Topo

Drama "O Estranho em Mim" aborda crises da maternidade

Depois de ter um filho sadio, a protagonista de "O Estranho em Mim" sofre com depressão pós-parto - Divulgação
Depois de ter um filho sadio, a protagonista de "O Estranho em Mim" sofre com depressão pós-parto Imagem: Divulgação

05/08/2010 11h30

SÃO PAULO (Reuters) - Diz a sabedoria popular que "ser mãe é padecer no paraíso". Mas isso, às vezes, pode envolver uma passagem pelo purgatório, como bem mostra o drama "O Estranho em Mim", que entra em cartaz em São Paulo e Santos. Coescrito e dirigido pela alemã Emily Atef, em 2008, o longa levou o prêmio de melhor longa e atriz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo daquele ano.

"O estranho em mim" tem como tema algo tão delicado quanto raro de ser tratado no cinema: a depressão pós-parto. Há uma indagação central no filme quanto às expectativas sobre o papel de uma mãe na sociedade contemporânea. Um assunto que não tem sido exclusivo da era atual, mas agora fica mais evidente como a mulher é obrigada a se dividir em múltiplas funções em casa e no trabalho.

A atriz Susane Wolff é Rebecca, que, na faixa dos 30 anos, espera seu primeiro filho ao lado do marido, Julian (Johann von Bülow). O casal tem uma floricultura. Até o parto, a vida caminha nos eixos, mas a chegada do pequeno Lucas a transforma radicalmente. Nada parece estar direito, o bebê não consegue mamar, a mãe tem pouco leite, ele chora o tempo todo e ela não sabe o que fazer. Aos poucos, Rebecca sente que perde sua identidade como mulher para tornar-se apenas mãe.

ASSISTA AO TRAILER DE "O ESTRANHO EM MIM"

A questão é: como conciliar tudo isso? Como não ser apenas mãe, mas incorporar essa nova realidade à vida? Rebecca não sabe e isso a incomoda. Alguns episódios levam a personagem a separar-se do filho. O marido se volta contra ela. A mãe de Rebecca (Maren Kroymann, de "A onda") precisa vir do Canadá para a Alemanha especialmente para cuidar da filha nesse momento crítico.

Emily e sua corroteirista Esther Bernstorff buscam o que há de mais humano em seus personagens. Assim, não há bons ou maus, mas seres humanos com seus motivos. O que parece certo para alguns, é errado para outros. Julian culpa Rebecca e briga com ela, mas nem por isso torna-se um monstro. Aliás, nem ela. A forma como a personagem é apresentada faz com que o público torça pela sua recuperação.

No fundo, "O estranho em mim" é mais um retrato de uma mãe-coragem, cujo maior inimigo é ela mesma. A interpretação contida de Susane Wolff traz um realismo benvindo a "O Estranho em mim", o que transforma a experiêbem-vindoncia de ver o filme em algo compensador.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb