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Indicado ao Oscar, documentário "Trabalho Interno" investiga causas da crise financeira

04/02/2011 19h10

Por Mary Milliken

LOS ANGELES, EUA - O documentarista Charles Ferguson sabia que a crise financeira de 2008 seria um grande tema global a tratar, mas teve medo de seu filme "Trabalho Interno" cair na categoria de um filme tedioso, se não fosse bem trabalhado.

Por isso, ele aplicou ferramentas normalmente associadas a longas de ficção, como fotografia expansiva e "música bacana" para ilustrar como os Estados Unidos e o mundo mergulharam no desastre financeiro mais profundo desde a Grande Depressão.

Hollywood tomou nota. No mês passado, Ferguson recebeu o prêmio de melhor documentário do Sindicato de Diretores da América, fazendo de "Trabalho Interno" uma aposta segura para levar o Oscar de filme de não-ficção quando os prêmios mais importantes do cinema mundial forem entregues, em 27 de fevereiro.

"Eu quis que o filme tivesse boa música, boa fotografia, que fosse ágil, engraçado em alguns lugares, interessante, não uma aula de história", disse Ferguson, que dirigiu o documentário sobre a guerra do Iraque "Sem Fim à Vista", indicado para um Oscar.

TRAILER DO FILME "TRABALHO INTERNO"

"Trabalho Interno" começa pacificamente, com as paisagens belas da Islândia, um país minúsculo que ficou economicamente congelado pelo colapso global dos bancos e do crédito.

Ferguson concluiu que a Islândia foi "um exemplo destilado, incrivelmente claro, de algo que aconteceu nos Estados Unidos ao longo de um período mais longo e de maneira mais complicada."

Ferguson faz ex-funcionários do governo americano e do Federal Reserve perder a calma quando os interroga implacavelmente sobre seu papel na crise, o fato de terem ignorado os sinais de aviso e seus conflitos de interesse, como economistas e acadêmicos.

"Foram entrevistas tensas", disse o diretor. "Mas meu primeiro filme foi sobre a ocupação do Iraque, e passei um mês filmando no Iraque em 2006. Portanto, fazer uma entrevista tensa com um professor de escola de administração não é a pior coisa do mundo."

Nem todos, porém, se dispuseram a se sujeitar às perguntas incisivas de Ferguson.

"Eu teria feito qualquer coisa para conseguir entrevistar Henry Paulson ou Larry Summers", conta o diretor. Paulson foi o ex-executivo-chefe do Goldman Sachs e secretário do Tesouro durante a parte pior da crise de 2008, e Summers, ex-secretário do Tesouro e alto assessor econômico de Obama.

"Os dois foram envolvidos nas causas da crise e depois ocuparam altos cargos no governo durante e após a crise", disse Ferguson. "Eu queria muito lhes fazer perguntas difíceis."

Ferguson critica o presidente norte-americano, Barack Obama, por escolher uma equipe econômica e regulatória que o diretor acredita ter sido profundamente envolvida nos fatos que desencadearam a crise.

Olhando para o futuro, Ferguson se diz "um pouco otimista" por achar que os americanos estão começando a entender que o sistema financeiro é mal administrado e regulado e a acreditar que eles colocarão pressão sobre os líderes políticos para que solucionem o problema.

Quanto a seu próprio futuro profissional, "acho que chega de documentários sobre Wall Street, por enquanto", ele falou.