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Crash Church: a igreja que passa a palavra de Deus ao som de Heavy Metal

Pastor Batista, líder da igreja Crash Church e vocalista da banda cristã de death metal Antidemon - Reprodução/Instagram
Pastor Batista, líder da igreja Crash Church e vocalista da banda cristã de death metal Antidemon Imagem: Reprodução/Instagram

Alba Santandreu

De São Paulo

12/01/2017 19h14

É dentro de uma garagem de São Paulo que soam os primeiros acordes de Heavy Metal. A letra fala de Jesus Cristo e de salvação e seu palco é a Crash Church, uma igreja evangélica frequentada pelos fãs do rock que buscam a palavra de Deus através da música.

Como em um show de rock pesado, os fiéis usam roupas escuras e sacodem fortemente a cabeça quando o baixo e a bateria começam a soar em uma sala pintada de preto e decorada com tribais brancos.

Depois de várias canções, as pessoas, algumas com camisetas do Metallica e do Joy Division, se acalmam e o pastor Batista começa o culto. Ao contrário da maioria dos ministros evangélicos, ele não usa terno e gravata, mas calça jeans e um tênis branco e vermelho.

As tatuagens - todas com referências cristãs - cobrem seus braços, brincos adornam suas orelhas e na barba ele exibe uma trança acinzentada de 4 centímetros.

Além de pastor, Batista é vocalista da banda cristão de death metal Antidemon e um dos fundadores desta igreja "não convencional" criada em 1998 por "necessidade divina".

"Isto faz parte de um plano de Deus para superar barreiras de formatos mais fechados e que deixavam de alcançar muitas vertentes da sociedade", disse Batista, em referência a outras correntes mais conservadoras, como a poderosa Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus.

Maria Aparecida Castellini, de 54 anos, tem sete filhos e três são membros de igrejas evangélicas tradicionais que não "toleram" sua estética punk: cabelo verde, unhas pintadas, batom azul e roupas rasgadas que possibilitam ver algumas partes de sua pele.

Ela se declara "louca" por Jesus e pelo rock, mas não é por isso que vai "para um hospício", como foi aconselhada na Renascer em Cristo, sua antiga igreja.

"Diziam que o rock era pecado, que era coisa do demônio. E eu perguntava: 'Deus, será que estou no lugar certo?'", lembrou ela, que diz andar até duas horas para assistir ao culto da Crash Church.

Atrás de um púlpito com ares medievais, o pastor Batista lê o evangelho, enquanto os fiéis o acompanham em seus telefones celulares, na bíblia de papel ou através de televisores onde as passagens são reproduzidas.

Batista usa jargões para explicar a palavra do Senhor e intercala as leituras com músicas de rock, que, apesar da intensidade, não acordam dois bebês de poucos meses que dormem nos braços das mães, nem abalam uma senhora de uns 80 anos que escuta impávida o som.

Em um de seus discursos, o pastor compara a história de Jesus com a da igreja e enfatiza que, apesar do preconceito, eles também são "de Deus".

"As pessoas não esperam uma Igreja como nós. Não esperam que com esse estereótipo sejam pessoas de Deus. Jesus não parecia o Messias, assim como nós não parecemos evangélicos. Em várias partes do mundo estão nascendo movimentos como esses, igrejas e pessoas se abrindo para levar Jesus de todas as maneiras, uma maneira que se possa entender", assegurou.

Em sua opinião, igrejas como a Crash Church contribuíram para a expansão da religião evangélica, que, ao contrário do catolicismo, ganhou espaço nos últimos anos no Brasil.

De acordo com dados de 2016 do Datafolha, em 1994, 75% dos brasileiros se declaravam católicos, mas essa porcentagem caiu para 50%, enquanto os evangélicos avançaram até representar 29% da população.

Somente entre 2014 e 2016, o catolicismo perdeu 9 milhões de fiéis no país. Conforme o mesmo levantamento, o número de brasileiros que se declara cristão pentecostal saltou de 10%, em 1994, para 22%, atualmente, enquanto os não pentecostais passaram de 4% para 7%.