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02/09/2008 - 13h59

"Não me considero um autor erótico", diz Julio Bressane

MARIANE MORISAWA

Colaboração para o UOL, de Veneza
Bem-recebido pelo público na tarde da segunda-feira 2, "A Erva do Rato" teve na manhã desta terça-feira 3 sua coletiva de imprensa, no Palazzo Del Casinò, no Lido de Veneza.

AP
Selton Mello, o diretor de "A Erva do Rato", Julio Bressane, e Alessandra Negrini antes da sessão de gala do filme
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O cineasta Julio Bressane explicou a gênese do filme, inspirado em dois contos de Machado de Assis, "O Esqueleto" e "A Causa Secreta". "Ele é o inventor da moderna língua portuguesa. Eu tirei desses contos duas frases, dois engramas: a relação de horror com o rato e o convívio do homem com seu próprio esqueleto. É um filme de ficção que inventei a partir desses dois traços duradouros do texto de Machado de Assis. E tentei sugerir de alguma forma o estilo do Machado de Assis", contou.

A pintura, novamente, é grande inspiradora da estética do longa, fotografado por Walter Carvalho. "O filme é uma máscara de papelão que sugere uma evidência de que há alguma coisa atrás da máscara, e esta é uma outra máscara", disse. Ele confirmou à jornalista que fez a pergunta a aproximação com a obra de Édouard Manet e, principalmente, do quadro "Déjeuner sur L'Herbe". "Me interessou a maneira com que ele sentiu a luz, se apropriou daquela luz. O princípio de tudo é a luz, antes do ator, da cena, do roteiro, antes de tudo. O que existe é uma forma de compreender e apreender a luz."

Bressane também foi indagado se seria um cineasta erótico. "O erotismo começa na caverna. Quando começa o homem a escorrer, a pingar, ele vai para dentro de uma caverna desenhar bisões, falos, vulvas", disse. "Toda pintura, toda arte já é uma patologia. Tudo é uma tara. Há maneiras de organizá-la. Você faz a coisa porque não sabe o que é, se soubesse não faria. Você faz para tentar entender para você mesmo. Não me considero um autor erótico."

O diretor negou que tenha feito um filme teatral. "O teatro que me interessou foi um teatro anterior a esse teatro de salão, me interessei muito pelo theomai, que é o teatro feito nos centros espíritas, centros populares, de umbanda, isso no Brasil é que é o teatro", afirmou. "Neste eu vejo relação com o cinema. Não esse teatro. Há uma confusão entre uma tomada, um plano longo com esse plano teatral. Dizem: isso parece teatro filmado. O cinema começou com um plano longo. O teatro não é nada disso", continuou. "O cinema tem uma relação muito forte com o que se começou a chamar de espiritismo, a partir do século 19. E dar ao ator outra possibilidade de tempo e que seja menos brutal do que o plano todo picotado. Este é um tipo de experiência que podia ser feito num palco, ou num terreiro, num centro espírita, num baile de carnaval."

A atriz Alessandra Negrini, protagonista ao lado de Selton Mello, disse que é muito prazeroso trabalhar pela segunda vez com Bressane - a primeira foi em "Cleópatra". "A primeira coisa que faço é disponibilizar os meus ouvidos a tudo o que o Julio tem a dizer, e ele tem muita coisa a dizer. Viajar no universo de um autor me dá muito prazer, é como viajar para outro mundo, para outro planeta."

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