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Marvel vai punir desenhista que fez "propaganda islâmica" em HQ dos X-Men

Cena da nova HQ dos X-Men traz a inscrição 212, referência a protestos políticos na Indonésia - Reprodução
Cena da nova HQ dos X-Men traz a inscrição 212, referência a protestos políticos na Indonésia Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

10/04/2017 19h03

A Marvel está movendo uma ação disciplinar contra o desenhista indonésio que fez críticas veladas ao governador da cidade de Jacarta na primeira edição de “X-Men: Gold”, nova série dos heróis mutantes que foi lançada na última quarta (5). Ardian Syaf, que é muçulmano, usou a história para se posicionar contra o cristão Basuki Tjahaja Purnama.

Em uma das cenas da HQ, o desenhista incluiu o número 212 ao fundo de uma multidão, em referência a 2 de dezembro de 2016, data em que muçulmanos foram às ruas da Indonésia para protestar contra o mandatário. Em outro trecho da história, o personagem Colossus é mostrado vestindo uma camiseta com a inscrição "QS 5:51", alusão à passagem do Alcorão utilizada por manifestantes para criticar Purnama.

Líder cristão em um país de maioria muçulmana, Basuki Tjahaja Purnama causou polêmica recentemente ao afirmar que seus rivais políticos estão mentindo ao inferir que o Alcorão, livro sagrado do islã, recomenda aos eleitores rejeitá-lo. A posição, interpretada por muitos como contrária ao islamismo, gerou uma onda de protestos em Jacarta entre novembro e dezembro.

“Os detalhes da arte foram inseridos sem o conhecimento de seu significado”, afirmou a Marvel em comunicado divulgado neste fim de semana, após internautas chamarem a atenção para uma suposta "propaganda islâmica" feita pela empresa.

Personagem de "X-Men" usa camiseta com referência a passagem do Alcorão - Reprodução - Reprodução
À esquerda, personagem de "X-Men" usa camiseta com referência a passagem do Alcorão
Imagem: Reprodução

"Essas referências implícitas não refletem as opiniões do escritor, editores ou qualquer outra pessoa da Marvel e se opõem ao caráter inclusivo da empresa e ao que os X-Men têm representado desde sua criação. Elas serão removidas das impressões subsequentes e das versões digitais. Uma ação disciplinar está sendo movida."

Um dos motes das manifestações contra Purnama foi a passagem QS 5:51 do Alcorão. Segundo algumas traduções, o verso adverte contra tomar “judeus e cristãos” como aliados, sugerindo que eles não são pessoas confiáveis por não serem a favor de Alá. Após a grande repercussão nas redes sociais, Syaf se defendeu das críticas em entrevista ao jornal “The Jakarta Post”.

“Fazer amizade com judeus e cristãos é OK. Quem disse que é proibido? Eu tenho um monte de amigos judeus e cristãos. Mas escolher um não muçulmano como líder é proibido. Isso é o que o verso do Alcorão diz. O que eu posso fazer como muçulmano? Eu trabalhei na DC, eu poderia ter colocado mensagens numa HQ do Superman”, disse Ardian Syaf.

Em meio à polêmica, a Marvel ainda não confirmou se o desenhista continuará trabalhando para a empresa. Além da da “X-Men: Gold” número 1, ele também foi responsável pela arte da segunda e terceira edições da série, que chegam às bancas no mês que vem nos Estados Unidos. Segundo a Marvel, no entanto, já havia sido acertado que ele não faria as edições a partir da número 4.

Esta não é a primeira vez que Syaf "esconde" referências políticas em quadrinhos famosos. Em 2012, ele já havia colocado em uma placa de uma loja de "Batgirl" um desenho que supostamente seria o do então presidente da Indonésia Joko Widodo, que é muçulmano.