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Conheça Thor, o fisiculturista que se tornou um vingador... do metal

Ele tinha a força! Thor foi da quintessência do heavy metal a decadência - Divulgação
Ele tinha a força! Thor foi da quintessência do heavy metal a decadência Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

23/06/2017 16h43

Conta a mitologia que no alvorecer do heavy metal o deus pagão dos trovões esteve entre nós com calça de couro, acessórios com rebite e marreta à mão.

Thor ele mesmo! acabou se tornando um dos nomes mais quentes do rock nos anos 1970, em um momento em que o gênero ganhava performance e maquiagem com a ascensão de Alice Cooper e Kiss.

Fisiculturista desde os 14 anos com títulos acumulados nos Estados Unidos e Canadá, Jon Mikl não demorou em assumir a alcunha e botar os bíceps para trabalhar no palco.

“Eu imaginei que música e músculo dariam uma mistura perfeita”, conta, em entrevista ao UOL, por e-mail. “Eu queria subir ao palco como uma força nuclear. Se Alice Cooper era o rei do horror, Bowie era um alienígena e Gene Simmons cuspia fogo, então eu seria um super-herói hercúleo.”

A força divina era explícita. Ele entortava barras de ferro (muitas vez no dente), esmagava blocos de concreto com um martelo no próprio perto e botava o pulmão de aço para funcionar ao encher uma bolsa de água quente até estourar. Muitas vezes, saia do palco inconsciente ou com a costela quebrada.

“Um dos atos mais loucos que eu fiz no palco foi voar pela multidão como um super-herói pendurado por um arnês em Las Vegas, em 1976. O cabo quebrou e eu caí de uma altura de seis metros na beira do palco”, relembra.

A aparição de um Deus de tão alta estatura no rock, no entanto, cairia de vez no esquecimento se não fosse pelo documentário “I Am Thor”, de Ryan Wise, um dos destaques da programação do In-Edit 2017, em cartaz em São Paulo até domingo (25).

O filme começa no auge dos poderes desse garoto canadense que ajudou a escrever uma importante página na história do rock com o movimento “Body Rock” – onde o peito cabeludo e a sedução no palco eram tão importantes quanto o gogó e um bom riff. Mas ele reconhece: a reviravolta na sua vida foi digna de um filme da Marvel.


Um deus bastante humano

Às vésperas de lançar de seu álbum de estreia, “Keep The Dogs Away”, em 1977 (na verdade, um ótimo álbum de glam rock), Thor se viu em uma disputa entre seu empresário e a gravadora para lançá-lo em uma grande turnê.

Ele alega que chegou a ser sequestrado para sabotar os planos de divulgação da banda, mas não faz esforço em explicar o caso. "Desculpe, eu não posso falar sobre isso", respondeu, quando questionado pela reportagem.

Real ou não, o rapto do menino de ouro não impediu que o disco vendesse bem, chegasse ao 1° lugar nas paradas do Reino Unido e lotasse sua agenda de shows. Conta a lenda que em uma dessas apresentações Jimmy Page vibrou na plateia com a demonstração de força.

Nos anos 1980, no entanto, Thor perdeu audiência e passou a ser visto apenas como uma personalidade ‘ freak’. Seu clipe para a música “Lightning Strikes” acabou entrando para a história... como o pior clipe já feito.

Tentou carreira no cinema, com participações em filmes de terror B, mas a má administração financeira, que o assaltava desde os dias gloriosos, fez com que esse filho de Odin tivesse um sério colapso mental, o que o deixaria cego de um olho e recluso em sua vida doméstica. “Há altos e baixos na vida de qualquer humano”, ele reflete hoje, aos 62 anos.

Thor nos dias de hoje: Um pouco mais de gordura e peças falsas no peito - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Thor nos dias de hoje: Um pouco mais de gordura e peças falsas no peito
Imagem: Reprodução/Twitter
A ideia do documentário surgiu exatamente quando ele reunia suas forças para a grande volta aos palcos.

É verdade que os músculos murcharam e ele passou a usar peças falsas no peitoral para lembrar os tempos em que salvava qualquer espetáculo do tédio, mas reconquistou o respeito do público com um disco novo, cujo título faz jus à fama: “Metal Avenger”, ou Vingador do Metal.

De volta à estrada, o cantor agora escreve um livro sobre sua vida e já tem pronto um roteiro para um filme. “É uma aventura que não tem nada a ver com Thor”, avisa. “Eu sou Thor, mas também tenho muitas outras coisas que eu gosto de fazer”.

Lista: gosta de pintar, cozinhar, fazer alpinismo e observar pássaros. “A vida está cheia de oportunidades e maravilhas”, conclui, otimista.

Mesmo vendo o rock e o metal “no banco de trás do mainstream”, Thor tranquiliza e manda um recado para nós, reles mortais: “O rock e o metal nunca vão morrer. Sempre haverá uma legião de guerreiros do metal. Irmãos de ferro, irmãs de aço”.

Em foto de divulgação nos anos 1980 - Divulgação - Divulgação
Em foto de divulgação nos anos 1980
Imagem: Divulgação
O que viu e viveu o Deus do Trovão no rock:

Pela força do rock

Inspirado pelo irmão, Thor começou a levantar peso aos sete anos, embora tivesse apenas uma pretensão quando viu os Beatles pela primeira vez na TV em 1964: Ser um rock star. Formou algumas bandas com amigos e encontrou a alquimia perfeita: “Achava que, se eu treinasse ouvindo músicas pesadas de bandas como Led Zeppelin e Black Sabbath, isso me levaria a um frenesi e eu obteria um ótimo desempenho.”

Contemplem meu corpo

As madeixas loiras e o corpo escultural logo abriram espaço para Jon no showbiz. Naquele momento, ele estava no pico de sua energia. “Eu era um jovem adolescente ansioso para pegar geral e exibir meu corpo”, comenta. “Não diferente dos jovens de hoje cheios de hormônios que andam nus por aí.” Em seu primeiro trabalho em um espetáculo teatral, apareceu nu no palco. “Eu sentia que se eu entrasse completamente pelado na frente de uma multidão de mulheres, então eu estaria bastante confortável para subir no palco e fazer qualquer coisa.”

Nocauteado por Ozzy Osbourne em 1981 - Divulgação - Divulgação
Nocauteado por Ozzy Osbourne em 1981
Imagem: Divulgação

Amigo das estrelas

Com o grande sucesso do primeiro disco, Thor logo se tornou amigo de outros grandes nomes do rock. Nesta foto de 1981, ele aparece sendo nocauteado por Ozzy Osbourne. “Eu adorava ele e a Sharon”, conta. “Eu conhecia Paul Stanley e Gene Simmons quando vivia em Nova York e amava visitá-los.”