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Em entrevista à "Playboy", Tarantino fala sobre "Django" e diz que usa maconha para relaxar

O diretor Quentin Tarantino durante filmagens de "Django Livre", seu novo longa. O filme estreia no Brasil em 18 de janeiro de 2013 - Divulgação/Sony Pictures
O diretor Quentin Tarantino durante filmagens de "Django Livre", seu novo longa. O filme estreia no Brasil em 18 de janeiro de 2013 Imagem: Divulgação/Sony Pictures

Do UOL, em São Paulo

15/11/2012 19h48

Com a estreia de "Django Livre" nos Estados Unidos se aproximando, cresce o interesse em Quentin Tarantino e em qual nova maneira ele escolheu para surpreender o público.

Na esteira desta expectativa, o cineasta concedeu uma longa entrevista  à revista "Playboy" americana, em que fala sobre o novo filme, carreira, envelhecimento, drogas e outros assuntos, além de afirmar que não se sente mais um estrangeiro em Hollywood e que ficou feliz em saber que "Django Livre" é um dos filmes mais aguardados do ano.

Lembrado da polêmica sobre ter fumado maconha com Brad Pitt antes do ator aceitar participar de "Bastardos Inglórios", o cineasta negou que as drogas tenham impacto em seu processo criativo, quando escreve ou dirige.

"Eu não faria nada fora de mim ao fazer um filme. Eu não escrevo muito chapado, mas digamos que eu esteja pensando em uma sequência musical. Você fuma um baseado, coloca uma música, ouve e vem com algumas boas ideias. Ou talvez você está relaxando no fim do dia e você fuma maconha, e, de repente, você está tecendo uma teia sobre o que você acabou de fazer. Talvez você venha com uma boa ideia. Talvez ela só pareça boa porque você está chapado, mas você escreve e olha no dia seguinte. Às vezes é ótima. Eu não preciso de maconha para escrever, mas é legal. Fazer este filme foi realmente difícil. O fim de semana vem e tudo o que eu quero fazer é fumar até vegetar. É só para desligar", conta Tarantino.

Eu não preciso de maconha para escrever, mas é legal.

Quentin Tarantino, em entrevista à "Playboy" americana

Sobre a questão da escravidão em "Django Livre", Tarantino diz que para além da precisão histórica, o que o interessou foi o aspecto comercial. "O que eu estava interessado sobre a escravidão era o aspecto do negócio: os seres humanos como escravos, como isso funcionava? Quanto eles custavam? Quantos escravos uma pessoa média no Mississipi tinha? Como casas de leilão funcionavam? Quais eram os estratos sociais dentro de uma plantação?".

Tarantino comentou o fato de que originalmente havia pensado em Wil Smith para interpretar o protagonista e contou que passaram várias horas juntos quando Smith estava em Nova York filmando "Homens de Preto 3". "Nós lemos o roteiro e falamos sobre ele. Eu me diverti --ele é um cara inteligente, legal. Acho que metade do processo foi uma desculpa para nós passarmos um tempo juntos. Eu tinha acabado de terminar o roteiro. Foi legal falar com alguém que não era contido sobre o que tinha a dizer".

Ele [DiCaprio] gosta da minha escrita e se assegura de receber uma cópia dos roteiros quando eu termino, para ver se há alguma coisa que possa interessá-lo. Ele recebeu este e realmente gosteu de Calvin Candie.

Quentin Tarantino, em entrevista à "Playboy" americana

Segundo o diretor, Smith acabou não ficando com o papel porque nem ele nem Tarantino estavam certos sobre a decisão. No fim, Django acabou sendo interpretado por Jamie Foxx porque ele "era o caubói".

Tarantino também contou que outro papel do filme, o do vilão Calvin Candie, acabou indo para Leonardo DiCaprio porque o ator sempre está de olho no que o cineasta faz. "Leo e eu nos conhecemos há 15 anos, e ele gosta da minha escrita e se assegura de receber uma cópia dos roteiros quando eu termino, para ver se há alguma coisa que possa interessá-lo. Ele recebeu este e realmente gosteu de Calvin Candie".

Além de ser a primeira parceria dos dois artistas, calvin Candie também é o primeiro vilão de sua autoria que o cineasta não gosta. "Ele é o primeiro vilão que eu já escrevi que eu não gostei. Eu odiei Candie, e eu normalmente gosto dos meus vilões, não importa o quanto elas são ruins. Eu vejo o seu ponto de vista. Eu podia ver o ponto de vista dele, mas eu o odiava tanto. Pela primeira vez como escritor, eu só odiava esse cara", diz Tarantino.

Questionado sobre sua afirmação de que se aposentaria aos 60 anos, Tarantino, que hoje está com 49, disse que não quer ser um cineasta velho. "Diretores não ficam melhores à medida que envelhecem. Normalmente, os piores filmes em sua filmografia são os quatro últimos. Eu me preocupo com a minha filmografia e um filme ruim acaba com três bons. Quando os diretores saem de moda, não é bonito".

Com uma filmografia tão calcada na violência, é natural que Tarantino seja questionado sobre o debate que coloca os filmes como glorificadores da violência. Perguntado se repenseou seu trabalho depois do o massacre ocorrido em Aurora, no Colorado, quando um atirador abriu fogo contra a plateia durante uma sessão de "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o diretor disse que não.

"Não, porque eu acho que o cara era um louco. Ele foi lá para matar um monte de gente, porque ele sabia que haveria um monte de gente lá e que ia se tornar uma grande notícia ao fazê-lo. Isso não é diferente de um cara que entra em um McDonald's atirando nas pessoas na hora do almoço porque ele sabe que um monte de gente vai estar lá", afirmou. E completou: "Eu nunca entro nessa discussão porque ninguém tem essa discussão comigo. [risos] Eles conhecem as minhas origens. Eu faço filmes violentos. Eu gosto de filmes violentos. Eu falo abertamente sobre o que sinto, não há correlação entre a arte e a vida dessa forma".