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Quem disse que o amor está fora de moda? Escritor português conquista mais de 1 milhão de fãs com textos emotivos

Rodrigo Casarin

26/04/2017 14h39

Você já ouviu falar em Lamechalândia? "Lamechalândia é a terra de quem sente. Somos todos moradores dessa terra, por mais que alguns tenham receio de demonstrarem. Mas não existe vida se não estivermos, pelo menos por vezes, a habitar esse lugar. Eu vivo todos os dias por lá, com todo o orgulho".

Essa é a definição de Pedro Chagas Freitas, escritor português que criou essa terra imaginária que se assemelha, em alguns pontos – o saudosismo, o sentimentalismo –, ao seu próprio país. Segundo o autor, no Brasil Lamechalândia poderia ser chamada de "Emoçãolândia" ou "Sentimentalândia".

Há pouco Pedro lançou por aqui, pela Verus, "Prometo Perder" – antes disso, "Prometo Falhar", seu trabalho mais conhecido, tinha saído no país pela Novo Conceito. Com quase 1,3 milhão de seguidores no Facebook, os escritos do português falam sobre rebeldia, submissão, saudades, desejo, prazeres, frustrações, repressões e, claro, amor, sentimento tantas vezes colocado em xeque nos nossos dias.

"Pode até haver algo melhor do que o amor neste mundo, mas eu, com toda a sinceridade, não o conheço. Escrevo o que as minhas personagens me pedem, o que a história pede. Escrevo sem barreiras, é essa uma das melhores partes de escrever: um processo de liberdade ativa", diz em entrevista ao blog.

O sentimentalismo de Pedro vem, segundo ele, inspirado por grandes autores. Dentre suas principais referências cita Clarice Lispector, Herberto Helder, Rui Nunes, José Saramago, Carlos Drummond de Andrade e, surpreendentemente, Rubem Fonseca, isso para ficar apenas em alguns que escrevem em português. "Admiro todos os grandes poetas, todos os grandes contadores de histórias, todos aqueles que se atiram ao texto com as vísceras, sem medos".

Redes sociais como fator decisivo na carreira

Aos 37 anos, Pedro já tem 23 livros publicados, um números que impressiona – e lembra a intensa produção de outro português, o incensado Gonçalo Tavares, que também lança um trabalho atrás do outro. O autor atribui essa quantidade de títulos à necessidade de escrever diariamente. "Um dia sem escrever é um dia falhado, um dia vazio, oco". Com isso, garante ter mais de uma centena de histórias acumuladas em sua casa.

Toda essa produção só encontrou uma boa gama de leitores graças às redes sociais, fator decisivo na carreira de Pedro, que enxerga nelas um meio para a real democratização da escrita e da literatura. "Antes das redes sociais só quem tinha livros publicados poderia ter leitores; agora podemos muito bem ter milhares ou milhões de leitores sem ter um único livro publicado. Isso é maravilhoso: faz com que todos possamos escrever e ser lidos sem amarras. E todos somos escritores, não tenho a menor dúvida, por mais que só alguns é que escrevam".

Não bastassem os livros em si, Pedro ainda desenvolve jogos que incentivam a escrita e ajudam a desenvolver técnicas para que alunos se motivem a escrever. De sua mente criativa surgiram "A Fábrica da Escrita", jogo de tabuleiro, e "O Super Gênio", de cartas. "É um lado muito rico da minha vida: adoro inventar metodologias, jogos, técnicas que façam com que cada autor, seja ele criança ou adulto, consiga encontrar a sua voz, a sua forma de se expressar através das palavras escritas. Já dezenas de autores lançaram os seus livros depois de realizarem as minhas oficinas de escrita – é uma sensação excelente, realmente ótima, descobrir, todos os dias, que há tanto talento espalhado por aí".

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.