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28/08/2008 - 12h12

"Este é meu filme mais cinematográfico", diz Abbas Kiarostami sobre "Shirin"

MARIANE MORISAWA

Colaboração para o UOL, de Veneza
Dá para fazer um filme sobre mulheres assistindo a um longa-metragem no cinema, sem que se veja nenhuma cena que passa na tela, só com as imagens dos rostos e suas reações? Se você for Abbas Kiarostami, dá. O cineasta iraniano apresentou na noite da quarta-feira 27, fora de competição, seu mais novo trabalho, "Shirin".

Reuters
Abbas Kiarostami filmou em frente a uma tela branca 113 mulheres - a única não iraniana é Juliette Binoche, que aparece usando o xador (véu).
KIAROSTAMI E JULIETTE BINOCHE JUNTOS DE NOVO
IMAGENS DE VENEZA EM 28/8
"Tenho mais interesse nos fãs assistindo a um jogo de futebol do que no jogo em si. Nenhum trabalho ou espetáculo pode existir sem o público. Nada permanece a não ser o que permanece na mente do espectador, por isso o espectador é tão importante", disse o diretor na coletiva de imprensa, na manhã da quinta-feira 28.

Ele chamou um número grande de atrizes iranianas para participar. "Cada uma tinha cinco minutos na frente da câmera para atuar. No dia em que filmamos, não sabíamos qual história se passaria na tela, as mulheres não sabiam o que assistiriam", contou. "Nós tínhamos as cadeiras, a tela branca, e elas precisavam se concentrar em três pontos e pensar em algo especial", completou ele. No total, foram 113 mulheres - a única não iraniana é Juliette Binoche, que aparece usando o xador (véu).

Kiarostami levou seis meses para juntar tudo - e escolher a história da princesa Shirin para colocar na tela. Shirin era uma princesa da Armênia que se apaixonou por um príncipe persa, uma história de amor impossível bastante popular no Irã. "Esse tipo de melodrama não sai de moda, é sempre pertinente", disse ele.

Mas, para ele, mesmo que não se ouvissem os diálogos e a música, isso não atrapalharia em nada. "Este é meu filme mais cinematográfico. Todos os personagens olham para um ponto na tela e os espectadores também são convidados a olhar para um único ponto. Tudo o que deveria estar fora do quadro está fora do quadro", afirmou. O filme emociona não por essa história melodramática, mas pelos sentimentos que passam nos olhos e nos gestos daquelas mulheres.

"Obviamente, fiquei muito curioso para saber em que essas mulheres estavam pensando olhando esses 3 pontos", disse o cineasta. Conhecido por usar a realidade em seus filmes, sem muitos artifícios, ele foi confrontado por ter pedido às atrizes para atuar e respondeu: "Dos cinco minutos que cada uma teve, há dois ou três de atuação. Depois elas entraram em suas próprias viagens, e foram esses os momentos que usamos. Para mim, foram momentos íntimos com a câmera. E foi fascinante para mim foi estar olhando em momentos privados, como se olhasse pelo buraco da fechadura".

O cineasta preferiu não responder a uma pergunta de um jornalista israelense sobre a posição atual do Irã em relação à energia nuclear e ao fato de seu presidente Mahmoud Ahmadinejad negar o Holocausto. "Estamos falando de cinema, de amor, não quero me envolver em política iraniana recente", afirmou Abbas Kiarostami, dono do melhor filme do festival até aqui. Pena que não esteja em competição.

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