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"A Garota da Capa Vermelha" é Chapeuzinho de novos tempos

20/04/2011 13h37

"A Garota da Capa Vermelha", que poderia muito bem ser chamado de "Crepúsculo Redux", faz uma releitura da história infantil de Chapeuzinho Vermelho para o público adolescente de nossos tempos - ou seja, aquele que transformou em sucesso os livros de Stephenie Meyer e os filmes baseados nesses romances.

Não é à toa que no trailer e pôster do filme a informação "Da mesma diretora de 'Crepúsculo'" apareça com grande destaque. A diretora em questão é Catherine Hardwicke. Não é apenas a diretora que o filme compartilha com seu primo rico.

O ator que interpreta o pai de Bella, Billy Burke, também faz o pai da protagonista aqui, que se chama Valerie, mas talvez pudesse até chamar-se Linda - para fazer par com a Bella de "Crepúsculo". Muito suspiro, muito amor virginal, um amor impossível e uma criatura perigosa - está montada a fórmula barata a ser seguida.

Valerie é interpretada por Amanda Seyfried, atriz irregular de belos olhos arregalados que faz lembrar personagem de mangá. Vivendo numa aldeia da Idade Média - bem podia ser no presente em outro país, ou nas sobras de cenário de "A Vila" -, ela e seu povoado sofrem de um grande mal.

Em noites de lua cheia, são atacados por um lobo mau, um lobisomem ou uma criatura semelhante, isso só vamos descobrir mais tarde. Para evitar mortes, sacrificam-se animais. O povoado vive sob medo constante. A situação piora quando a irmã mais velha de Valerie é morta pela criatura.

"Crepúsculo" não foi o responsável por inventar metáforas para simbolizar o despertar sexual. Desde sua concepção, a história de Chapeuzinho Vermelho representa o mesmo em seus símbolos, o medo do predador de outro sexo e a perda da pureza, da inocência. O que alguns filmes fizeram - e nesse pacote inclua-se "A Garota da Capa Vermelha" - foi eliminar qualquer profundidade e transformar a história numa trama de amor espiritual, pois a concretização carnal custa a acontecer - quando acontece.

TRAILER DO FILME "A GAROTA DA CAPA VERMELHA"

O diretor irlandês Neil Jordan, em "Na Companhia de Lobos", adaptado da escritora inglesa Angela Carter, entre outros, já havia feito uma releitura pós-moderna e mais sagaz da mesma história. Até um desenho animado, "Deu a Louca na Chapeuzinho", tem mais a dizer do que o filme de Catherine Hardwicke, ex-diretora de arte que estreou como cineasta com o bom "Aos Treze" (2003), mas nunca mais repetiu o acerto ao falar das ansiedades, medos, frustrações e erros da adolescência.

O interesse amoroso de Valerie é o lenhador Peter (Shiloh Fernandez, cuja carga de atuação se concentra no seu cabelo desarrumadamente fashion). Mas os pais da garota (Burke e Virginia Madsen) querem que ela faça um bom casamento, com o mauricinho Henry Lazar (Max Irons). Ela pensa em fugir com seu amado, mas o lobo mau atrapalha seus planos.

A chegada de um padre viúvo e pai de duas filhas, caçador de lobisomens, interpretado por Gary Oldman, dono de uma câmara de tortura em forma de elefante, tende a trazer alguma movimentação para o filme. Mas não dura muito. Logo Valerie ganha uma capa vermelha de sua avó (Julie Christie), uma espécie de hippie com dreadlocks no cabelo que vive afastada na floresta.

Seria ela uma bruxa? Não, o filme não entra na questão da opressão feminina - afinal, não estamos falando de "As Bruxas de Salém". A avó simplesmente é uma personagem descolada em meio às pessoas simples do vilarejo.

Mas porque ela dá uma capa para a neta? Simplesmente por que o filme se chama "A Garota da Capa Vermelha", e em algum momento terá de colocar em cena uma menina com a tal indumentária. Fora isso, não há qualquer significado para o apetrecho. A diretora parece gostar do contraste da capa tom de sangue com o branco da neve. Tem predileção também por imagens aéreas, mas não se dá ao trabalho de criar climas, suspense ou tensão - sexual ou de qualquer outro teor.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb