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27/09/2010 - 07h00

"Líbano" faz sua estreia com duas sessões no Festival do Rio

Carlos Helí de Almeida
Colaboração para o UOL, do Rio
  • Foto de divulgação do drama Líbano que estreia no Festival do Rio nesta segunda-feira (27/9/2010)

    Foto de divulgação do drama "Líbano" que estreia no Festival do Rio nesta segunda-feira (27/9/2010)

Vencedor do Leão de Ouro do Festival de Veneza de 2009, o drama de guerra “Líbano” faz sua estreia hoje no Festival do Rio, com sessões às 13h10 e 19h40 no Estação Vivo Gávea 5. O longa-metragem do diretor israelense Samuel Maoz oferece um novo e inesperado ponto de vista sobre a guerra entre Líbano e Israel (1982): a história inteira se passa a bordo de um tanque israelense ocupado por quatro soldados, que atravessa uma cidade inimiga devastada por bombas.

A realidade do que acontece no front é filtrada pelas lentes da mira do canhão do bólido de combate. “Desde o início, sabia que o sentimento que eu queria expressar não seria entendido corretamente pelo espectador se eu usasse uma estrutura tradicional de narrativa. Daí a ideia de enclausurar a ação do roteiro no interior do tanque. A ideia era colocar o público dentro dele também, fazê-lo passar pelas aflições dos personagens”, explicou Maoz em entrevista ao UOL em Veneza.

“Líbano” é o mais recente exemplar de uma vertente do cinema israelense contemporâneo, determinada a refletir sobre a rixa entre os dois países. Em anos anteriores, outros títulos da mesma linhagem ganharam a atenção do mundo, como “Beaufort” (2007), de Joseph Cedar, e a animação “Valsa com Bashir” (2008), de Ari Folman, ganhador do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, inspirado em experiências vividas pelo próprio diretor, que participou do conflito como soldado.

O filme de Maoz se distingue dos seus pares ao permitir que o tema do trauma da guerra possa ser aplicada a qualquer outro tipo de conflito bélico. O roteiro de “Líbano” tem raízes autobiográficas: foi construído a partir das memórias do diretor, que lutou na guerra do Líbano quando servia o Exército. “Os eventos históricos, em si, são menos importantes do que a experiência emocional que eu desejava transmitir. Não fiz um filme sobre a guerra entre os dois países, mas sobre a vivência de ter participado de um episódio tão traumático como aquele”, disse Maoz.

A primeira e a última sequência de “Líbano” mostram imagens de um campo de girassóis. Todo o resto acontece dentro de um tanque apertado, sujo e barulhento, ocupado por quatro recrutas inseguros e um oficial que, aparentemente, não tem voz de comando. É o primeiro dia de combate de Assi (Itay Tiran), o comandante, Hertzel (Oshri Cohen), o carregador do canhão, Yigal (Michael Moshonov) e o fuzileiro Shmulik (Yoav Donat).

As poucas informações que a plateia recebe do que está acontecendo lá fora são as mesmas que os personagens. O clima de tensão e claustrofobia é crescente. Os jovens militares são guiados pelo medo e a fatal de orientação através do centro urbano em ruínas, cruzando com inimigos sírios, terroristas que usam civis como escudos humanos e falangistas (árabes cristãos), colaboradores dos israelenses que parecem tão perigosos quanto os libaneses.

Maoz, no entanto, diz que não teve a pretensão de homenagear heróis ou apontar culpados pelos problemas no Oriente Médio. “Os personagens não têm tempo para refletir se o que estão fazendo é errado ou não; são movidos por um instinto básico a qualquer ser humano, o de sobrevivência”, observou o diretor de 48 anos, que levou cerca de 20 para conseguir escrever o roteiro e, assim, exorcizar os fantasmas da juventude.

“Toda vez que tentava escrever sobre minhas experiências daquela época, sentia o cheiro de carne humana queimada. A lembrança das sensações daqueles momentos me impediam de continuar escrevendo”, justificou o diretor, que se formou pela Academia de Artes de Beit Zvi e até então ganhava a vida fazendo comerciais e filmes institucionais. “Fazer esse filme virou uma necessidade pessoal. Talvez tenha sido o melhor tratamento (psiquiátrico) que poderia ter tido”.

Mas nem Maoz nem seus companheiros de infortúnio saíram totalmente ilesos do episódio. O filme faz questão de esclarecer que a guerra não aproxima aqueles que compartilharam o trauma. “Essa história de camaradagem entre soldados que os filmes tradicionais sobre guerra costumam passar não é verdade. No filme, um dos personagens deixa isso claro ao dizer para o colega: ‘Não venha com essa, nunca fui seu amigo’. Quem já participou de uma guerra sabe que o que prevalece ali é o instinto de sobrevivência. Ninguém quer se encontrar depois para falar sobre aquilo, queremos mais é esquecer”.

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