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26/10/2009 - 12h54

Atrizes buscam sucesso em Bollywood em filme brasileiro rodado na Índia

ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb
Quando a diretora Beatriz Seigner foi filmar seu "O Sonho Bollywoodiano" na Índia, achou que precisaria de autorização para captar imagens em lugares públicos, como estações de trens e praças - mas estava enganada. "Eles estão tão acostumados a fazer filmes lá, que não é preciso documento nenhum, apenas um papel dizendo que seu filme não criará nenhum atrito com o Paquistão", revelou a diretora ao UOL Cinema. "O Sonho Bollywoodiano", aliás, terá suas primeiras sessões no Brasil durante a 33ª. Mostra Internacional de Cinema.
  • Imagem da gravação do filme "O Sonho Bollywoodiano", de Beatriz Seigner

A Índia é o país que mais produz filmes no mundo, em torno de 800 longas por ano, o que lhe valeu o apelido de "Bollywood", visto que é até maior do que a Hollywood norte-americana. Por isso, parece ser o lugar ideal para um ator encontrar trabalho. Em "O Sonho Bollywoodiano", três atrizes brasileiras vão para lá em busca de um lugar ao sol. "A ideia para o filme veio quando eu fui estudar cinema na Índia e todos meus amigos atores me perguntavam como fazer para ir trabalhar naquele país. Achei isso interessante, até mesmo engraçado". Isto aconteceu muito antes dessa onda da cultura indiana se tornar pop no mundo ocidental, gerando novela no Brasil ("Caminho das Índias") e rendendo oito Oscar para o inglês Danny Boyle e seu melodrama "Quem Quer Ser um Milionário?".

Com esse ponto de partida, Beatriz inventou três personagens - três jovens atrizes brasileiras que chegam à Índia e tentam trabalhar no cinema. No processo de criação do roteiro, entraram em cena outras duas amigas, a atriz Paula Braun ("O Cheio do Ralo") e a musicista e atriz Lorena Lobato, que ajudaram a criar as personagens, e mais tarde as interpretaram no filme. A terceira moça é feita por Nataly Cabanas. Beatriz, além de escrever o roteiro e a direção, também assina a fotografia, além de ter operado a câmera.

"Existe muito de nós três naquelas personagens. Os conflitos, as dúvidas, os medos são muito nossos, mas elas não são iguais a nós", explica Beatriz, que durante as filmagens também deu muita liberdade de improvisação às atrizes. "Eu dizia o que queria da cena e que elas deviam fazer as coisas sozinhas, interagindo com as pessoas na rua. Foi um processo muito diferente, porque havia também um choque cultural. Os indianos ficam muito impressionados com os ocidentais".

Beatriz define seu filme como uma sessão de jazz, na qual os atores foram criando suas falas e as cenas se desenrolando conforme o momento. Uma das melhores participações é de um garoto indiano, chamado Kaushi Satish, professor de dança para o trio de personagens, que tentam trabalhar como dançarinas numa produção bollywoodiana. "Ele soube lidar muito bem com a improvisação, algo com o que ele nem estava acostumado. Os filmes que ele fez antes eram todos muito bem marcados. Ele foi ótimo professor. Dava bronca quando necessário, brigava com elas, e eu deixei tudo isso no filme".

A dança, aliás, tem um destaque especial em "O Sonho Bollywoodiano". Ao longo do filme, uma dançarina, Bhavana Rhya, que foi professora de Beatriz, interpreta uma dança chamada Odissi, cujos movimentos são explicados por legendas na tela. "Durante a invasão britânica na Índia, essa dança foi banida, mas algumas pessoas conseguiram impedir que fosse extinta. Manter essa dança foi uma forma de resistência".

Bollywood não é aqui
Enquanto estava na Índia, Beatriz visitou diversos sets em Bollywood e se deparou com um mundo bem peculiar, em que a mão-de-obra barata permite algumas regalias. "As filmagens são abarrotadas de gente, os produtores e os diretores são cheios de pose. Acho até que eles procuram ter mais glamour do que em Hollywood".

Apesar do esquema industrial de Bollywood, Beatriz acredita que esse modelo não seria ideal para o Brasil. "Para os profissionais, isso é ótimo, é bom poder fazer muitos filmes. Mas acaba tendo uma estrutura muito engessada, todos os filmes são muito parecidos. Há muito pouco espaço para o cinema independente e o público não tem muita opção".

As sessões de cinema na Índia, aliás, são um show à parte, conta Beatriz. "As pessoas interagem bastante com o filme, conversam com os atores, dançam junto e rolam de rir, literalmente!". Mas a exibição de "O Sonho Bollywoodiano" na Índia não foi bem assim. "Foi engraçado, porque eles confundiam muito as três atrizes, achavam todas muito parecidas, o que nem era o caso".

Na Mostra, não haverá esse risco. Uma das protagonistas é Paula Braun, que ficou conhecida ao ser o objeto do desejo de Selton Mello em "O Cheiro do Ralo". A atriz nunca tinha ido para a Índia antes de fazer o filme e ficou fascinada pelo país - e os indianos por ela.

"Eles têm uma ingenuidade, uma pureza que é muito diferente dos outros lugares do mundo. Chega até a ser bonito. Eles saem pulando de alegria só porque cumprimentam a gente dando a mão. Parece que ficam encantados por ter tocado a mão de uma ocidental", conta Paula, lembrando de sua passagem na Índia.

O choque cultural, aliás, é uma das coisas mais interessantes do filme, ainda mais porque a diretora consegue evitar cair nos clichês do olhar estrangeiro. Há um tom de descoberta, é óbvio, já que se mostra três moças que nunca foram para a Índia, mas não existe um deslumbramento pelo exótico. É nisso que reside o que há de mais interessante em "O Sonho Bollywoodiano".

O SONHO BOLLYWOODIANO, de Beatriz Seigner.
CINEMA DA VILA - 26/10/2009 - 15:40 - Sessão: 357 (Segunda)
UNIBANCO ARTEPLEX 5 - 28/10/2009 - 14:30 - Sessão: 544 (Quarta)


Para mais informações, visite o Especial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde se encontra a cobertura completa do evento com notícias, vídeos, fotos e serviços. Para a programação completa da Mostra, acesse o site oficial.

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