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“Vou defender minha arte”, diz Ricardo Lísias sobre livro com pseudônimo de Eduardo Cunha que virou imbróglio jurídico

Rodrigo Casarin

24/04/2017 10h39

No final da semana passada, uma decisão da justiça do Rio de Janeiro derrubou a liminar que proibia a circulação do livro "Dário da Cadeia", assinado por "Eduardo Cunha (Pseudônimo)" e publicado pela Record. Os advogados do ex-deputado homônimo ao autor tinham conseguido barrar a publicação na justiça, mas um novo parecer, a favor da editora, permitiu que o texto finalmente chegasse aos leitores, só que com uma condição: inicialmente, o nome do escritor por trás do trabalho deveria ser revelado. Essa contrapartida seria revogada em uma nova liminar favorável à editora, mas o "santo" já estava entregue: tratava-se de Ricardo Lísias.

Mesmo sem Lísias querer falar muito sobre o imbróglio no qual ainda está envolvido, conversamos por telefone na manhã desta segunda-feira. A posição dele perante a tudo que vem acontecendo é bastante clara: "Eu vou defender a minha arte, minha estética, minha criação. Não posso mais negar que sou o escritor, mas também não posso falar em nome do pseudônimo. A ideia é que livro causasse incômodo, é uma literatura performática".

Essa não é a primeira vez que o escritor se vê em meio a uma confusão. Quando lançou "Divórcio", em 2011, foi acusado de expor sua ex-mulher e diversas pessoas do meio jornalístico. Já após o lançamento de "Delegado Tobias", em 2015, a Polícia Federal instaurou um inquérito contra o livro, o que teve ainda dois desdobramentos artísticos: outra publicação e uma peça teatral. Sim, para quem não o conhece, Lísias é um artista que a todo momento parece jogar com os limites entre o real e o ficcional.

"A literatura realmente política, de intervenção efetiva, é a que incomoda o poder. Escrever sobre o oprimido não incomoda o opressor. O que muda a realidade dos índios, por exemplo, é incomodar o poder que tira o direito deles. É importante termos ações como a do Banksy [artista inglês], que fez o hotel com a pior vista do mundo [fica na Cisjordânia, junto ao muro que separa a Palestina de Israel]. Se a arte não fizer algo do tipo, o poder adora, porque não incomoda em nada".

E, sobre o atual processo, afirma que já trabalha em um ensaio a respeito da batalha jurídica. "Eu acho fundamental o fato de que o artista é dono inclusive do nome com que assina sua obra, que hoje em dia já é parte da obra. Na capa do livro está absolutamente claro que é um pseudônimo. Quero que o direito fique longe da arte, principalmente quando ainda não a compreende e a julga de maneira destrutiva". O novo livro já tem até nome: "A Literatura no Banco dos Réus – Uma Tentativa de Pacificação Entre Arte e Direito".

Sobre o autor

Rodrigo Casarin é jornalista pós-graduado em Jornalismo Literário. Vive em São Paulo, em meio às estantes com as obras que já leu e às pilhas com os livros dos quais ainda não passou da página 5.

Sobre o blog

O blog Página Cinco fala de livros. Dos clássicos aos últimos sucessos comerciais, dos impressos aos e-books, das obras com letras miúdas, quase ilegíveis, aos balões das histórias em quadrinhos.