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Com abraço de mãe em filha, "Rock Story" ensina como combater a homofobia

Mauricio Stycer

26/04/2017 14h47

O combate à homofobia tem sido um tema recorrente em campanhas de responsabilidade social da Globo nos últimos anos. O assunto tem aparecido em vídeos institucionais ("Tudo começa pelo respeito"), em programas jornalísticos ("Profissão Repórter") e em atrações da área de entretenimento (Fátima, "Amor & Sexo", "Na Moral"), entre outros.

Mas é na teledramaturgia, especialmente pela popularidade das novelas, que as discussões sobre homofobia causam maior impacto e provocam maior polêmica. Diferentes abordagens do tema foram tentadas nos últimos anos, com resultados igualmente distintos.

Duas situações recentes são sempre lembradas. A "terapia de choque" proposta por Gilberto Braga em "Babilônia", em março de 2015, ao exibir logo no primeiro capítulo um beijo entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, foi mal recebida. Já o beijo entre os personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso no último episódio de "Amor à Vida", em janeiro de 2014, provocou menos espanto, possivelmente pela forma com que a história foi conduzida por Walcyr Carrasco.


Esta semana, em "Rock Story", novela das 19h30 da Globo, a autora Maria Helena Nascimento propôs uma outra forma de tratar do assunto – muito delicada e sensível, mas ainda assim impactante. A jovem Vanessa (Lorena Comparato) resolveu falar sobre a sua sexualidade depois que a mãe, Edith (Viviane Araujo), propôs o assunto.

"Filha, não precisa esconder isso de mim. Você nunca me disse, mas eu sempre soube que você gosta de meninas desde a adolescência", disse Edith, quebrando o gelo. "Pra mim pouco importa, Vanessa. Eu só quero que você seja feliz", completou a mãe, antes de abraçar a filha, em cena exibida no capítulo de segunda-feira (24).

No dia seguinte, cansada de ouvir o marido, Nelson (Thelmo Fernandes), tentar aproximar a filha de Tiago (Thiago Rodrigues), Edith explica para ele: "Não é possível, Nelson. Você não consegue enxergar? A nossa filha não gosta de meninos. Ela gosta de menina!"

O pai fica atordoado com a informação. "Não é possível! Como é que eu nunca percebi nada?", pergunta. Sábia, Edith responde: "Pai e mãe às vezes é assim. Não quer enxergar o que está embaixo do nariz."

A situação, exibida a partir do capítulo 143, foi construída com paciência e habilidade pela autora. Desde o início da novela, Vanessa trabalha como assistente pessoal de Diana (Alinne Moraes), diretora artística da gravadora Som Discos.

Personagem central da trama, a executiva comete alguns graves pecados ao longo da história, sempre com a ajuda ou complacência da assistente. A adoração de Vanessa por Diana, como observa Edith, vai além do dever profissional – e, afinal, entendemos que é uma paixão platônica.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.