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Bom-moço, Jimmy Fallon pega leve nas piadas e decepciona no Globo de Ouro

Mauricio Stycer

09/01/2017 02h02

A 12 dias da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, havia muita expectativa sobre as piadas que Jimmy Falllon faria como apresentador da 74ª edição do Globo de Ouro. Foi uma decepção.

A missão do apresentador era, de fato, difícil. Antes dele, o papel já havia sido exercido por humoristas da pesada, como Ricky Gervais, Tina Fey e Amy Poehler. E Fallon faz a linha "light", o "bom moço" que não gosta de constranger ninguém.

O seu número de abertura, de pouco mais de quatro minutos, deixou a desejar. Primeiro, pelo susto que o comediante levou ao ver que o aparelho colocado para exibir o texto, o teleprompter, não estava funcionando (logo, foi trocado por um outro em boas condições). Depois, pelas piadas fracas que contou.

globodeourojimmyfallon"Aqui é o Globo de Ouro, um dos poucos lugares onde os Estados Unidos ainda honram o voto popular". A referência foi ao fato de Hillary Clinton ter conseguido mais votos nas urnas do que Trump, mas a piada não faz sentido já que o Globo de Ouro é escolhido por apenas 90 jornalistas estrangeiros baseados em Hollywood – não tem nada de democrático.

Uma segunda referência a Trump veio quando Fallon falou de "Game of Thrones" e comparou um dos grandes vilões da série da HBO ao presidente eleito: "A série tem tantas reviravoltas e momentos difíceis. Muitas pessoas se perguntaram como seria se o rei Joffrey tivesse vivido. Bem, em 12 dias, vamos descobrir".

Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusado de ter promovido um ataque cibernético durante as eleições para prejudicar Hillary Clinton, foi homenageado com um comentário bobo: "Claro, há os votos para os Globos de Ouro desta noite, que foram cuidadosamente auditados pela empresa de auditoria Ernst, Young … e Putin".

Das 74 edições do Globo de Ouro, apenas nove contaram com apresentadores. Em 1995, coube aos atores John Larroquette e Janine Turner serem os primeiros. Depois, só em 2010, quando Rick Gervais assumiu o posto e, com seu humor ácido, fez muito estrago – no bom sentido. Em 2013, ele foi substituído por Tina Fey e Amy Poehler, que também não deixaram pedra sobre pedra. Gervais retornou em 2016, para mais uma noite de piadas incorretas.

Será que a associação de correspondentes estrangeiros de Hollywood vai repetir a dose com Jimmy Fallon em 2018? Espero que não. Estas noites de premiação, longas e cansativas, precisam de humoristas mais corajosos para animar a festa.

Meryl Streep salva a noite
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Tudo que Fallon não entregou, Meryl Streep compensou com um discurso contundente ao receber um prêmio especial. A atriz fez várias alusões ao momento político dos Estados Unidos e a Trump.

"Hollywood está infestada de gente de fora e estrangeiros. E se você chutar todos nós para fora, você não terá nada para assistir, exceto futebol e artes marciais, que não são as artes", disse ela, no que soou como uma alusão à promessa de Trump de expulsar imigrantes ilegais.

Lembrando um episódio em que Trump zombou de um jornalista do "New York Times" que sofre de uma doença congênita, a atriz disse: "Quebrou meu coração quando vi, e eu ainda não consigo tirar da cabeça porque não estava em um filme, era na vida real. Esse instinto de humilhar, quando parte de alguém em uma plataforma pública, afeta a vida de todos, porque dá permissão que outros façam o mesmo."

E acrescentou: "O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita à violência. Quando os poderosos usam sua posição para intimidar os outros todos nós perdemos."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.