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Com cenas de ação cada vez mais inacreditáveis, Velozes & Furiosos 8 é o mais divertido da série

Roberto Sadovski

13/04/2017 10h16

Não existe nada como Velozes & Furiosos. De cópia de Caçadores de Emoção, trocando pranchas de surf por carros tunados, uma tribo urbana por outra, a série transformou-se num colosso de espionagem internacional, terrorismo cibernético, tecnologia de ponta e locações paradisíacas. Tudo isso embalado por narrativa de novelão, atores devorando o cenário e cenas de ação de fazer Isaac Newton corar. Por algum milagre cinematográfico, a mistura toda ainda funciona, ancorada pelo carisma de Vin Diesel e pela insistência na importância da família, que de alguma forma humaniza todo o conjunto. Some a isso o elenco mais diverso e multiétnico do cinemão pop e o resultado é um animal único: não existe nada como Velozes & Furiosos.

Este oitavo episódio, que na gringa ganhou o título The Fate of the Furious (ou "O Destino dos Furiosos"), consolida a mudança apontada no quinto (e ainda melhor) filme da série, ambientado no Rio de Janeiro, que deixou de lado a temática das corridas urbanas e evoluiu para um heist movie, um filme de ação mais complexo e menos hermético. Agora sob a direção de F. Gary Gray (Uma Saída de Mestre, Straight Outta Compton), Velozes 8 é também o começo de uma nova fase, que chega com o trampo de continuar a série após a morte de Paul Walker, co-protagonista e parceiro de Vin Diesel, morto durante as filmagens da última aventura. O roteirista Chris Morgan teve uma ideia esperta para dar continuidade ao tema "família", mantendo a unidade da série, mas jogou a aposta na estratosfera.

Charlize Theron é a malvadona que faz Vin Diesel trair sua família

Desta vez, a ação começa com Dom Toretto (Diesel) aproveitando sua lua de mel com Letty (Michelle Rodriguez) em Cuba. Ele é abordado por uma mulher misteriosa, Cipher, (Charlize Theron), que de alguma forma (não vou entregar o motivo, relaxe) o convence a virar as costas para sua família e trair seus valores. Dom a ajuda em um par de roubos espetaculares e dispara um plano que coloca em risco a segurança do planeta. Um salto e tanto para quem, há quase duas décadas, se preocupava em assaltar caminhões para garantir a grana para os carros tunados. Do lado dos mocinhos, Letty junta-se a Roman (Tyrese Gibson), Tej (Ludacris) e Ramsey (Nathalie Emmanuel, herança do filme anterior) sob a liderança de Hobbs (Dwayne Johnson). Para colocar mais tempero, o manipulador Sr. Ninguém (Kurt Russell, divertindo-se horrores) coloca o vilão de Velozes 7, Deckard (Jason Statham), do lado dos anjos.

A trama, claro, não faz o menor sentido, uma mistureba pseudo revolucionária armada por Cipher para "manter os governos responsáveis", envolvendo o roubo de ogivas nucleares em uma base na vastidão gelada da Rússia. Como os melhores vilões de James Bond, ela tem uma base inexpugnável (um avião que jamais pousa voando entre "pontos cegos" do controle de tráfego aéreo mundial) e monólogos com voz de veludo que a pintam como uma mulher sem coração. Charlize, claro, abraça a personagem sem pudores, injetando um mínimo de humanidade no que é um personagem unidimensional. Funciona bem melhor o "bromance" de Johson e Statham, dois pilares da testosterona que vivem às turras, trocando as provocações mais divertidas que o cinema pode criar – uma das pérolas despejadas por Dwayne, cada vez mais um super-humano com troncos no lugar de bíceps, faz com que Jason não segure a risada, algo que não deveria estar no script.

Jason Statham troca uma ideia sadia com Dwayne Johnson

As pinceladas de humanidade emolduram o que realmente interessa em Velozes & Furiosos: as cenas de ação, e elas não decepcionam. Da corrida pelas ruas de Cuba que abre o filme, passando por um roubo numa base em Berlim, uma perseguição pelas ruas de Nova York e o clímax gelado na Rússia, Velozes 8 amplia o escopo de maneira ao mesmo tempo ridícula e espetacular. São carros esmagados por uma bola de demolição, são carros guiados remotamente que lembram os zumbis de Guerra Mundial Z, são carros (e tanques!) perseguidos por um submarino! A coisa chegou no ponto que, quando Chris Morgan diz ter uma ideia para levar a série ao espaço, não tem como não levá-lo a sério.

Esse exagero pirotécnico, embalado pelo tema "tudo-pela-família", de alguma forma ainda funciona. Talvez por entender que Velozes & Furiosos não habita o "mundo real", e sim uma realidade paralela ampliada, em que carros e seus pilotos se comportam como super-heróis, a platéia entre no espírito e perceba o quanto a série é divertida. E essa é a palavra-chave: diversão. Não é por acaso que seus os filmes mais fracos sejam aqueles que trocam o caos veicular por uma trama mais sóbria e "realista". Com o elenco cada vez maior, os riscos cada vez mais absurdos e a ação cada vez mais inverossímil, Velozes & Furiosos 8 é o mais divertido de todos. Vai faturar uma fortuna. O céu é o limite? Acho que Vin Diesel e cia. riscaram essa palavra do vocabulário.

Sobre o autor

Roberto Sadovski é jornalista e crítico de cinema. Por mais de uma década, comandou a revista sobre cinema "SET". Colaborou com a revista inglesa "Empire", além das nacionais "Playboy", "GQ", "Monet", "VIP", "BillBoard", "Lola" e "Contigo". Também dirigiu a redação da revista "Sexy" e escreveu o eBook "Cem Filmes Para Ver e Rever... Sempre".

Sobre o blog

Cinema, entretenimento, cultura pop e bom humor dão o tom deste blog, que traz lançamentos, entrevistas e notícias sob um ponto de vista muito particular.