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Jacques Audiard e Marion Cotillard brilham em Cannes

O diretor de "De rouille et d"os", Jacques Audiard, ao lado da atriz Marion Cotillard, que interpreta Stéphanie no longa que foi exibido no segundo dia do Festival de Cannes 2012 (17/5/12) - REUTERS/Christian Hartmann
O diretor de "De rouille et d'os", Jacques Audiard, ao lado da atriz Marion Cotillard, que interpreta Stéphanie no longa que foi exibido no segundo dia do Festival de Cannes 2012 (17/5/12) Imagem: REUTERS/Christian Hartmann

17/05/2012 11h35

CANNES, 17 Mai 2012 (AFP) -Com personagens envolvidos em uma tormenta, cheios de emoções profundas e filmados à flor da pele, Jacques Audiard retorna de forma memorável a Cannes e oferece uma entrada triunfal para Marion Cotillard e Matthias Schoenaerts na competição.

"De Rouille et d'Os", que estreia simultaneamente nos cinemas franceses, fala de pessoas em crise em um mundo amargo "a beira da barbárie", segundo Audiard. No filme, cada um dará um passo na direção do outro para avançar e crescer, juntos.

Stéphanie, treinadora de orcas no Marineland de Antibes e "princesa arrogante" das pistas de dança da Costa, perde as pernas em um acidente de trabalho. Para se recuperar, apoia-se em Ali, um jovem pai do norte, guarda taciturno e encrenqueiro, pugilista nas horas vagas.

Com base em renúncias, sofrimentos e batalhas amargas contra o seu coração e corpo resistentes, "ela vai descobrir que pode desistir e ensiná-lo a usar as palavras para dizer que lhe ama", resume Jacques Audiard, que apareceu radiante ao lado de seus atores durante a coletiva de imprensa.

"Destinos simples, aumentados por acidentes, que lutam para sair de sua condição", acrescenta o roteirista Thomas Bidegain.

Depois do filme "Um Profeta", Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2010, capturado no universo confinado das prisões, sombrio e masculino, o diretor desejava se renovar com as mulheres, espaços abertos e luz, tudo isso encontrado a poucos passos, na praia de Cannes, já que as únicas baleias orcas da França residem no Marineland de Antibes.

Atravessando o filme no fio da navalha, Marion Cotillard parece operar a mesma tradução das trevas à luz, caminhando lentamente, brilhante, na direção da força, da energia.

"Marion é uma atriz muito viril e muito sensual, com uma autoridade que a fez, sozinha, capaz de chegar ao outro lado do muro", garante Audiard, ao explicar o motivo da escalação da vencedora do Oscar, ancorada em Hollywood desde "Piaf - Um hino ao amor".

"Poucas atrizes conseguiram se jogar lá dentro permanecendo essencialmente femininas", insistiu. O diretor também reconheceu a importancia da tecnologia que permite esquecer os efeitos especiais necessários para retirar as pernas de Marion-Stephanie (meias verdes apagadas na pós-produção).

Para Marion Cotillard foi necessária uma preparação intensa de longas horas de natação sem os braços e de treinamento com uma bengala para dar cinematograficamente corpo a uma deficiente, "já que hoje as pessoas com prótese andam muito bem e sem mancar".

Matthias Schoenaerts, já admirado em "Bullhead", passa a impressão de força física, potência que atraiu o diretor, que procurava inicialmente um amador em uma academia de boxe.

"Mas ele ficou muito realista".

Cumprimentado com força e ternura por sua parceira e alvo dos flashs no tapete vermelho, o ator trabalhou durante meses com um treinador para se tornar um pugilista que luta para os apostadores, enquanto o pai quebra o gelo, literalmente, com socos e preenche a tela com seus ombros largos. Coração enorme, mas vazio de piedade ou compaixão.

Antes de deixar a sala, Jacques Audiard, o primeiro dos três franceses na competição, disse se sentir "muito cineasta francês. Um protótipo de cinéfilo francês, espécie cujo desaparecimento foi registrado nos anos 1980".

"Eu venho de lá , sim", concluiu.