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06/05/2010 - 07h03

Ridley Scott e Russell Crowe transformaram "Robin Hood" em um arqueiro de aluguel

ANA MARIA BAHIANA
Especial para o UOL, de Los Angeles
  • Cate Blanchett e Russell Crowe ouvem orientações de Ridley Scott antes de rodar uma cena

    Cate Blanchett e Russell Crowe ouvem orientações de Ridley Scott antes de rodar uma cena

Quem for ver "Robin Hood" esperando torneios de arco e flecha, emboscadas na Floresta de Sherwood, combates de cajado mano a mano, malabarismos com espada e proezas em candelabros – ou seja, o cânone do mito do Bom Ladrão como sacramentado pelos quinze filmes e quatro séries de TV que o precederam – sairá seriamente desapontado.

ASSISTA AO TRAILER ORIGINAL DE "ROBIN HOOD"

Igualmente, quem se sentir atraído pelo repeteco da fórmula Ridley Scott mais Russell Crowe mais drama de época antecipando uma espécie de "Gladiador" na Idade Média também não vai ficar satisfeito. Certo que desta vez temos novamente uma grande cena de batalha no primeiro ato, filmada em diversos ângulos, inclusive com muitas câmeras-na-mão (a tomada de um castelo francês por Ricardo Coração de Leão e suas tropas); um grande enfrentamento no final do terceiro ato, com abundante derramamento de sangue (as tropas inglesas rechaçando os invasores franceses sob o comando do Rei Felipe Augusto); um monarca ambicioso e fraco (o Príncipe João Sem Terra, vivido por Oscar Isaac) e vários cortesãos intrigueiros divididos em múltiplos campos, interesses e lealdades (Mark Strong, William Hurt e Max Von Sydow, entre outros).

As semelhanças terminam aí. O que "Gladiador" tinha de forte, a clara linha narrativa estabelecida pelo argumento original de David Franzoni (por sua vez inspirada no livro "Those Who Are About to Die", de Daniel Mannix), foi perdido aqui num roteiro colcha-de-retalhos, resultado do processo de criatividade-por-comitê tão comum em projetos desenvolvidos internamente pelos grandes estúdios. São duas horas e vinte minutos do que parece o mais longo primeiro ato da história do cinema – várias histórias que nunca chegam a engrenar totalmente nem como um painel da época (o conturbado meio do século 13 na Europa) nem como perfil do herói do título (aqui, um arqueiro nas tropas de Ricardo Coração de Leão).

A proposta do roteiro original que gerou este "Robin Hood" era ousada: Ethan Reif e Cyrus Voris ("Kung Fu Panda", "O Monge à Prova de Balas", a série de TV "Sleeper Cell") viravam o mito de Robin Hood pelo avesso, fazendo do Xerife de Nottingham o herói e de Robin o vilão – um vilão simpático, mas vilão. O pano de fundo, que inspirou desde as primeiras baladas do século 14 até os romances vitorianos que deram os contornos finais à lenda, era o mesmo: os choques entre os donos de terra e o rei que levaram, na Inglaterra do século 13, à elaboração da Magna Carta, a primeira “constituição” da história ocidental.

Muitas revisões, re-escritas e roteiristas depois (Brian Helgeland ficou com o crédito final, mas pelo menos três outros roteiristas trabalharam no texto), "Robin Hood" transformou-se na história de um arqueiro em busca do que fazer, temporariamente encarregado por um barão empobrecido (Max Von Sydow) de se tornar o marido-substituto de Lady Marion Loxley (Cate Blanchett), enquanto ao fundo intrigas de todo tipo ameaçam o trono do Príncipe João e a liberdade das ilhas britânicas.

É mais uma proposta para explicar o mito de Robin Hood e teria funcionado se a narrativa nos deixasse realmente envolvidos na trama, investidos emocionalmente na jornada do protagonista ou nos dilemas da sua época. Infelizmente, isso não acontece.

Apesar da dieta e da malhação, Crowe, aos 45 anos, não tem o vigor necessário para ser o carismático líder dos oprimidos que a história pede (Sean Connery tinha 45 anos em 1976 quando criou um inesquecível Robin Hood madurão e aposentado no maravilhoso "Robin and Marian", de Richard Lester). Um excelente grupo de atores (inclusive um William Hurt subutilizado), as belas locações no País de Gales e na Inglaterra e grandes cenas de batalha são pontos altos. Mas não o bastante para sustentar todo o peso do que poderia ser um belo épico.

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