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História secreta de Mussolini jovem conduz "Vincere"

Cena do filme "Vincere", sobre amante secreta de Mussolini - Reprodução
Cena do filme "Vincere", sobre amante secreta de Mussolini Imagem: Reprodução

22/07/2010 14h12

SÃO PAULO - Concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2009, o drama histórico "Vincere", do veterano cineasta Marco Bellocchio ("Bom Dia, Noite") resgata um episódio banido da biografia oficial do primeiro-ministro italiano Benito Mussolini, ou seja, a presença de uma mulher, Ida Dalser (Giovanna Mezzogiorno), que foi sua amante e mãe de um filho seu. O filme estreia apenas em São Paulo.

Seguindo um roteiro assinado pelo próprio Bellocchio e por Daniela Ceselli, Ida conheceu Mussolini quando este ainda era um jovem jornalista socialista (interpretado por Filippo Timi).

Mulher independente, ela vendeu tudo o que tinha para financiar um jornal do futuro governante fascista. Quando este retorna da 1a Guerra Mundial, onde lutou, em vez de juntar-se a Ida, que tivera um filho dele, ele se reúne à esposa (Michela Cescon) e demais filhos, cuja existência era desconhecida de Ida. Logo faz uma aliança com o então rei italiano, Vittorio Emanuele III, que sela sua ascensão ao poder.

Sóbrio e rigoroso, com uma escolha de cores sombrias, em que às vezes se coloca também um tom vermelho, "Vincere" empresta seu nome - mantido em italiano mesmo na distribuição do filme no Brasil - do lema fascista que cobra a vitória constante e a qualquer preço.

Amparado numa excelente direção de arte, de Briseide Siciliano, reconstitui a época com impressionante precisão, recuperando a estética dos filmes fascistas, com seus lemas grandiloquentes projetados em imensas letras maiúsculas em primeiro plano. Além disso, faz-se um uso consistente de bons materiais de arquivo.

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Um recurso extremamente eficaz é ter o ator Filippo Timi interpretando apenas o Benito jovem (e também, mais tarde, seu filho com Ida). O Mussolini no poder, aquele homem baixinho que gesticulava em seus discursos, é evocado em noticiários ou retratos da época. Assim sendo, o espectador do filme compartilha com Ida, no longo período em que foi confinada a um hospício, a visão limitada ao homem público projetado nessas imagens de mídia, que construíam o mito.

O homem privado abandonou Ida, perseguiu-a quando ela tentava reivindicar seus direitos e os do filho, negou sua relação e, depois, cancelou a própria existência dela na história oficial. O filho de ambos não teve sorte muito melhor.

Um dos poucos remanescentes ativos de uma das mais brilhantes gerações do cinema italiano, a que pertenceram Federico Fellini, Luchino Visconti, Elio Petri e Ettore Scola (este, ainda vivo, mas inativo), Bellocchio compõe um de seus melhores filmes políticos, no bom sentido da palavra, sete anos depois do magistral mergulho na tragédia das Brigadas Vermelhas, "Bom Dia, Noite" (2003).

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb