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Transgressora e provocativa, Hilda Hilst será a homenageada da Flip de 2018

Rodrigo Casarin

05/12/2017 18h00

Hilda Hilst será a próxima homenageada da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que em 2018 acontecerá entre os dias 25 e 29 de julho. Romancista, poeta, cronista e dramaturga, Hilda escreveu dezenas de livros, com destaque para títulos como "Cantares de Perda e Predileção", "Rútilo Nada" e "A Obscena Senhora D" – veja aqui a minha opinião sobre a escolha da festejada.

"Depois do Lima Barreto [o homenageado em 2017], a vontade era ter uma poeta que se voltasse mais para questões interiores. A proposta será repetir um programa com pluralidade de autores para desfazer a ideia de que um escritor negro ou uma autora mulher precisam tratar necessariamente de questões de raça ou gênero. Com a Hilda, teremos a mesma pluralidade da última edição da Flip, mas colocando outras questões em pauta", disse em entrevista ao blog Josélia Aguiar, curadora do evento.

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Apesar de propostas literárias e estéticas bastante diferentes, Josélia enxerga algumas proximidades entre Barreto e Hilda. "Ele se entregou totalmente à vida como escritor, sabia que não poderia se distrair com o mundo. Já a Hilda deixou uma vida social intensa, optou por não fazer mais parte de um círculo de amizades e festas, para morar na Casa do Sol e se dedicar totalmente à escrita. Eles têm essa entrega radical. O segundo ponto é que, cada um em seu tempo e a seu modo, foram transgressores. Ela foi uma mulher livre num momento em que isso ainda era um tabu".

Com a escolha de Hilda, a promessa é que a próxima Flip, que em 2018 alcança a 16ª edição, tenha um tom mais intimista, com espaço para a poesia e o teatro. Assuntos caros ao universo da autora – a natureza, o divino, o amor, a morte e a transcendência, além da arte e da literatura, evidentemente – deverão nortear os debates. A personalidade de Hilda, conhecida por ser desbocada, destemida e provocativa, também pode servir de fonte para as conversas.

Hilda na Casa do Sol.

Trajetória de Hilda

Hilda nasceu em Jaú, no interior de São Paulo, em 1930. Estreou na literatura aos 20 anos com "Presságio", livro de poemas elogiado, dentre outros, por Cecília Meireles. Em seguida, formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo, onde conheceu Lygia Fagundes Telles, outra gigante das letras no país. Hilda e Lygia mantiveram a amizade ao longo das décadas seguintes e não causará surpresa se a autora de "As Meninas", hoje com 94 anos, também servir de fonte de inspiração para algum debate da Flip.

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Vencedora de prêmios como o Jabuti e o APCA e traduzida para o inglês, francês, espanhol, basco, alemão, italiano, norueguês e japonês, no começo dos anos 90 Hilda largou a literatura que chamava de "séria" para se dedicar aos escritos pornográficos. Dessa fase que nasceu a tetralogia obscena, composta por "O Caderno Rosa de Lori Lamby", "Contos D'escárnio/ Textos Grotescos", "Cartas de um Sedutor" e "Bufólicas". Em 1996 a escritora foi morar na Casa do Sol, chácara que construiu em Campinas para ser seu espaço de estudos e criação – o lugar atualmente é sede do Instituto Hilda Hilst. Casou-se com o escultor Dante Casarini, não teve filhos e morreu em 2004.

Hilda e Lygia.

Se o interesse pela obra de Hilda era crescente nos últimos anos, isso deverá se intensificar em 2018. A promessa é que até dezembro do ano que vem todo o trabalho da autora, incluindo textos inéditos, esteja nas livrarias por meio de diversas editoras. Hoje, a Globo Livros tem em catálogo os títulos "Pornô Chic" e a compilação de entrevistas "Fico Besta Quando me Entendem". No início deste ano, a Companhia das Letras lançou "Da Poesia", que reúne toda a obra poética de Hilda. É pela Companhia que também sairão livros como "Da Prosa", uma adaptação em HQ assinada por Laura Lannes de "A Obscena Senhora D." e uma nova edição de "Amavisse". Mais adiante, em 2020, a editora promete publicar a biografia da autora.

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Patronos

Quem deseja contribuir para que a Flip tenha uma boa saúde financeira, pode colaborar com o programa de patronos da edição de 2018. Trata-se de um meio para que pessoas físicas façam as vezes de mecenas da Festa. Em troca, recebem benefícios como ingressos para a programação principal, convites para o coquetel de boas-vindas aos autores e abatimento no Imposto de Renda de Pessoa Física.

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Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.