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65o. Festival de Veneza - 2008

02/09/2008 - 10h48

"A Erva do Rato" de Júlio Bressane é apresentado no Festival de Veneza

Veneza (Itália), 2 set (EFE).- O cineasta Júlio Bressane, símbolo
do cinema independente brasileiro, volta ao universo literário de
Machado de Assis para reavivar a repulsa das pessoas a ratos e
esqueletos no filme "A Erva do Rato", apresentado hoje no Festival
Internacional de Cinema de Veneza.

Apresentado na seção Orizzonti, "A Erva do Rato" é um filme
exigente, apreciado após ser visto e que faz o público sofrer
durante a exibição.

Em entrevista coletiva, Bressane explicou que "não é uma
adaptação de Machado de Assis, mas é uma tradução em imagens de seu
espírito".

A base literária são dois contos do escritor: "Um esqueleto" e "A
causa secreta", mas "deles há poucas linhas no filme", embora tenham
sido feitas várias referências em torno de dois elementos: os ratos
e os esqueletos, "as duas coisas que, em toda a história da arte e
do homem, sempre provocaram repulsa".

Este "jogo semiótico", segundo o diretor, é protagonizado por
Alessandra Negrini - que já trabalhou com Bressane em "Cleópatra"
(2007) -, e Selton Mello.

"A Erva do Rato" tem uma primeira máscara, nas palavras de
Bressane: a literária. Com ela é possível recuperar a qualidade de
Machado de Assis (1839-1908) para "reinventar a língua portuguesa,
com novas linhas formais e estruturas" que resultam em uma narrativa
cinematográfica insólita.

"A Erva do Rato" - o único veneno que não tem antídoto, segundo o
filme -, começa em um cemitério no qual duas pessoas, cujos nomes
são apenas Ele e Ela, se conhecem e são condenadas a ficarem juntas
para sempre.

Ela se submeterá a partir de então a Ele na dura tarefa de
transcrever as histórias que lhe conta e que encherão centenas de
cadernos que consumirão sua energia.

A palavra protagoniza "A Erva do Rato" à primeira vista, mas
"após esta primeira máscara há outra: a luz", diz o diretor.

Desta forma, as referências pictóricas aparecem ao redor da
pintura de Edouard Manet (1832-1883) e, especialmente, do quadro "O
almoço sobre a erva" (Le déjeuner sur l'herbe), que impulsionou o
Impressionismo, apesar de seu autor renegar o termo.

"Fala da percepção e do desenvolvimento da luz. A luz é um
processo químico e está antes dos atores e das cenas", disse.

Julio Bressane, que é co-roteirista do filme junto com Rosa Dias,
começou sua carreira em 1966 com o curta "Lima Barreto - Trajetória"
e logo surgiu como um dos protagonistas do Cinema Novo brasileiro,
onde desenvolveu uma carreira marcada por uma linguagem
experimental, ritmo pausado e clara tendência estética.

Em 1985 já havia feito uma adaptação de Machado de Assis em "Brás
Cubas" e entre seus últimos títulos se destacam "Miramar" (1997) e
"Dias de Nietzsche em Turim" (2001).

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