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Literatura une personagens em "Tardes com Margueritte"

26/05/2011 15h11Atualizada em 26/05/2011 22h09

"Minhas Tardes com Margueritte" traz um tema caro ao cinema: a amizade entre estranhos. A maior qualidade desse longa francês é o desempenho de seus dois protagonistas, Gérard Depardieu e a nonagenária Gisèle Casadesus. Eles tornam verossímeis dois personagens que muito facilmente cairiam no clichê.

Dirigido e roteirizado por Jean Becker -- a partir de um romance de Marie-Sabine Roger --, o longa tem muito a ver com um dos filmes mais famosos do diretor, "Conversas com meu Jardineiro".

A obra do cineasta, que inclui "Verão Assassino", prima pelo humanismo, e aqui não é diferente. Ao centro, estão Germain (Depardieu), uma espécie de faz-tudo numa pequena cidade, e Margueritte (Gisèle), uma senhora apaixonada por livros.

A amizade entre os dois surge de um encontro numa praça onde ela sempre se senta para ler, e ele para fazer o seu lanche. Eles começam a conversar sobre os pombos -- o rapaz dá nome a todos eles -- e são capazes de identificar um a um. Ela, por sua vez, é uma ávida leitora e sugere compartilhar com o novo amigo um romance. Margueritte lê em voz alta para Germain "A Peste", de Albert Camus.

Essa amizade, é claro, estabelece novos padrões para a vida de cada um deles. Germain é semi-analfabeto e fala muita bobagem sem pensar -- mas seu coração enorme acaba compensando muitas de suas falhas. Por outro lado, ele se torna a companhia ideal para a vida solitária de Margueritte, que mora numa casa para idosos e recebe visitas bem esporádicas de um sobrinho que vive na Bélgica.

O reflexo da amizade também acontecerá na conturbada relação de Germain com sua mãe, interpretada por Claire Maurier, e Anne Le Guernec, nos flashbacks. O personagem nunca conheceu o pai, nem recebeu muita atenção da mãe. Agora, a situação só piora com a esclerose da mulher que, mais do que nunca, vê no filho um inimigo, ou algo parecido.

O que há de mais belo em "Minhas Tardes com Margueritte" é como categoricamente o filme renega clichês um após outro, até seu final. Construindo personagens humanos e com dramas bem palpáveis, Becker cria um trabalho delicado e bastante honesto até o fim, quando poderia ter sucumbido a lágrimas fáceis.

(Alysson Oliveira, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb