Livro de Donald Trump mostra Estados Unidos como o inferno na Terra
Na véspera de Donald Trump assumir a Casa Branca, resolvi dar uma lida em um de seus livros. Aleatoriamente, peguei "América Debilitada: Como Tornar a América Grande Outra Vez", de 2015, que saiu no Brasil no ano passado pela CDG Edições e Publicações. Não sei se é por estar no papel, mas o discurso de Trump, apesar de ser coerente com o que ele costuma declarar por aí, assustou-me ainda mais.
Esbravejador, a ira de Trump só dá trégua quando fala de si. Parece que o próximo presidente dos Estados Unidos está permanentemente à beira de um infarto, tamanha a sua raiva, e a impressão que passa é que assumirá um dos países mais caóticos do mundo.
"Os imigrantes ilegais ocuparam empregos que deveriam ser destinados à nossa população legal, enquanto mais de 20% dos americanos estão atualmente desempregados ou em subempregos. O congresso está num beco sem saída há anos e é virtualmente incapaz de lidar com qualquer um dos nossos problemas domésticos mais urgentes. Enquanto isso, o alicerce deste país – a classe média – e aqueles 45 milhões de presos à pobreza têm visto sua renda declinar nos últimos 20 anos. E até nossos advogados e juízes, os 'sábios' pensativos, têm pisado na Constituição americana, o baluarte de nossa democracia. Quanto à presidência e ao setor executivo, a incompetência está além da imaginação", escreve.
Ainda brada contra políticos (que "iludem amplamente com suas falas e campanhas"), lobistas ("com as mãos em nossos bolsos em nome de seus clientes") e mídia ("que estão tão perdidos no que se refere à justiça que não têm nenhum conceito sobre a diferença entre 'fato' e 'opinião'"). Escreve como se ele mesmo não fosse um político que se utilizou amplamente de notícias falsas e distorções da mídia durante a campanha e que possui diversos conflitos de interesse entre a posição que ocupará a partir de amanhã e as empresas das quais é dono.
Trump também se volta para questões internacionais, claro. Acusa Vladimir Putin de passar a perna em Obama em intervenções na Síria, o que levaria o russo a se tornar efetivamente o único líder mundial. Queixa-se de "trilhões de dólares" gastos no Oriente Médio sem que as iniciativas tenham resultado em algo palpável a não ser "a alienação de nosso melhor aliado, Israel". E ataca o acordo de paz que os Estados Unidos firmou com o Irã no que se refere a armas nucleares. "O Conceito da grandeza americana, de nosso país como líder do mundo livre e a ser liberto, desapareceu", queixa-se.
O futuro presidente dos Estados Unidos cria um cenário apocalíptico para propositalmente se apresentar como, aparentemente, a única solução possível, o salvador da nação. "Não consegui ficar parado a ver o que estava ocorrendo ao nosso maravilhoso país. Esse caos pede por liderança do pior modo possível. Necessita de alguém com bom senso e perspicácia nos negócios, uma pessoa que possa realmente reconduzir a América ao que nos fazia poderosos no passado […]. O que precisamos é de uma liderança que consiga lidar com essa bagunça e comece a aplicar soluções práticas a nossos problemas".
O mais preocupante, como ele mesmo sabe – tanto que registra isso no escrito e se aproveitou formidavelmente disso na corrida presidencial – é que seu discurso costuma ser bem recebido por parte significativa e estridente da população. As palavras de Trump são semelhantes às utilizadas por qualquer ser totalitário – que muitas vezes descamba em um ditador – que visa o poder. O "outro" como um problema, o nacionalismo exacerbado, a certeza de que sua nação é superior e a convicção de que ele é o único honesto e competente em um mar de lama lembram o discurso de certo governante que assumiu a Alemanha em 1933. Sim, em diversos momentos ler "América Debilitada" me remeteu à leitura de "Minha Luta", de Adolf Hitler.
E o próximo presidente dos Estados Unidos faz questão de mostrar que está mesmo querendo todas as brigas. A capa de "América Debilitada" traz um Trump raivoso, enfurecido, escolha que ele mesmo justifica. "Estamos falando da 'América Debilitada'. Infelizmente, há bem poucas coisas bacanas sobre o nosso país. Assim, queria uma fotografia que refletisse a fúria e a insatisfação que eu sentia. Não estamos em uma situação de regozijo nesse momento. Estamos numa situação em que temos de voltar ao trabalho para tornar a América grande outra vez".
Sim, há razões para temer.
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