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Com espírito feminista, cerimônia do Globo de Ouro 2013 teve surpresas em dose certa

A atriz Jessica Chastain, com o prêmio de melhor atriz em drama por "A Hora Mais Escura" - Lucy Nicholson/Reuters
A atriz Jessica Chastain, com o prêmio de melhor atriz em drama por "A Hora Mais Escura" Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

Ana Maria Bahiana

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

14/01/2013 04h52

Foi uma boa festa, com uma distribuição equilibrada de prêmios, a dose exata de surpresas, e duas anfitriãs -- Tina Fey e Amy Poehler -- que deixaram um gosto de “quero mais”. No final das contas, o favorito "Lincoln" rendeu prêmio apenas para Daniel Day-Lewis como melhor ator em dramas. Já "Argo" -- quase esnobado pela Academia já que Ben Affleck está fora da disputa de melhor diretor -- saiu-se como um dos grande vitoriosos da noite, levando as estatuetas de melhor filme de drama e melhor diretor.

O musical "Os Miseráveis", um favorito de primeira hora com os votantes da Associação de Imprensa Estrangeira, saiu-se com o maior número de estatuetas. Ao todo, foram três: melhor filme (comédia ou musical), melhor ator para Hugh Jackman e melhor atriz coadjuvante para Anne Hathaway.

Já "O Lado Bom da Vida", que fez campanha cerrada nas últimas semanas de votação, acabou ficando com um solitário Globo para a atriz Jennifer Lawrence. "Amour", um favorito imbatível este ano, levou melhor filme estrangeiro, e "Homeland", outra franca favorita, liderou na TV como melhor série de drama, além de arrematar os prêmios de melhor ator e atriz na mesma categoria.

O fato do corpo votante dos Globos ser pequeno -- 90 integrantes -- e variado explica a mistura de escolhas muito certinhas e conservadoras: Maggie Smith como melhor atriz coadjuvante em série de TV, Kevin Costner como melhor ator em minissérie, são exemplos.

As escolhas inesperadas na cerimônia do Globo de Ouro 2013 ficaram por conta da inovadora e controvertida série "Girls", da HBO – melhor série de comédia e melhor atriz na mesma categoria para a criadora Lena Dunham (veja trailer abaixo).

Houve um Globo para outra série repleta de controvérsia, "House of Lies",que ficou com o Globo de melhor ator em série de comédia, honra que ficou no colo de Don Cheadle.

Dois Globos -- melhor roteiro para Quentin Tarantino e melhor ator coadjuvante para Christoph Waltz -- foram para "Django Livre", um filme que vem dividindo críticos e plateias, mas que encontrou caminho livre na sensibilidade "estrangeira" da Associação.

Jessica Chastain foi lembrada como melhor atriz por "A Hora Mais Escura", um filme que tem provocado discussões na indústria. Com a vitória, Chastain aproveitou a oportunidade para defender a diretora Kathryn Bigelow e a importância da presença feminina “livre de estereótipos”, na frente e atrás das câmeras.

Na verdade, o tom da festa foi dado pelas mulheres: das vitoriosas Jessica, Adele (em sua primeira aparição pós-bebê), Lena, Anne, Jennifer, Claire às apresentadoras Tina Fey e Amy Poehler, que arrancaram gargalhadas sonoras da seletíssima plateia do International Ballroom, fazendo graça de si mesmas e dos absurdos da vida dos famosos em Hollywood.

Tudo isso sem a maldade e o rancor que Ricky Gervais distribuía no passado. Se houve alguma reclamação, foi a de que as apresentadoras apareceram pouco -- nem que tenha sido para, num momento inspirado e bem de acordo com o clima feminista da noite, chamar o ex-presidente Bill Clinton, apresentador do clipe de "Lincoln", de “o marido de Hillary Clinton”.

E, em oposição ao que costuma acontecer com prêmios honorários, quase sempre mornos e burocráticos, Jodie Foster fez um longo e passional discurso ao recebero troféu Cecil B de Mille pelo conjunto de sua carreira. A atriz, que celebrou estar com 50 anos de idade, tocou em temas que em geral são tabu nesta cidade como sexualidade (“eu saí do armário muito tempo atrás, na idade da pedra”) e privacidade ( “essa coisa tão delicada, tão rara”).

Neste momento, quando as festas pós-Globos ainda acontecem, a alegria de Tina e Amy e o discurso de Jodie são as coisas mais comentadas de uma noite que teve o melhor da tradicional premiação: surpresas, celebração, alegria, um clima que evoca os velhos tempos de Hollywood, mas traz também temas e riscos do século 21.