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Ator de filme italiano que briga pela Palma de Ouro está na prisão

Aniello Arena em cena do filme "Reality", de Matteo Garrone (2012) - Divulgação
Aniello Arena em cena do filme "Reality", de Matteo Garrone (2012) Imagem: Divulgação

18/05/2012 11h19

CANNES, 18 Mai 2012 (AFP) -"Reality", um filme do italiano Matteo Garrone, cujo protagonista, Aniello Arena, está na prisão há 18 anos, e "Paradies: Liebe", um filme do austríaco Ulrich Seidl, sobre o turismo sexual na África, tiveram boa repercussão nesta sexta-feira em Cannes.

"Aniello Arena não pôde vir a Cannes porque está na prisão há 18 anos", explicou Garrone em uma coletiva de imprensa no Palácio dos Festivais, após a exibição de seu filme, que descreveu como uma "comédia que se transforma em tragédia".
O ator obteve permissão para sair da prisão e rodar o filme, mas não para comparecer ao Festival de Cannes.

Garrone, que conquistou o Prêmio do Júri em Cannes em 2008 por "Gomorra", um retrato da máfia napolitana, explicou o que o levou a escolher um homem que cumpre uma pena de 20 anos de prisão como protagonista de "Reality".
"Meu pai é um crítico de teatro, e todos os verões íamos ver as peças da Companhia da Fortaleza, que trabalha com prisioneiros", contou o diretor.

"Um destes presos era Aniello Arena, que começou a carreira de ator em 2001", na prisão de Volterra, na província de Pisa.
Foi nesta prisão na qual foi fundada há 20 anos a Companhia da Fortaleza, dirigida por Armando Puzzo, que confiou a Aniello Arena vários papéis em suas peças, entre elas obras de Shakespeare e Brecht.

Arena trabalhou também em dois filmes italianos, entre eles "Um tigre entre macacos", de Stefano Incerti (2009), antes de rodar "Reality", no qual interpreta um pescador, Luciano, que diverte os que o rodeiam com seus talentos cômicos.
Um dia participa de uma seleção para o "Big Brother", o mais famoso reality show da televisão italiana, e começa a sonhar em ser escolhido para participar deste programa, o que significaria fama e dinheiro. A partir deste dia, sua vida não voltará a ser a mesma.

"A história é como uma fábula", disse Garrone, ressaltando que "muita gente tenta mudar suas vidas, e seus destinos, através da televisão".
"Muita gente considera a televisão como um Eldorado", comentou Garrone, que disse que optou por situar o filme em Cannes porque é uma cidade "repleta de contradições".

A última Palma de Ouro conquistada por um filme italiano foi "O quarto do filho", de Nanni Moretti, que é presidente neste ano do Júri Internacional. O diretor de fotografia deste filme foi Matteo Garrone.
O outro filme exibido nesta sexta-feira e que disputa a Palma de Ouro é "Paradies: Liebe", que conta a história da viagem de Theresa (Margarethe Tiesel), uma assistente social, ao Quênia para esquecer sua dura realidade e desfrutar do sexo com os jovens que frequentam as praias de Mombassa, negociando colares, passeios de barcos, entre outras atividades.

Com uma estética visual caprichada, Seidl aborda o tema sem piedade, exibindo mulheres acima do peso, com os seios caídos, em busca de belos jovens como objetos sexuais. Mas o cineasta evita um olhar moralista e não julga as personagens.
"O que me interessa é retratar a realidade. No Ocidente, ninguém olha para as mulheres de mais de 50 anos. É muito difícil para elas ter uma vida sexual. Assim a África é para elas um presente", disse o diretor austríaco.

"E para os jovens da praia, é uma maneira de sobreviver. Para eles, a maior conquista é ter uma relação de longo prazo com uma mulher branca, porque isto representa um emprego a longo prazo", concluiu na entrevista coletiva.