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George Clooney se entedia em "Um Homem Misterioso"

George Clooney protagoniza o filme ""Um Homem Misterioso"" - Divulgação
George Clooney protagoniza o filme ''Um Homem Misterioso'' Imagem: Divulgação

18/11/2010 15h39

Se fosse feito há 35 anos, "Um Homem Misterioso", que estreia no país nesta sexta-feira, seria um exercício de existencialismo, um tipo de filme bastante em voga na época que gerou exemplares muito bons - especialmente aqueles dirigidos por Michelangelo Antonioni. Mas eis que o diretor desse drama não é o mestre italiano - morto em 2007 - mas o holandês Anton Corbjin, um fotógrafo que estreou no cinema há três anos com "Control", um belo longa inspirado na vida e morte do músico Ian Curtis, da banda Joy Division.

"Um Homem Misterioso" aspira ser Antonioni, mas não só; também quer ser Alfred Hitchcock, Ingmar Bergman e Sergio Leone. Todos num pastiche emoldurado por belezas naturais, a pose de galã de George Clooney e belas mulheres com pouca roupa. Nos idos do século 21, tudo isso soa como uma tentativa de emular um estilo que o cinema norte-americano, quase por natureza, é incapaz de alcançar.

A trama, baseada em romance de Martin Booth, com roteiro de Rowan Joffe ("Extermínio 2"), é centrada num enigmático matador de aluguel que se esconde numa pequena cidade italiana, depois de quase ser morto numa emboscada na Suécia. Percebeu as referências? Suécia, Bergman; Itália, Antonioni. Mas elas não param por aqui. Clooney, que atravessa o filme com a cara de confuso - uma expressão que nunca muda -, evoca Cary Grant de "Intriga Internacional"; e Leone, nominalmente citado numa cena, também é copiado quando o personagem central chega a uma cidadezinha. As trocas de olhares são típicas dos faroestes do italiano.

TRAILER DO FILME "UM HOMEM MISTORIOSO"

Se isso são cópias ou homenagens, pouco importa. A verdade é que Corbjin tem um olho para criar belas composições visuais - auxiliadas pela beleza local e das pessoas que estão no filme - mas não consegue superar as limitações da narrativa atravancada e pouco criativa.

Na Itália, o personagem conhecido como Jack e também como Edward recebe a visita de uma mulher (Thekla Reuten), que encomenda armas. Ele, além de tudo, é um expert na fabricação de armas. Basta escolher o modelo e os acessórios e ele é capaz de importar as peças - pelo correio - e roubar outras, construindo em alguns dias o equipamento. Ele também se envolve com uma bela prostituta (Violante Placido), romântica e sonhadora, que quer abandonar a profissão e viver ao lado de seu americano. Curiosamente, as duas mulheres o apelidam de Sr Borboleta, por conta da tatuagem que ele tem nas costas e a fascinação, nunca explicada, que ele tem por esse inseto.

Sr Borboleta também fica amigo de um padre (Paolo Bonacelli), de fala mansa e, como não podia deixar de ser, boas intenções, que se preocupa em recuperar ovelhas desgarradas e as trazer de volta para o rebanho de Deus.

Clooney, cujo personagem segue a tradição do cavaleiro solitário que evoca Clint Eastwood, Alan Ladd (em "Os brutos também amam") e toda a tradição de almas atormentadas que matam para fugir de suas sinas, ou que ganham sinas porque matam - tanto faz. Mas o ator mais parece entediado do que emocionalmente e existencialmente confuso. Ao final, o que lhe vale a pena são as noites de amor com a prostituta.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb