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Irmãos Taviani surpreendem em Berlim com "César Deve Morrer"

Os diretores do filme "César Deve Morrer", Vittorio e Paolo Taviani no Festival de Berlim (11/2/12) - Reuters
Os diretores do filme "César Deve Morrer", Vittorio e Paolo Taviani no Festival de Berlim (11/2/12) Imagem: Reuters

11/02/2012 14h58Atualizada em 11/02/2012 17h13

Os célebres cineastas italianos Paolo e Vittorio Taviani surpreenderam neste sábado o público da Berlinale com seu intenso "Cesare deve morire" ("César deve morrer"), uma adaptação da obra "Júlio César", de Shakespeare, interpretada por detentos da prisão de segurança máxima de Rebibbia.

A obra de Shakespeare, que conta a conspiração para matar o ditador romano Júlio César em 44 a.C., permite aos presos, alguns deles condenados à prisão perpétua por homicídio, expressar sobre os temas do poder, a morte e a traição com um grande realismo e energia.

Os irmãos Taviani, de 83 e 85 anos, insistiram que este filme-documentário, que disputa o Urso de Ouro, é "o relato da descoberta do poder da arte por homens que vivem uma tragédia, não apenas pelos delitos que cometeram, como pela vida dura na prisão".

"Foi uma grande experiência voltar a descobrir com eles a obra de Shakespeare, da qual tínhamos recordações de leituras no colégio. Nós a desmembramos e a reconstruímos, em nome de um espetáculo. Achamos que Shakespeare teria gostado de ver esta representação numa prisão", declarou Vittorio Taviani.

 

"A sorte, o azar, têm um papel importante em nossas vidas. Uma pessoa nos perguntou se desejávamos ir a um teatro onde se chora. Isso nos chamou a atenção. Tratava-se do teatro da prisão modelo de Rebibbia, onde há pessoas condenadas por pertencimento à máfia, à camorra, à ndrangheta", explicou Paolo Taviani.

"Essa obra que fazia o público chorar era 'O inferno', de Dante, e, em especial, o episódio de Francisca e Paolo, um amor impossível. Os presos nos fizeram sentir como nunca a possibilidade desse amor", acrescentou.

"Quando chegamos pela primeira vez à prisão, um lugar onde as pessoas sofrem, nos parecia que não tínhamos o direito de vê-los sofrer, mas depois nos demos conta de que eles também tentavam se expressar, e que podem chegar a sentir amizade e afeto, ainda que tenham cometido delitos terríveis", acrescentou.

"César deve morrer", interpretada pelos presidiários em seus próprios dialetos - calabrês, siciliano, napolitano ou romano - começa com a seleção de elenco e a atribuição dos papéis por um verdadeiro ator de teatro, Fabio Cavalli, que há dez anos leva a dramaturgia às prisões sicilianas.

Cavalli contou que montou na prisão de Rebibbia, "O inferno", de Dante, "A tempestade", de Shakespeare, e "Il Candelaio", de Giordano Bruno.

"O teatro de Rebibbia já não é apenas o teatro da prisão, como também uma sala que depende da prefeitura de Roma e a qual regularmente vão os estudantes ver nossas encenações", acrescentou Cavalli.

Vittorio Taviani insistiu que "atribuir à prática do teatro na prisão uma função terapêutica é algo limitante". "Fazer com que os presos descubram o poder da arte lhes abre outra dimensão do cérebro, a das relações humanas. Assim compreendem melhor o que deixaram de ter ao perder a liberdade e alguns pode aspirar reconstruir-se".

O único ator ex-presidiário presente na Berlinale era Salvatore Striano, que interpreta no filme Brutos, o personagem-chave da tragédia de Shakespeare.

"Striano estava condenado a uma pena muito longa e, graças a uma anistia, pôde sair antes da prisão, onde descobriu sua vocação de ator. Desde que saiu, se integrou a uma companhia de teatro", contou Paolo Taviani.

TRAILER DE "CESARE DEVE MORIRE"