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Filme de espionagem é apresentado em Veneza mais como um quadro ou uma sinfonia

Os atores Colin Firth, Svetlana Khodchenkova e Benedict Cumberbatchc durante à pré-estreia do filme "O Espião que Sabia Demais", no Festival de Veneza (5/9/11)  - AFP
Os atores Colin Firth, Svetlana Khodchenkova e Benedict Cumberbatchc durante à pré-estreia do filme "O Espião que Sabia Demais", no Festival de Veneza (5/9/11) Imagem: AFP

05/09/2011 16h42

VENEZA, Itália, 5 Set 2011 (AFP) -O filme sobre espionagem "Tinker Tailor Soldier Spy", do cineasta sueco Tomas Alfredson, adaptado do célebre romance de John Le Carré, foi apresentado nesta segunda-feira na Mostra de Veneza, evocando mais a atmosfera de um quadro de Turner ou uma sinfonia de Mahler do que propriamente uma história do tipo James Bond.

Os que gostam da ação, e de muita adrenalina, vão ficar decepcionados. Embora, durante mais de duas horas, o espectador entre em contato com a guerra fria e o embate entre os serviços secretos, Tomas Alfredson preferiu deixar-se guiar mais pelo tema central do livro - a "solidão, através dos personagens, que se afirmam pelas expressões, as atitudes e os cenários, - do que pela ação e os diálogos.

De Budapeste a Londres, passando por Istambul, Gary Oldman, espião-mestre do MI16 e personagem central aparece mais como um anti-herói, que vai mergulhar no trabalho para descobrir um agente soviético, no momento em que se prepara para a aposentadoria.

O elenco é fenomenal: John Hurt, Colin Firth, Tom Hardy, Stephen Graham, cujos papéis se precisam à medida que a história complexa avança. Um filme de espionagem concebido "como um ensaio sobre o fato de ser homem e enfrentar o problema da solidão", explicou o cineasta.

"Quando me pediram para fazer o filme, vi que não era possível realizá-lo se não encontrasse um fio condutor e, então, escolhi um tema", contou.

Trailer de "O Espião que Sabia Demais"


Luzes e objetos parecem escolhidos como as cores da paleta de um pintor. Um Citroën DS bege metálico aparece de forma recorrente, deslocando-se com a mesma lentidão da fumaça (que sai das lareiras) dos departamentos secretos, com o clima geral fazendo lembrar a melancolia de uma sinfonia de Mahler.

Os diálogos são reduzidos ao essencial e todos os personagens se deslocam como se estivessem em quadros dos grandes mestres, com as cenas nos primeiro, segundo e terceiro planos oferecendo as mesmas perspectivas de uma tela de Turner.

Tomas Alfredson também disse à imprensa ter-se inspirado pela "pintura e a música" e "não apenas pelo cinema".

Foi a oportunidade para os atores de "mostrar alguma coisa a mais" em relação ao que o público está habituado, disse Gary Oldman, que vive um personagem impassível e frio : "este filme me permitiu apresentar alguma coisa de mim, diferente".

A segunda-feira também permitiu descobrir "Dark Horse" do diretor americano Todd Solondz, uma comédia sombria sobre um trintão obeso, Abe (Justin Bartha), que ainda mora com os pais (Christopher Walken e Mia Farrow) e considerado pela família um "fracasso".

Um outro filão veio de Hong Kong : "Tao Jie" (A Simple Life) da cineasta Ann Hui, sobre a relação entre um homem rico e a empregada que o criou - um filme sobre a "velhice" e o destino das pessoas idosas, abandonadas pela família em sinistras casas de repouso.

No programa desta terça-feira: "Wuthering Heights", de Andrea Arnold (Fish Tank) e um filme japonês "Himizu" de Sono Sion, adaptação de um mangá de Minoru Furuya, em disputa pelo Leão de Ouro.