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Em "Tropa 2", Nascimento continua osso duro de roer

Levado ao cargo de susecretário de Segurança Pública do Rio, Nascimento enfrenta inimigos nas altas esferas - Divulgação
Levado ao cargo de susecretário de Segurança Pública do Rio, Nascimento enfrenta inimigos nas altas esferas Imagem: Divulgação

07/10/2010 14h02

Você pode tirar o capitão Nascimento do Bope (Batalhão de Operações Especiais), mas não pode tirar o Bope do Capitão Nascimento. Essa é a premissa de "Tropa de Elite 2", que chega aos cinemas de todo o país nesta sexta-feira.

Trata-se do maior lançamento para um filme brasileiro até agora e promete, como o primeiro filme de 2007, ser uma das maiores bilheterias nacionais do ano, além de causar muita polêmica e até algum debate.

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A controvérsia do segundo filme segue de carona naquela causada pelo primeiro que, em 2008, levou o Urso de Ouro em Berlim. Há questionamentos sobre o papel do governo, da miséria e do tráfico na violência no Rio de Janeiro e no Brasil. Não por acaso, numa das cenas em que os personagens vão ao cinema, todos os filmes em cartaz são do diretor Costa-Gavras, presidente do júri de Berlim que consagrou o primeiro "Tropa de Elite".

O filme abre com um letreiro alertando o espectador que, "apesar das possíveis coincidências com a realidade, esta é uma obra de ficção". Um toque de cinismo que parece dissolver-se ao longo das duas horas de boa e velha ultraviolência -- que, em momentos catárticos, com jorros de sangue e profusão de cadáveres, parece materializar um desejo latente de parte da platéia.

ASSISTA AO BATE-PAPO COM O DIRETOR JOSÉ PADILHA SOBRE ''TROPA DE ELITE 2''

Nascimento (Wagner Moura, que acaba de ser premiado no Festival do Rio como melhor ator em "VIPs") já não usa mais a farda preta do Bope. Sua roupa de trabalho em "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro" passa a ser o terno e a gravata, quando é promovido ao posto de sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, numa manobra do governo populista.

Como no filme original, uma narração em off reitera e explica tudo aquilo que é visto, num didatismo maçante, como se o diretor José Padilha não acreditasse apenas nas imagens e precisasse verbalizar a ação para que tudo fique bem claro. Especialmente nas primeiras cenas, quando introduz o ativista Diogo Fraga (Irandhir Santos, de "Quincas Berro D'água"), apresentado como um intelectual de esquerda, adorado pelos consumidores de maconha.

A grande ironia é que a ex-mulher de Nascimento, vivida por Maria Ribeiro, é casada com Fraga -- uma pessoa diametralmente oposta a Nascimento, que foi promovido a coronel. Mathias (André Ramiro), preparado por Nascimento para substituí-lo, traz a ideologia do Bope nas veias. Ele ignora a hierarquia, o que acaba causando um massacre em Bangu, dando início à trama do filme.

As trajetórias de Nascimento e Fraga caminham para um encontro. Poderia ser a humanização do primeiro e o endurecimento do segundo. No entanto, o ativista, que logo é eleito deputado, sempre é tratado como um fraco diante das atitudes extremadas do coronel que, às vezes, lembra Rambo.

Nascimento tenta não se curvar ao jogo político do governador e dos deputados que o usam como marionete. Mas seus métodos, eficientes apesar de questionáveis, lhe dão notoriedade e legitimidade.

"Se o eleitor estava dizendo que eu era herói, não ia ser o governador que ia dizer o contrário", diz. Entram em cena, também, milícias criadas e sustentadas por policiais corruptos, que operam um esquema de segurança informal, tomando o lugar dos traficantes à custa de muito medo.

Tudo isso é usado numa eleição, envolvendo governador e deputados. Parece sintomático, embora o diretor alegue que seja apenas uma coincidência a chegada do filme aos cinemas depois da reeleição de alguns governadores e às vésperas do segundo turno.

No roteiro, assinado por Padilha e Bráulio Mantovani, surgem frases de efeito - como "faca na caveira e porrada na vagabundagem" ou "terrorista não é gente" -- que saem da boca de um apresentador de TV espalhafatoso, enquanto Nascimento medita sobre os bastidores do poder e a corrupção.

Uma nota de desesperança permeia todo o filme e se concretiza no final, quando parece não haver solução para o país.

"No Brasil, eleição é negócio e o voto é a mercadoria mais valiosa da favela", diz o ex-capitão do Bope. Nascimento descobre isso a duras penas, ao perceber que algumas instituições em que acreditava são passíveis de corrupção. A ele não resta muita opção se quiser mudar o país. Qual o próximo passo do coronel Nascimento? Tentar a Presidência?

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb