakin, Obi-Wan, Asoka e o capitão Rex, e não com Han, Luke e Leia.

O mais provável é que os Episódios VII, VIII e IX se passem 20 anos depois do encerramento da Trilogia Clássica (mesmo período de tempo que a separa da Nova Trilogia) e apresentem outra geração de heróis com uma nova “guerra nas estrelas” a ser vencida. E, com essa separação cronológica, é plenamente viável o envolvimento, em algum aspecto, de Harrison Ford, Carrie Fisher e Mark Hamill em participações especiais ou até mesmo como parte fundamental da trama.

Desde Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal que George Lucas e Harrison Ford apararam as arestas do relaciomento conturbado, e Mark Hamill nunca chegou a romper com o criador de Luke; Carrie Fisher jamais se furtou a participar de homenagens a Lucas, mas é um caso mais difícil pela personalidade e vida pessoal atribuladas.

Para deixar a possibilidade mais clara, em uma entrevista datada de 2004, Mark Hamill se recordou de uma conversa entre ele e George Lucas ocorrida em 1976, durante as filmagens de "Star Wars", na Tunísia. No papo, o cineasta perguntou ao então jovem ator se ele não gostaria de fazer uma participação especial em um “Episódio X”, em 2011 (segundo a ideia original de 12 filmes), no qual atuaria como um “Obi-Wan Kenobi passando o sabre de luz para a próxima nova esperança.” Será que uma miragem no deserto provocou esta visão da Força?

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  • Anunciada nesta terça-feira (30), a aquisição da LucasFilms pela Disney por US$ 4,05 bilhões inclui também a LucasArts, produtora de games como "Kinect Star Wars" e "Star Wars 1313", previsto para 2013.

Projetos paralelos
A Lucasfilm tem na gaveta cerca de 100 roteiros para uma série de TV live-action ambientada nas duas décadas que separam a Nova Trilogia da Trilogia Clássica, o período conhecido como Ascensão do Império. Lucas já deixou claro que o foco seria o ambiente criminoso da galáxia, com Boba Fett sendo um dos protagonistas. Há tempos, a Lucasfilm alegava o alto custo de produção como impeditivo para o projeto andar; até porque a empresa é uma produtora, e não um estúdio, e bancaria tudo sozinha para depois vender a série para alguma emissora. Agora, com a Disney envolvida, a série de TV teria estrutura de produção e exibição garantidas, pois o estúdio de cinema é dono da rede ABC (a casa de Lost, Grey's Anatomy etc).

Esse é o único projeto concreto em que a Lucasfilm vem trabalhando abertamente há anos, mas não quer dizer que seja o único de fato. A própria venda da empresa para a Disney e a ideia de uma nova trilogia não surgiram ontem; tudo foi trabalhado em segredo e já deve haver mais coisas concretas sobre os Episódios VII, VIII e IX do que os fãs imaginam. Uma coisa é certa: a Disney deve tomar cuidado para não gerar uma overdose de "Star Wars" e assim garantir uma exploração longeva da marca.

Quando a Lucasfilm esteve no comando, sempre houve um cuidado de cativar o público por gerações: a Nova Trilogia foi voltada para um público, e depois veio "Clone Wars" com outra proposta e outro apelo. O desenho animado provavelmente acabará antes de "Episódio VII" estrear, encerrando assim o ciclo de Anakin/Darth Vader. A (nova) nova trilogia terá a responsabilidade de falar com uma nova geração, que cresceu com "Clone Wars" e que será devidamente explorada pela Disney em projetos futuros, possivelmente programados para depois de seu encerramento, em 2021 (considerando os três anos que sempre separam cada episódio de "Star Wars").

Mas a competência da Disney na seara da animação e o sucesso de "Clone Wars" no formato levam a especular que projetos difíceis como uma adaptação de “Herdeiros do Império” ou de sagas dos videogames como "The Force Unleashed" e "The Old Republic" ganhem versões animadas em vez de live-action, deixando este holofote para os Episódios VII, VIII e IX e a série de TV com atores de carne e osso. A Lucasfilm promete novas informações constantes no site oficial da saga, StarWars.com.

E que o fã fique tranquilo quanto à influência Disney sobre o universo de Star Wars. Afinal, a mesma Disney é dona da Marvel e não deu um pio quanto a realização de "Os Vingadores" ou ao andamento dos quadrinhos da editora. Se há de se ter uma esperança de influência positiva, seria o envolvimento do nerd-mor Joss Wheddon (diretor de "Os Vingadores") com a saga, o sonho molhado de dez entre dez fãs.

Mas é preciso lembrar que as decisões artísticas sobre "Star Wars" agora estão nas mãos de Kathleen Kennedy, que já produziu longas-metragens com Steven Spielberg (principalmente), David Fincher, Robert Zemeckis, M. Night Shyamalan, Frank Oz (a voz e o manipulador de Yoda) e Richard Donner. Ainda na fase de pré-produção de "Episódio I", Lucas chegou a convidar Spielberg para dirigir a retomada da saga; o amigo se recusou, dizendo que “Star Wars era uma coisa dele (de Lucas)”. Agora com a velha colaboradora Kathleen Kennedy no comando, e em posição de ter mais autonomia, não é um devaneio imaginar que Spielberg possa repensar a decisão, se tiver nova chance.

O futuro à Força pertence.