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Pioneiro do estilo, Grandmaster Flash dá aula de hip-hop no Rock in Rio

Alexandre Matias

Colaboração para o UOL, no Rio

17/09/2017 18h35

Poucas pessoas foram instrumentais ao transformar a briga entre gangues da periferia de Nova York nos anos 70 em um dos principais movimentos culturais do século, o hip-hop, e nenhuma delas é tão importante quanto Grandmaster Flash, o DJ que encerrou o segundo dia do Rock in Rio, apresentando-se na tenda de música eletrônica. Ao parelhar duas vitrolas lado a lado, ele transformou o disco de vinil em um instrumento musical, incorporando técnicas que vinham sendo desenvolvidas na época com tantas outras que ele mesmo criou, sendo a mais clássica delas o back-to-back, em que usava dois discos idênticos para esticar um trecho curto por segundos ou minutos, permitindo acrobacias verbais ou físicas por parte dos MCs e dos b-boys.

A apresentação de Grandmaster Flash começou como uma aula de história, com o telão funcionando como quadro negro. Explicando que começou em uma época em que não havia CDs, Spotify, Twitter, Serato (software de discotecagem), mp3, Facebook e Shazam (aplicativo que detecta a música que está tocando), ele começou mostrando discos e grooves raros de sua coleção, indo de Herbert Hancock a Incredible Bongo Band, passando por Funkadelic e Isaac Hayes. Depois entrou em sua fase de ouro, emendando hits da disco music com os primeiros sucessos do hip-hop, especificamente "The Message", cuja base é sua.

À medida em que o set progredia, Grandmaster mostrava suas habilidades não apenas como seletor de pérolas e manipulador de sons, mas também de maestro de multidões. Dominando perfeitamente a condução de boas vibrações, ele alternava Chic e Michael Jackson, Dr. Dre e Queen, David Bowie e Bee Gees com precisão cirúrgica. O público, empolgado, respondia aos berros, sem parar de dançar. O set havia começado antes do fim do show do Maroon 5 e arrebanhou uma massa considerável completamente hipnotizada por seu desfile de sucessos. Foi uma hora e meia inesquecível de muitas emoções sonoras, encerrando uma noite apenas OK do festival.