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02/10/2010 - 07h02

Impulsionado pela presença de Ricardo Darín, ''Carancho'' coloca Pablo Trapero na linha de frente argentina

CARLOS HELÍ DE ALMEIDA
Colaboração para o UOL, do Rio
  • Ricardo Darín e Martina Gusmán prestam primeiros socorros em cena de Carancho

    Ricardo Darín e Martina Gusmán prestam primeiros socorros em cena de "Carancho"

Um dos nomes mais quentes do cinema argentino da nova geração, Pablo Trapero está de volta ao Festival do Rio com “Carancho”. Aqui, o autor de “Leonera” (2008), que disputou a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2008, investe no thriller de fundo social, usando como molde os antigos filmes noir americanos. O longa-metragem, que acaba de ser indicado pelo governo da Argentina para concorrer ao Oscar de produção em língua estrangeira, é uma das atrações da mostra Foco Argentina, dedicada à produção recente daquele país.

O filme, que ganha suas primeiras sessões para o público carioca nesse domingo (3) no Espaço de Cinema 1, às 14h45 e 19h15, descreve a história de amor entre um advogado (Ricardo Darín, de “O Segredo dos Seus Olhos”), que ganha dinheiro à custa de vítimas de acidentes de trânsito, e uma paramédica (Martina Gusman, mulher do diretor).

Em sua estréia no circuito comercial argentino, “Carancho” foi visto por mais de 220 mil espectadores, um recorde de abertura para os padrões do país. O diretor de 38 anos vê uma relação indireta entre o sucesso do novo filme na Argentina com a reputação de “Leonera”, a popularidade de Darín, um ídolo no país, e o Oscar de melhor filme estrangeiro desse ano conquistado por “O Segredo dos Seus Olhos”, de Juan José Campanella, estrelado por Darín.

“É inegável a contribuição desses elementos”, confirmou Trapero ao UOL Cinema, em Cannes. “O mais importante, no entanto, é a história que ele o filme conta. Em apenas uma semana em cartaz, 'Carancho' atraiu mais espectadores do que toda a carreira de “Leonera” nos cinemas argentinos. Aqueles que admiram Darín foram aos cinemas logo nos primeiros dias. Mas ninguém recomendaria um filme ruim. Ganhamos no boca a boca”.

Coube a Darín o papel de Sosa, um advogado especializado em acidentes rodoviários que ronda hospitais, delegacias e locais de acidentes à procura de novos clientes. Ele chega a simular pequenos desastres rodoviários para ganhar dinheiro. Sosa é um dos caranchos argentinos, ou aves de rapina, em espanhol, que vivem das gordas comissões das seguradoras.

O personagem foi escrito especialmente para o ator. “A relação de admiração entre diretor e ator torna o diálogo e a ação mais vivos”, justifica o diretor, que é coautor do roteiro, junto com Alejandro Fadel, Martín Mauregui e Santiago Mitre, “Ao escrevermos uma história com um ator em mente, vemos o personagem no momento em que ele é descrito em palavras; ele se torna mais concreto, ganha mais corpo. É um processo de criação muito mais natural, que envolve o diretor, o ator e o personagem.”

As aterradoras estatísticas do número de mortos nas estradas argentinas – uma média de 8 mil por ano – foram um dos pontos de partida para a história de “Carancho”. “Queria fazer uma história de amor, um drama clássico, com dois personagens muito intensos. Por outro lado, tinha na cabeça o número de mortes no trânsito na Argentina. Interessava-me o aspecto social desses números assustadores. Mas não faço distinção entre diversão e reflexão. Para mim, qualquer filme é social ou político. O cinema é uma arte encravada na sociedade. É impossível pensar em um sem o outro.

Trapero disse que “se sentiu invadindo a estrutura do filme noir”. “Porque é um gênero que retrata, por omissão, uma realidade mais complexa que a de seus personagens centrais. Gosto dessa maneira de incorporar uma observação sobre algo concreto e cotidiano com uma linguagem distinta, que tem suas próprias regras”, comentou o diretor, admirador da velha escola policianesca.

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