Bob Marley, Nietzsche e Shakespeare são temas de filmes negociados na Berlinale
BERLIM, Alemanha -Um novo documentário sobre o rei do reggae, Bob Marley, além de obras mais árduas inspiradas no filósofo Friederich Nietzsche e no dramaturgo William Shakespeare, entre outros, foram negociados internacionalmente no Mercado do Filme da Berlinale.
"A tendência de queda no mercado mundial do filme terminou, tudo indica que saímos da recessão", proferiu Beki Probst, diretor do European Film Market (EFM), grande espaço para o intercâmbio comercial de direitos de distribuição de filmes, realizado paralelamente ao Festival de Berlim.
Entre as fitas negociadas está o último filme do chileno Raúl Ruiz, "Mistérios de Lisboa", que no Brasil foi projetado na Mostra de São Paulo. Segundo a revista especializada "Screen", o produtor português Paulo Branco, que costuma trabalhar com Ruiz, "confirmou muitas vendas de 'O Mistério de Lisboa'".
Outro sucesso mundial de vendas no EFM foi o novo documentário sobre Bob Marley, produzido pela multinacional "Fortissimo Films", e que será lançado para relembrar os 30 anos da morte do grande músico jamaicano morto em 11 de maio de 1981. Segundo a revista "Variety", pela primeira vez a família de Bob Marley aceitou abrir seus arquivos.
Outro filme que encontrou muitos compradores no mundo foi um documentário do alemão Cyril Tuschi sobre o ex-rei do petróleo russo, Mikhail Jodorkovski, de 47 anos, que foi o homem mais rico da Rússia antes de se tornar opositor, inimigo jurado do premier russo, Vladimir Putin, e terminar na prisão.
Cyril Tuschi, que trabalhou durante cinco anos neste filme e conseguiu fazer uma das raras entrevistas que Jodorkovski concedeu atrás das grades, tentou na fita decifrar o enigma deste personagem.
Cotado para o Urso de Ouro, o filme "Nader and Simin, a Separation" conquistou o interesse de investidores em Berlim
O filme iraniano "Nader and Simin - A Separation", de Asghar Farhadi, favorito ao Urso de Ouro, também despertou o interesse de muitos distribuidores no mundo, segundo comunicado da Berlinale.
Duas obras se destacaram este ano na mostra berlinense: "O Cavalo de Turim", do húngaro Béla Tarr, e "Coriolanus", do britânico Ralph Fiennes, uma adaptação aos tempos modernos da tragédia de mesmo nome de William Shakespeare.
"O Cavalo de Turim" se baseia em um detalhe da biografia do filósofo alemão Friederich Nietzche, que Béla Tarr resumiu assim na apresentação deste filme rodado em preto e branco e em planos-sequências:
"Em Turim, em 3 de janeiro de 1889, Friederich Nietzsche saiu de casa, situada no número seis da Via Carlo Alberto. Não longe dali, um cocheiro tem problemas com um cavalo empacado que se recusa a se mover; o cocheiro perde a paciência e começa a chicoteá-lo. Nietzsche, chorando, se aproxima e põe fim ao castigo, abraçando o pescoço do animal. Depois, enlouquece e permanece prostrado por 10 anos".
O filme de Béla Tarr descreve com exatidão a vida do cocheiro, de sua filha e do cavalo, sem muitos diálogos e com uma música hipnotizante, em meio a uma paisagem desolada e castigada pelo vento, até a escuridão total.
"Não podemos comunicar a esperança, nem a salvação. Só podemos contar as coisas como as vivemos. Vivemos em um mundo já terminado. E as coisas que acontecem com o cocheiro, sua filha e o cavalo nos acontecerão, cedo ou tarde. Basta sabê-lo para que não sejamos felizes", vaticinou o húngaro.
Raplh Fiennes acompanha o enquadramento de um plano durante filmagens de "Coriolanus"
Ralph Fiennes, por sua vez, conhecido por seus papéis em "A Lista de Schindler" e "O Paciente Inglês", explicou sua forma de transpor a obra de Shakespeare para os tempos modernos:
"Ao ver na televisão imagens da guerra da Chechênia ou do Iraque, ou os distúrbios nas cidades, convenci-me de que meu cenário estava ao nosso redor", acrescentou.
A obra, escrita em 1607, conta a ascensão do general romano Caio Marcio Coriolano (Fiennes), que encontra a glória combatendo com valentia até sua decadência e desterro, por desprezar o povo. Quando ataca Roma só o apelo de sua mãe, interpretada por Vanessa Redgrave, impedirá que arrase com a cidade.
Rodada na Sérvia, esta adaptação da obra à guerra moderna conserva a língua inglesa do século XVII, "familiar" aos ouvidos de Vanessa Redgrave. "Conheço-a desde a minha infância, líamos sempre na igreja uma Bíblia em uma tradução contemporânea de Shakespeare", disse a atriz.
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