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24/09/2010 - 08h10

Jabor e festival celebram um Rio que só existe em sonhos

Mauricio Stycer
Crítico do UOL
  • Tammy di Calafiori em Suprema Felicidade, de Arnaldo Jabor, ambientado nos anos 50

    Tammy di Calafiori em "Suprema Felicidade", de Arnaldo Jabor, ambientado nos anos 50

Duas décadas depois de trocar o cinema pelo jornalismo, onde construiu uma bem-sucedida carreira como articulista conservador, Arnaldo Jabor mereceu a honra de exibir na noite de quinta-feira “Suprema Felicidade”, o filme que marca o seu retorno à sétima arte, na abertura do Festival de Cinema do Rio.

Foi uma noite de celebração de um Rio de Janeiro que não existe mais. E não apenas porque o filme de Jabor se passa entre as décadas de 40 e 50. A sessão de gala, com direito a tapete vermelho e “black-tie”, ocorreu no reformado Cine Odeon, isolado por grades dos mendigos e dos integrantes da equipe do “Pânico” que ocupavam a decadente Cinelândia.

Num esforço de afirmação que contrasta com o tamanho e a tradição do Rio, todos os patrocinadores do evento justificaram seus investimentos pelo fato de o festival ser “carioca”. Jabor, exilado em São Paulo, falou da sua percepção que a cidade vive uma “renascença cultural”. E completou: “Depois de 30 anos sendo governada por canalhas, corruptos e incompetentes”.

ASSISTA AO TRAILER DE "A SUPREMA FELICIDADE"

“Suprema Felicidade” constrói-se como um mosaico, a partir das vivências de um menino nascido no pós-guerra, filho de um militar autoritário e uma dona-de-casa frustrada. Estudante em um colégio de padres, vive a adolescência entre brigas de turmas, paixões platônicas e aventuras na zona. Sua principal referência é o avô, músico e boêmio.

“O mundo está muito pós-utópico”, disse Jabor antes da sessão. “Fui fazer um filme sobre uma coisa que eu conheço – eu mesmo”. “Jabor, você é foda”, uma mulher gritou da platéia neste momento.

Com requintes fellinianos, o Rio idealizado da infância de Jabor conta também com um gentil comprador de revistas e jornais velhos, um pipoqueiro que ensina piadas sacanas aos meninos, o onipresente mata-mosquitos, padres maliciosos, gente que dança na rua, prostitutas de todos os tipos (jovens e velhas, bonitas e feias, magras e gordas) e, até, um teatro de anões.

Há momentos sublimes, de grande beleza, em “Suprema Felicidade”. Cenas de impacto, construídas em registro operístico ou teatral, que mostram um Jabor em forma, sensível e afiado. Idem em algumas falas: “Ninguém é feliz, Paulinho. Com sorte, é alegre”, ensina o avô ao menino que protagoniza a história.

Mas são momentos e diálogos soltos, que não formam um conjunto consistente nem atraente. É difícil, em muitos momentos, compartilhar das lembranças de Jabor. Na sessão exclusiva para convidados da estréia, lotada, com gente sentada no chão, pelo menos três dezenas de espectadores deixaram o cinema antes do fim do filme.

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