Topo

Vencedor do Festival de Veneza diz que seu filme é "metáfora do capitalismo extremo"

Diretor sul-coreano Kim Ki-duk exibe o Leão de Ouro conquistado no Festival de Veneza pelo filme "Pieta" (8/9/12) Imagem: AFP PHOTO / TIZIANA FABI

08/09/2012 18h28

O cinema de autor, poético e cruel, triunfou este sábado (8) na 69ª Mostra de Veneza, com o Leão de Ouro sendo dado ao cineasta sul-coreano Kim Ki-duk por seu retrato do capitalismo selvagem, original e sem piedade em "Pieta".

O cobiçado prêmio do festival foi entregue neste sábado à noite em uma cerimônia oficial no Palácio de Cinema do Lido.

O cineasta, de 51 anos, recebeu o prêmio vestido com terno coreano verde e marrom escuro e, depois de agradecer aos jurados e chamar os protagonistas do filme ao palco, entoou um canto em seu idioma como agradecimento, um gesto que foi aplaudido calorosamente pelo público.

O talentoso diretor sul-coreano voltou ao cinema depois de cinco anos de ausência e depressão com um filme que ele mesmo define como "uma crítica ao capitalismo selvagem".

O júri, presidido pelo norte-americano Michael Mann e do qual também faz parte o cineasta argentino Pablo Trapero, votou entre 18 filmes, todos estreias mundiais.

"Pieta", que narra a crueldade de um homem a serviço de agiotas, convenceu tanto o público como boa parte da crítica, por sua assombrosa mistura de vingança e compaixão.

"Meu filme é uma metáfora do capitalismo extremo que faz do dinheiro o único valor importante, que se impõe sobre valores e sentimentos", explicou à AFP o cineasta.

Outros ganhadores
O drama religioso que muitos consideram uma crítica à poderosa cientologia, "The Master", do norte-americano Paul Thomas Anderson, foi premiado com o Leão de Prata de melhor diretor.

Anderson, autor do premiado "Magnolia", não desmentiu sua fama de cineasta difícil e prodígio, e naturalmente se recusou a assistir à cerimônia, apesar de ter recebido dois prêmios.

Além do prêmio para melhor direção, os dois protagonistas, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, receberam a Copa Volpi, pela melhor atuação masculina.

Com a vida do "The Master", "escritor, doutor, físico nuclear, filósofo e teórico", como se apresenta a seus adeptos, Anderson consegue levar o espectador a mergulhar no lado escuro da psicologia humana, na necessidade de contar com uma guia, uma família ou uma religião como tábua de salvação.

"Peço desculpas pela minha aparência, acabei de descer do avião. Coloquei o terno no banheiro. Trabalhar com Joaquim foi uma experiência incrível, porque é uma força indômita e eu apenas a aproveitei. Estou certo de que também está muito agradecido", afirmou Hoffman ao receber os dois prêmios.

A Copa Volpi de melhor atuação feminina foi para a jovem atriz Hadas Yaron por seu encantador papel no filme da diretora israelense Rama Burshtein, "Lemale et Ha'Chalal" (Preencher o vazio).

Outro filme de autor, "Paradies: Glaube" (Paraíso: Fé), que causou escândalo em Veneza por cenas irreverentes, entre elas uma de sexo com um crucifixo, foi contemplado com o Prêmio Especial do Júri.

"Meu filme não é blasfêmia", disse do palco o diretor austríaco Ulrich Seidl.

O cinema italiano, que há cerca de vinte anos não recebe o prêmio máximo, ficou com a Melhor Contribuição Técnica, para o cineasta Daniele Cipri pela fotografia de "Ha sido el hijo", protagonizada pelo chileno Alfredo Castro.

O prêmio de Melhor Roteiro foi recebido pelo diretor francês Olivier Assayas por "Après Mai", que lembra os anos de maio 68 na França, entre militância política, drogas, revolução e fuga para a Índia.

O novo diretor da competição, Alberto Barbera, programou um festival equilibrado, que destacou o cinema de autor e que contou com filmes muitos esperados nos círculos especializados, como "The master", uma das grandes apostas da Mostra, que chegou dos Estados Unidos envolto a críticas e mistério.

Também estiveram no Lido Robert Redford, Winona Ryder, Spike Lee e Brian de Palma.

Os últimos trabalhos dos mestres consagrados, Takeshi Kitano e Terrence Malick, decepcionaram.

A religião, em particular, todas as formas de fundamentalismo e sectarismo, inspiraram muitas das obras apresentadas e premiadas, como se o mundo estivesse sobrecarregado pelas convenções.

Entre os documentários se destacaram um sobre Michael Jackson (Bad 25) de Spike Lee e a cópia restaurada de "As portas do céu", a obra prima de Michael Cimino, presente em Veneza.

A coincidência do festival italiano com o de Toronto, no Canadá, obrigou muitas produções a se dividir entre os dois lados do oceano e até o lendário Robert Redford só permaneceu uma noite em Veneza.

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Vencedor do Festival de Veneza diz que seu filme é "metáfora do capitalismo extremo" - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade