O que é Cinema Novo? Sete filmes essenciais para entender o movimento
Do UOL, em São Paulo
03/11/2016 12h24
A realidade do Brasil na tela do cinema. Este sempre foi o farol do Cinema Novo, principal movimento cinematográfico no Brasil nos anos 1960, que ganha um ensaio poético no documentário “Cinema Novo”, com estreia nesta quinta-feira (3).
Dirigido por Eryk Rocha, filho do porta-voz do movimento, Glauber Rocha, o filme voltou com o prêmio principal para documentários no Festival de Cannes este ano, ao retomar a ideia de ruptura proposta pelos cineastas na época.
No lugar de cenários, as ruas. Ao invés das chanchadas, que imitavam o cinema internacional, câmera em movimento e o documentário invadindo a ficção. O resultado na tela foi uma verdadeira revolução cultural: A realidade nua e crua, mas também de extrema beleza e potência.
A escolha do sertão como paisagem é emblemática na trilogia clássica do movimento: “Vidas Secas”, de Nelson Pereira dos Santos, “Deus e o Diabo na Terra do Céu”, de Glauber Rocha, e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra.
No início, a terra árida serviu para expor a crueza e agonia do povo pobre em primeiro plano, mas, como um movimento caleidoscópio, o Cinema Novo criou outros caminhos.
Vieram as grandes cidades --nos filmes de Leon Hirszman, Arnaldo Jabor, Cacá Diegues e Paulo César Saraceni--, até chegar nas alegorias políticas, coloridas e pop, com Walter Lima Jr. e Joaquim Pedro de Andrade.
O contato, no entanto, sempre é agressivo, polêmico e político. Para entender mais o movimento, o UOL selecionou o melhor do Cinema Novo:
7 filmes essenciais para entender o Cinema Novo
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Imagem: Reprodução Imagem: Reprodução "Vidas Secas" (De Nelson Pereira dos Santos, 1963)
Nelson Pereira dos Santos foi o"muso inspirador" do Cinema Novo quando cruzou a fronteira entre ficção e documentário pela primeira vez com "Rio, 40 Graus" em 1955. Mas sua grande colaboração para o movimento foi a adaptação do clássico de Graciliano Ramos. Ao acompanhar uma família de retirantes, Nelson traduziu como poucos a angústia provocada pela seca, com uma direção realista, sem trilha sonora, e uma fotografia em preto e branco fortemente contrastada.
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Imagem: Divulgação Imagem: Divulgação "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (De Glauber Rocha, 1964)
O filme mais conhecido do movimento chegou quando o Cinema Novo ganhava visibilidade internacional. A história é sobre um casal do sertão (vivido por Geraldo Del Rey e Yoná Magalhães), que se divide entre o culto ao líder messiânico "Santo" (Lidio Silva) e ao cangaceiro Corisco (Othon Bastos). Enquanto filmava os mitos e a cultura do sertão de forma épica, o Brasil sofria o Golpe Militar. Com a câmera na mão, Glauber conseguiu cenas de pura beleza e grandiosidade, que inspiram até hoje o cinema no mundo todo
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Imagem: Divulgação Imagem: Divulgação "Os Fuzis" (De Ruy Guerra, 1964)
Moçambicano, Ruy Guerra desembarca no Brasil no início do movimento com a ideia de retratar a história de retirantes famintos que chegam a uma cidade em três tempos: a passagem dos retirantes, os depoimentos dos personagens e, por último, os soldados. Vencedor do Urso de Ouro de Berlim, o filme encerra a chamada trilogia de ouro do Cinema Novo, iniciada com "Vidas Secas" e "Deus e o Diabo".
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Imagem: Divulgação Imagem: Divulgação "A Falecida" (De Leon Hirszman, 1965)
Após visitar uma cartomante, Zulmira passa a ficar obcecada pela ideia da morte e com a possibilidade de se ter um enterro de luxo para compensar a vida simples. Marxista de formação, Leon tira os exageros do texto de Nelson Rodrigues e joga carga política na vida do subúrbio carioca. Com roteiro do próprio Leon e do documentarista Eduardo Coutinho, o filme marca a estreia de Fernanda Montenegro, nada menos que genial na pele da protagonista
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Imagem: Reprodução Imagem: Reprodução "O Desafio" (De Paulo César Saraceni, 1964)
Em plena ditadura militar, Saraceni colocou em prática a filosofia de Glauber ("Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça") e filmou "O Desafio" em poucos dias, usando um casal para discutir o momento de repressão. De um lado, Ada, esposa de um empresário industrial. Do outro, Marcelo, jornalista de esquerda. Um bônus no filme: Maria Bethânia faz participação cantando "Carcará", no início da carreira.
Onde assistir: Nunca relançado em DVD. Disponível em cópias piradas na internet -
Imagem: Reprodução Imagem: Reprodução "A Grande Cidade" (De Cacá Diegues, 1965)
Depois do sertão, o Cinema Novo volta seu olhar às metrópoles. O filme se inicia com Antonio Pitanga falando da cidade e de seus habitantes. A seguir, a história se desenrola em quatro personagens. A alagoana Luzia (Anecy Rocha), que chega ao Rio, no Morro da Mangueira, e faz amizade com Inácio (Joel Barcellos) e Calunga, vivido por Pitanga. Ela busca informações sobre o noivo Jasão (Leonardo Villar), que se revela um assaltante.
Onde assistir: Nunca relançado em DVD. Disponível em cópias piradas na internet -
Imagem: Divulgação Imagem: Divulgação "Macunaíma" (De Joaquim Pedro de Andrade, 1969)
Marca uma nova fase no Cinema Novo. Filmado a cores, o filme é quase um libelo tropicalista com sua estética pop, linguagem mais popular e espaço para o humor -- embora os temas e o desejo de criar um olhar novo sobre o Brasil perdurem. Foi também uma necessidade. Com o avançar da ditadura, as histórias tinham que ser mais cifradas. Nada melhor do que contar com a obra-prima de Mário de Andrade sobre o "herói sem nenhum caráter", encarnado por Grande Otelo.
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