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"Flor do Deserto" aborda mutilação feminina na África

Waris Dirie (Liya Kebede) e Marylin (Sally Hawkins) fazem pose no corredor de um hotel em "Flor do Deserto" - Divulgação
Waris Dirie (Liya Kebede) e Marylin (Sally Hawkins) fazem pose no corredor de um hotel em "Flor do Deserto" Imagem: Divulgação

24/06/2010 14h44

SÃO PAULO  - "Flor do Deserto", que estreia nesta sexta-feira em circuito nacional, conta uma história de superação e sucesso. Poderia ser mais um filme em meio a tantos outros com a mesma temática, não fosse a sua força ao tocar num assunto bastante controverso e pouco debatido: a mutilação genital feminina em países da África.

O enredo baseia-se na vida e no romance autobiográfico da modelo somali Waris Dirie, que aqui é interpretada pela modelo Liya Kebede ("O Bom Pastor"). No começo do filme, Waris é uma garota perdida pelas ruas de Londres usando um figurino típico de seu país. Assim, é vista como mais uma criatura estranha e sem rumo pelas ruas da capital inglesa.

A história de Waris começa a mudar quando conhece uma vendedora que sonha em ser bailarina, chamada Marilyn e interpretada por Sally Hawkins ("Sempre Feliz"). Meio a contragosto, ela acaba hospedando a somali em seu minúsculo quarto numa pensão feminina comandada por uma indiana linha-dura.

Trabalhando numa lanchonete, a beleza de Waris é notada por um fotógrafo famoso (Timothy Spall, de "Harry Potter e o Enigma do Príncipe"). O mundo se abre para a moça, que se transforma numa das modelos mais requisitadas por sua beleza exótica - mas problemas com imigração atrapalham sua carreira.

Outras boas almas (algumas nem tanto) cruzam o caminho da modelo em sua jornada, como a agente vivida por Juliette Stevenson ("Invasão de Domicílio"), que vê na moça um bom investimento, por isso financia o começo de sua carreira.

Ao longo de "Flor do Deserto", alguns flashbacks contam o passado de Waris na África e sua fuga para a Inglaterra, onde, quando chegou, ficou fechada na casa de um cônsul trabalhando como empregada.

Dirigido pela norte-americana Sherry Horman, "Flor do Deserto" não tem maior criatividade ou ousadia, seguindo uma narrativa convencional. No entanto, a história de Waris, que está ao centro do filme, transcende por levar ao grande público uma questão tão complexa quanto negligenciada.

Atualmente com 45 anos, Waris Dirie dirige uma fundação que luta contra a circuncisão feminina na África. Tanto seu livro tanto quanto o filme servem como alerta para a crueldade que ainda acontece no mundo contemporâneo e no pouco que se faz para eliminar o bárbaro costume de algumas comunidades.

Embora eficiente nesse quesito, o tratamento de "Flor do Deserto" não tem o mesmo impacto de "Moolaadé", do diretor senegalês Ousmane Sembene - exibido no Brasil apenas em festivais.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb