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Woody Allen apresenta 'comédia triste' em Cannes

A atriz Lucy Punch, o diretor Woody Allen e a atriz Naomi Watts posam na sessão de fotos do filme "You Will Meet a Tall Dark Stranger" - Reuters
A atriz Lucy Punch, o diretor Woody Allen e a atriz Naomi Watts posam na sessão de fotos do filme "You Will Meet a Tall Dark Stranger" Imagem: Reuters

15/05/2010 12h53

Alicia García de Francisco.

Cannes (França) - O cineasta Woody Allen apresentou hoje no Festival de Cannes seu último filme, "You Will Meet a Tall Dark Stranger" (ainda sem título em português), uma 'comédia triste' que mostra a desesperada busca da felicidade através do mais absurdo, muitas vezes da loucura.

O filme, que está fora de concurso, não mostra nada de muito novo no diretor nova-iorquino, mas permite ver que ele passa confiando em um cinema quase artesanal, com bons diálogos e uma cena ou outra brilhante.

Apesar da ironia e da paródia - ou precisamente por isso -, Woody Allen mostrou um filme um tanto triste. O diretor chegou a dizer estar "muito preocupado", justamente por saber que as pessoas poderiam não gostar dessa tristeza.

"Todos os personagens estão perdidos", contou, e só os dois que podem ser considerados loucos conseguirão ser felizes.

Misto de personagens e de relações entre eles, como a maioria de seus filmes, "You Will Meet a Tall Dark Stranger" conta a história de um casal que se divorcia (Anthony Hopkins e Gemma Jones) e da filha deles (Naomi Watts), que tem uma relação complicada com o marido (Josh Brolin) e o chefe (Antonio Banderas).

Fala ainda de como o marido da filha busca consolo em outra mulher, enquanto sua esposa não consegue repetir o mesmo. Nesse cenário, aparece um escritor fracassado, o mesmo marido, um livro roubado e muita arte.

O esquema narrativo pode ser visto em muitos filmes de Woody Allen, que quase sempre se baseia nos problemas entre homens e mulheres.

"Sinto que a vida é algo instável e ameaçador, com gente que procura algo desesperadamente, como a religião. Acham que tem de haver algum significado, algum céu, alguma recompensa", comentou o diretor em Cannes.

Nos Estados Unidos, explica, as pessoas estão desesperadas por uma nova religião, que é a medicina alternativa, ou pela aromaterapia ou pelos alimentos saudáveis. "É absurdo e sem sentido", continua.

Segundo ele, as pessoas estão desesperadas por algo a que se agarrar e, para esse tipo de gente, recorrer a um clarividente é às vezes a melhor opção.

E é isso o que acontece na vida dos dois principais personagens de seu filme, dois loucos que acreditam em vidas passadas e que provavelmente são os mais felizes da galeria mostrada no filme.

O título, "você encontrará um homem alto e escuro" em tradução livre, é uma brincadeira de Woody Allen com o tipo de frase dita por videntes a mulheres que buscam saber seu futuro amoroso.

Na opinião do diretor, porém, é possível ver no nome do longa outro significado, muito mais triste.

"É um símbolo da mortalidade", explica muito sério o diretor. "Cedo ou tarde, alguém vai bater na sua porta. Um tipo alto e estranho que quer ter levar com ele", completou.

Woody Allen conta que, enquanto há diretores interessados em atualidades, como Oliver Stone, ele prefere temas que entram em uma "área mais filosófica por acidente".

O diretor é adorado pelos atores com quem trabalha, como demonstraram hoje em entrevista coletiva Josh Brolin, Naomi Watts, Gemma Jones e Lucy Punch.

Jones, que compõe o melhor personagem do filme, destacou a "confiança" que recebeu de Woody Allen para fazer seu trabalho, enquanto Punch ressaltou a liberdade que teve em cena.

Normalmente, o diretor não costuma pensar em nenhum ator concretamente na hora de escrever um roteiro, mas nesse caso lembrou um pouco de Josh Brolin e Anthony Hopkins, ainda que com pouca esperança de que pudessem estar no filme.

"Mas habitualmente não penso em pessoas específicas quando estou no meio do roteiro", acrescentou Woody Allen, que, no entanto, disse ter claro com quem gostaria de trabalhar no futuro: Cate Blanchett e Reese Whiterspoon.