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"Splice - A Nova Espécie" é uma ficção científica com ousadias

03/02/2011 15h12

À primeira vista, "Splice - A Nova Espécie" pode ser confundido com mais uma ficção científica extravagante, com cientistas egocêntricos e mutantes humanóides. Embora o seja parcialmente, o diretor norte-americano Vincenzo Natali (de "Cubo"), depois de uma gestação de uma década, assina a história, roteiro e direção de um filme que está mais para drama familiar do que para thriller convencional.

Feita a devida ressalva, Natali traz às telas uma trama tão bizarra quanto a aparência da figura chave desta produção. Clive (Adrien Brody, vencedor do Oscar de melhor ator por "O Pianista") e Elsa (Sarah Polley, do comovente "Minha Vida sem Mim") são um casal de jovens cientistas, que pesquisam como curar doenças genéticas, nem que para isso criem novas formas de vida.

Quando a direção da empresa nega o pedido da dupla para fazer experimentos com DNA humano, contrariada, Elsa age por si e, num misto de ciência e acaso, cria Dren (Delphine Chaneac), um anagrama para a expressão em inglês "nerd". Aliás, os nomes dos protagonistas, Elsa e Clive, também têm significados. Aqui, uma homenagem ao "A Noiva de Frankestein" (1935), no qual os atores Colin Clive e Elsa Lanchester interpretaram Dr. Frankenstein e Mary Wollstonecraft Shelley, respectivamente.

TRAILER DO FILME "SPLICE - A NOVA ESPÉCIE"

Não demora muito para a situação tornar-se insustentável . Como o crescimento da criatura é acelerado e imprevisível, o casal deve escondê-la a todo o custo. Embora, a princípio, Clive seja contra o experimento, que o faz até tentar matar Dren, ele concorda com Elsa sobre a necessidade de salvá-la.

O que Clive começa e perceber - tal como o espectador - é que Elsa cria um bizarro laço maternal com a criatura. Em determinado momento, ele a questiona: "Por que você a criou, em primeiro lugar? Pelo bem da humanidade? Você nunca quis uma criança normal porque tinha medo de perder o controle."

A relação do trio passa a ser cada vez mais peculiar e Natali trabalha em um cenário carregado de referências como infância problemática, tensão do relacionamento dos pais sob os olhos de uma criança, conceitos de família e incesto. Natali une de forma um tanto caótica todos esses temas, praticamente jogados na tela, cabendo à dupla Brody e Polly tentar evitar que a história descambe para o absurdo, fronteira que o filme ameaça atravessar o tempo todo.

Dividindo opiniões por onde passa, "Splice - A Nova Espécie" tem o mérito de tentar ideias novas, para sair das fórmulas convencionais do gênero. O problema é que grande parte dessas invenções dá tão errado quanto a criatura Dren. Um dos erros mais visíveis de Vincenzo Natali, aqui, é a pouca atenção às transformações sofridas por seus personagens no decorrer do caminho. Depois de demorar mais de 10 anos para conseguir produzir este filme à sua maneira, esta falha é incompreensível.

(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb