Topo

"O Retrato de Dorian Gray" muda história do romance e apela para os jovens

24/03/2011 17h35

O famoso romance de Oscar Wilde, "O Retrato de Dorian Gray", publicado no final do século 19, ganha uma versão para as sensibilidades juvenis contemporâneas - leia-se, o público consumidor de "Crepúsculo". Não, Dorian não foi transformado num vampiro casto e romântico - mas faltou pouco para isso. Na interpretação de Ben Barnes (o príncipe Caspian da série "As Crônicas de Nárnia") faltam carisma e sensualidade, sobram olhares vagos e inexpressividade.

O diretor é Oliver Parker, que já levara duas peças cômicas de Wilde para o cinema com "O Marido Ideal" (1999) e "Armadilhas do Coração" (2002) - o primeiro, com bons resultados; o segundo, nem tanto. Em "O Retrato de Dorian Gray", há uma vontade de reinvenção, mais do que encenação da obra original. Por isso, o filme compreende um período de tempo bem mais longo, adaptando personagens e ações.

Parker dirige no limite, transitando entre o que acredita ser sensual, mas que eventualmente cai no grotesco. Bebedeiras e orgias dão o tom para a vida do jovem rico e entediado Dorian, que vai morar em Londres depois de receber uma herança. Seu retrato é pintado por Basil (Ben Chaplin, de "O Novo Mundo") e torna-se amigo do Lorde Henry Wotton (o recém-vencedor de Oscar Colin Firth, protagonista de "O Discurso do Rei"), um sujeito de moral duvidosa e comportamento dúbio.

TRAILER DO FILME "O RETRATO DE DORIAN GRAY"

Há uma inegável atração entre Dorian e Wotton, que nunca se consuma de forma direta. No filme, isso é bastante contido, existe apenas na troca de olhares, nas indiretas do lorde, quase nunca compreendidas pelo outro, que se apaixona por uma atriz pobre e vive sua primeira grande decepção amorosa. Depois disso, o protagonista leva uma vida desregrada, com uma mulher diferente a cada noite - quando não várias.

O roteiro, assinado pelo estreante Toby Finlay, interessa-se mais pelos elementos góticos do que por qualquer ruminação filosófica que o material ofereça. O sangue jorra desnecessariamente em alguns momentos do filme, em que pouco se pensa e muito se faz.

Pela ótica do diretor e do roteirista, Dorian assume feliz seu destino de jamais envelhecer - enquanto a figura do misterioso quadro pintado por Basil acumula seus pecados. Já os outros personagens, envelhecendo a cada dia, também não parecem muito intrigados quando veem o velho amigo com o mesmo aspecto jovial de sempre.

Ao fim, restam alguns sustos, muito sangue e uma sensualidade sem muito charme. Fora o nome, o Dorian Gray de Parker parece ter muito pouco em comum com aquele de Wilde - esse sim, um imortal em vários sentidos.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb