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"Lope" busca aparecer para o mundo em Veneza

Alberto Ammann (Lope de Vega) e Sonia Braga em cena do filme ""Lope"" - Divulgação
Alberto Ammann (Lope de Vega) e Sonia Braga em cena do filme ''Lope'' Imagem: Divulgação

Mateo Sancho Cardiel

De Veneza

11/09/2010 10h55

Após sua passagem mediana pelas bilheterias espanholas, "Lope", o filme que conta a vida de Lope de Vega, dirigido por Andrucha Waddington e protagonizado por Alberto Ammann, Leonor Watling e Pilar López de Ayala, busca aparecer para o mundo em Veneza.

"Lope", mais que mostrar as reviravoltas da literatura espanhola, tem uma linguagem universal graças à história de "um jovem em busca de seu lugar no mundo, virando adulto", explica em entrevista à Agência Efe, Andrucha Waddington.

Agora que será exibido ao público internacional no Festival e com as malas prontas para Toronto, o cineasta confia que o filme "dialogará com qualquer tipo de público", acrescenta.

As quebras de barreiras temporais e espaciais são a essência do filme, dirigido pelo brasileiro e protagonizado por um argentino que interpreta um dos mais célebres dramaturgos do Século de Ouro espanhol.

"Os Estados Unidos sempre importaram talentos, porque o cinema é uma linguagem universal. Agora as coproduções estão chegando finalmente às indústrias cinematográficas que estavam mais fechadas", explica Waddington.

E se o mexicano Guillermo del Toro realizou um dos olhares mais originais sobre a guerra civil espanhola em "O Labirinto do Fauno", por que não confiar no prisma do diretor de "Casa de Areia"?

"Tenho que reconhecer que Lope de Vega era um universo desconhecido para mim até iniciar este projeto em 2005", diz. Mas agora me somo à legião de leitores de obras como "La Dama Boba" ou "El Perro del Hortelano", ambos sem título em português. "Lope desenvolveu a capacidade de juntar drama e comédia antes de Shakespeare".

TRAILER DE "LOPE"

Hoje em Veneza também se apresenta o filme "The Tempest", baseado na obra do escritor inglês e dirigido por Julie Taymor. E a proposta da diretora de "Frida" está na antítese de Waddington.

"Nos filmes de época, muitas vezes os atores, pela linguagem, ficam frios, um pouco artificiais. Nós tentamos fazer personagens atuais, porque os tempos mudaram a maneira de vestir e de falar, mas a essência do homem é a mesma", explica.

Waddington se considera um privilegiado por ter contado com oito semanas de testes de leitura do roteiro e com um orçamento folgado. "A única diferença de quando se está em uma grande produção é que é necessário se preparar muito antes de filmar para que no set só seja importante o de sempre: atores e roteiro", explica.

E o roteiro é centrado, principalmente, no triângulo amoroso entre Lope de Vega, Elena Osorio, interpretada por Pilar López de Ayala, e Isabel de Urbina, vivida por Leonor Watling. Dois tipos diferentes de amor, um mais imperativo e outro mais sereno, que vai descobrindo o caminho da maturidade.

Pilar volta aos filmes de época, como o que lhe deu visibilidade, "Joana, a Louca", mas qualifica sua personagem. "Acho que Elena consegue encontrar sua liberdade, apesar do aparato da sociedade em que vive. Ela quer fazer as coisas da sua maneira", explicou em entrevista à Efe. "Procurava um jeito de transgredir os limites impostos por seu pai que a utiliza como moeda de troca", reforça.

Em Veneza, Pilar se sente em casa. Há dois anos esteve em competição com o filme "Na Cidade de Sylvia", de José Luis Guerín, que este ano apresentou "Guest", além de "O Estranho Caso de Angélica", dirigido por Manoel De Oliveira, que apresentou seu novo curta ao 101 anos.

Os três se encontrarão? "Adoraria estar nessa reunião... e tenho muita vontade de ver os trabalhos de ambos", assegura. A atriz, fã dos diretores, se inspira em Lope: "Para mim a poesia é uma maneira de entender a vida. Trabalhei com poetas que fazem cinema".

Dessa forma, seus próximos versos serão rimados com os do argentino Gustavo Taretto, em "Medianeiras", e Juan Carlos Fresnadillo, com quem roda "Intruders", "um filme sobre os medos que herdamos e sobre a maneira como nossa imaginação nos influencia para criarmos coisas mais maravilhosas, mas também que podem nos destruir".