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14/05/2010 - 10h56

"Estou confuso como todo mundo", diz Oliver Stone sobre a crise financeira de "Wall Street 2"

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes
  • Oliver Stone e Michael Douglas apresentam Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme em Cannes

    Oliver Stone e Michael Douglas apresentam "Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme" em Cannes

Oliver Stone mostrou hoje em Cannes que consegue retratar o mundo de Wall Street e da crise financeira que abalou o mundo em 2008 melhor do que os presidentes americanos em suas biografias políticas. Continuação de seu filme de 1987, “Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme”  traz de volta o tubarão das finanças Gordon Gekko (Michael Douglas), executivo que inspirou muitos jovens americanos a tornarem-se yuppies ambiciosos nos anos 80.

Stone desembarcou com todo o seu elenco da Croisette – além de Douglas, Shia Labeouf (o jovem aprendiz), Josh Brolin (de “Onde os Fracos Não Têm Vez”), Carey Mulligan (de “Uma Educação”) e Frank Langella (de “Frost Nixon”).

“Estou confuso como todo mundo [sobre os rumos do capitalismo]. Na época da crise na Bolsa da Coreia (em 1997) achei que o mundo ia acabar. Muita coisa aconteceu nesses últimos 23 anos [desde que o primeiro filme foi lançado]. Esse filme é uma nova abordagem, uma história de família que tenta fazer um balanço entre dinheiro, poder e amor”, disse o cineasta.

Segundo Stone, Michael Douglas o procurou em 2006 com o projeto, “mas na época eu não queria celebrar um período de prosperidade financeira. Quando a crise (de 2008) veio, ela colocou o mundo em uma nova perspectiva, e tudo mudou”, declarou. Sobre a preparação para o filme, Stone afirmou ter conhecido corretores muito jovens que tiveram que enfrentar esta última crise e “aprenderam à força com o crash como os garotos tiveram que aprender na Guerra do Vietnã”, tema que abordou em “Platoon”.

Mais do que confuso, Stone se mostrou desiludido com o mercado financeiro. “Meu pai era um verdadeiro corretor de ações (não online). Ele trabalhava para os seus clientes; hoje os traders trabalham pra eles mesmos. Os últimos relatórios do Goldman Sachs mostram que 70% do faturamento vem do trading que fazem pra si próprios, e não para os clientes. Isso é horrível!”, indignou-se.

No momento, Stone toca três novos projetos, todos de documentários: um novo documentário sobre Fidel Castro; o lançamento de “South of the Border”, sobre Hugo Chávez e a política na América do Sul; e “The Secret History of US”, documentário de 10 horas sobre a política americana.

Douglas, o vilão adorado

Michael Douglas falou sobre o prazer de voltar a encarnar Gekko – que, no começo do filme, sai da cadeia após oito anos de prisão por fraude, e louco para voltar ao jogo da Bolsa. “Ficamos espantados na época em ver como os jovens percebiam o Gekko. Era um vilão, e as pessoas se sentem atraídas por vilões. Nunca imaginamos como seria esse futuro cheio de jovens com MBAs”, comentou. “Gordon é um novo homem agora? Não sabemos. Mas agora ele sabe muito mais sobre o que se passa em Wall Street”.

Mas veio de Frank Langella, que vive o diretor de um grande banco de investimentos na falência, a frase que talvez melhor resume o que se passou nos últimos 23 anos, entre os dois “Wall Street”: “Não acho que as pessoas mudaram. O jogo é que mudou”.

Dinheiro fácil

Com um grande roteiro em mãos, Oliver Stone faz um filme muito mais complexo e menos ingênuo que o primeiro “Wall Street”. O jogo financeiro está mais rápido, e Gekko (Douglas) precisa usar o jovem genro, Jacob (Shia Labeouf) para derrubar o novo tubarão do pedaço, Bretton James (Josh Brolin). Menino-prodígio de Wall Street, Jacob preserva um lado idealista – ele usa boa parte do dinheiro que ganha na Bolsa para investir num projeto de bioenergia a partir da água do mar.

Como Hollywood existe para dar respostas e não fazer perguntas, Stone amarra tudo com algumas falsas certezas como “as bolhas (especulativas) são uma evolução da humanidade” e “limam-se os excessos, mas o mecanismo continua o mesmo” (segundo o filme, a “bolha verde”, da bioenergia, seria a próxima bolha). Mas a história, entre pai, filha e genro reserva muitas surpresas – todas ligadas ao uso irresponsável de dinheiro, muito dinheiro. Todos os coadjuvantes (como Susan Sarandon, a mãe de Jacob) gastam milhões de dólares como se não houvesse amanhã.

O mundo ficou menos ingênuo, e o cinema de Oliver Stone também. Mas, como sempre, fatos como a crise financeira só servem se renderem, pra além de análises profundas da economia, um bom entretenimento. E isso o diretor entrega de sobra.

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