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Em "Marmaduke", o mundo é visto pelos olhos dos cães

03/06/2010 13h25

SÃO PAULO (Reuters) - Criado na década de 1950 pelo cartunista americano Brad Anderson, o personagem Marmaduke é um cão dinamarquês expansivo e desastrado que alegra - e inferniza - a vida da família Winslow.

Como comédia de situação, todo o humor do quadrinho se resume ao grande porte do cachorro, sua indiferença ante os problemas que acarreta e a ironia com que seus donos reagem.

No entanto, o filme homônimo, que estreia em circuito nacional apenas em cópias dubladas, nesta quinta-feira, subverte um pouco esse equilíbrio. Dirigida pelo americano Tom Dey, responsável pelos fracos "Armações do Amor" e "Bater ou Correr", a produção dá voz (dublada no original pelo ator Owen Wilson, de "Marley & Eu") e personalidade a Marmaduke, que passa a narrador de sua própria história.

Já no início, o cão apresenta sua família aos espectadores: além dos pais, Phil (Lee Pace, da série de TV "Pushing Daisies") e Debbie (Judy Greer, "De Repente 30"), os Winslow contam também com as crianças Barbara, Brian e Mandy, e o gato Carlos (voz de George Lopez). Por mais que não converse com os humanos, as relações entre eles, enfim, se invertem: a opinião que prevalece é sempre a do cachorro.

Os demais, neste contexto, passam a ser apenas uma escada para a história de Marmaduke. Quando Phil se vê obrigado a mudar do Kansas para a Califórnia, a trama-base passa a ser a trajetória do desajeitado cão para conquistar seu espaço no parque em que, agora, é levado a passear.

O local é um simulacro elaborado a partir do que há de mais caricato nas perversas relações entre adolescentes nas escolas americanas. Nos diferentes grupos caninos encontrados ali é transparente a comparação. Há os esportistas (que correm o tempo inteiro atrás da bola), as chefes de torcida, os bagunceiros, os chapados, os ricos populares (cachorros com pedigree) e os independentes descolados, dos quais Marmaduke faz parte.

As relações de poder dentro do mundo animal tornam-se tensas quando o protagonista se apaixona pela cadelinha Jezebel (dublada pela cantora Fergie), namorada do cão Alfa. O dinamarquês deverá mostrar seu valor dentro da matilha, ao mesmo tempo em que passa por um edificante processo de crescimento interno.

Voltada estritamente ao público infantil, a produção perde um pouco do humor mais sofisticado que acompanhava os quadrinhos de Brad Anderson. Ao dar mais atenção à mensagem moral explícita em seu desfecho, perde a irreverência que poderia tornar a trama mais interessante para toda a família. Nesse quesito, Marley (de "Marley & Eu") sai-se muito melhor, mesmo sem dizer uma palavra.

(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb