Wim Wenders está em São Paulo, numa visita-relâmpago de três dias, como convidado de honra da 32ª. Mostra Internacional de Cinema. Há anos, o diretor da Mostra, Leon Cakoff tentava trazê-lo, mas só agora deu certo. "Leon foi incansável. Desta vez eu não tinha desculpa, sabia o quanto minha visita estava atrasada", comenta, bem-humorado, o diretor alemão, autor de filmes como "Paris, Texas" e "Asas do Desejo", que só este ano veio ao Brasil duas vezes - uma em agosto, para a "Sabatina da Folha", e agora.

Embora tenha vindo para receber um prêmio - o Troféu Humanidade, já concedido a Manoel de Oliveira, Eduardo Coutinho e Amos Gitai - sua agenda está longe de ser tranqüila. Demonstrando fôlego e bom humor invejáveis, o diretor de 63 anos conta que viu seis filmes ontem, além de apresentar todas as sessões de sua seleção pessoal, a mostra "Carta Branca", para a qual selecionou 15 títulos. Entre eles, figuram "O Pequeno Soldado", de Jean-Luc Godard, "A Rotina Tem seu Encanto", de Yasujiro Ozu, "A Sereia do Mississippi", de François Truffaut e também o recente "Longe Dela", da canadense Sarah Polley.

Wenders queria mais. "Gosto muito de ver filmes novos, mas aí eu teria de ficar mais tempo", lamenta. Ele está indo embora amanhã, para dar continuidade ao seu trabalho em dois novos projetos.

O primeiro será um documentário que ele espera concluir nos próximos meses sobre a trupe da bailarina alemã Pina Bausch. "Acompanhei o trabalho dela nos últimos 30 anos, agora não tenho mais desculpas para não fazer o filme. Ela não está ficando mais jovem, portanto, é melhor fazer logo".

Wenders está escrevendo um novo roteiro de ficção, que tem o título provisório de "Miso Soup" (sopa de missô) e será filmado em Tóquio, uma cidade especial para o realizador. "Tóquio é um de meus lugares favoritos do mundo, onde estive mais do que em qualquer outro. Já filmei lá dois documentários, "Tokyo-Ga" e "Identidade de Nós Mesmos". Mas este será uma ficção e ainda precisa de muita preparação", observa.

Palermo Shooting

Wenders também apresenta na Mostra seu mais recente filme, "Palermo Shooting", que concorreu à Palma de Ouro em Cannes e recebeu críticas ferozes.

Wenders garante que não se abalou com esta recepção. "Não fiquei desapontado, porque o público de lá amou o filme. Os críticos se dividiram e eu entendo um pouco porquê. Considerando que o tema da morte é um grande tabu no cinema e que em festivais as pessoas vêem dezenas de filmes e justamente o último põe tudo em questão, muitos deles viram o filme como uma ofensa pessoal, por isso ficaram furiosos".

Numa das cenas mais curiosas de "Palermo Shooting", que conta a história de um fotógrafo em crise, Finn (o roqueiro alemão Campino), assiste-se a um diálogo do protagonista com ninguém menos do que a Morte (Dennis Hopper) fazendo uma defesa do filme 35 mm. Wenders explica o que está por trás disso: "Nos últimos 150 anos, ficamos tão acostumados culturalmente à idéia de que tirar uma foto é um ato irreversível, que acontece apenas uma vez, e é um ato no tempo, um ato de verdade. Todas estas idéias, de algo acontecendo apenas uma vez, estão indo pelo ralo com a revolução digital. A fotografia como 'a morte em ação', como diziam alguns filósofos, foi uma das bases do século 20 e isso desapareceu. Então, não se estranhe que o sr. Morte reclame, estamos bagunçando a condição de seu trabalho. É estranhamente engraçado".

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PALERMO SHOOTING, de Wim Wenders (124'). Alemanha. Falado em alemão, inglês, italiano. Legendas eletrônicas em português. Indicado para 16 anos.
ESPAÇO UNIBANCO 3 - 22/10/2008 - 17h10 - Sessão: 497 (Quarta)
CINE BOMBRIL 1 - 25/10/2008 - 17h30 - Sessão: 766 (Sábado)
HSBC BELAS ARTES- SALA 2 - 27/10/2008 - 19h50 - Sessão: 957 (Segunda)