Vencedor do Festival de Veneza diz que seu filme é "metáfora do capitalismo extremo"
O cinema de autor, poético e cruel, triunfou este sábado (8) na 69ª Mostra de Veneza, com o Leão de Ouro sendo dado ao cineasta sul-coreano Kim Ki-duk por seu retrato do capitalismo selvagem, original e sem piedade em "Pieta".
O cobiçado prêmio do festival foi entregue neste sábado à noite em uma cerimônia oficial no Palácio de Cinema do Lido.
O cineasta, de 51 anos, recebeu o prêmio vestido com terno coreano verde e marrom escuro e, depois de agradecer aos jurados e chamar os protagonistas do filme ao palco, entoou um canto em seu idioma como agradecimento, um gesto que foi aplaudido calorosamente pelo público.
O talentoso diretor sul-coreano voltou ao cinema depois de cinco anos de ausência e depressão com um filme que ele mesmo define como "uma crítica ao capitalismo selvagem".
O júri, presidido pelo norte-americano Michael Mann e do qual também faz parte o cineasta argentino Pablo Trapero, votou entre 18 filmes, todos estreias mundiais.
"Pieta", que narra a crueldade de um homem a serviço de agiotas, convenceu tanto o público como boa parte da crítica, por sua assombrosa mistura de vingança e compaixão.
"Meu filme é uma metáfora do capitalismo extremo que faz do dinheiro o único valor importante, que se impõe sobre valores e sentimentos", explicou à AFP o cineasta.
Outros ganhadores
O drama religioso que muitos consideram uma crítica à poderosa cientologia, "The Master", do norte-americano Paul Thomas Anderson, foi premiado com o Leão de Prata de melhor diretor.
Anderson, autor do premiado "Magnolia", não desmentiu sua fama de cineasta difícil e prodígio, e naturalmente se recusou a assistir à cerimônia, apesar de ter recebido dois prêmios.
Além do prêmio para melhor direção, os dois protagonistas, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman, receberam a Copa Volpi, pela melhor atuação masculina.
Com a vida do "The Master", "escritor, doutor, físico nuclear, filósofo e teórico", como se apresenta a seus adeptos, Anderson consegue levar o espectador a mergulhar no lado escuro da psicologia humana, na necessidade de contar com uma guia, uma família ou uma religião como tábua de salvação.
Melhor Ator
Ator Philip Seymour Hoffman segura o troféu de melhor ator conquistado no Festival de Veneza por sua interpretação em "The Master" (6/9/12). Hoffman dividiu o prêmio com Joaquin Phoenix.
"Peço desculpas pela minha aparência, acabei de descer do avião. Coloquei o terno no banheiro. Trabalhar com Joaquim foi uma experiência incrível, porque é uma força indômita e eu apenas a aproveitei. Estou certo de que também está muito agradecido", afirmou Hoffman ao receber os dois prêmios.
A Copa Volpi de melhor atuação feminina foi para a jovem atriz Hadas Yaron por seu encantador papel no filme da diretora israelense Rama Burshtein, "Lemale et Ha'Chalal" (Preencher o vazio).
Outro filme de autor, "Paradies: Glaube" (Paraíso: Fé), que causou escândalo em Veneza por cenas irreverentes, entre elas uma de sexo com um crucifixo, foi contemplado com o Prêmio Especial do Júri.
"Meu filme não é blasfêmia", disse do palco o diretor austríaco Ulrich Seidl.
O cinema italiano, que há cerca de vinte anos não recebe o prêmio máximo, ficou com a Melhor Contribuição Técnica, para o cineasta Daniele Cipri pela fotografia de "Ha sido el hijo", protagonizada pelo chileno Alfredo Castro.
O prêmio de Melhor Roteiro foi recebido pelo diretor francês Olivier Assayas por "Après Mai", que lembra os anos de maio 68 na França, entre militância política, drogas, revolução e fuga para a Índia.
O novo diretor da competição, Alberto Barbera, programou um festival equilibrado, que destacou o cinema de autor e que contou com filmes muitos esperados nos círculos especializados, como "The master", uma das grandes apostas da Mostra, que chegou dos Estados Unidos envolto a críticas e mistério.
Também estiveram no Lido Robert Redford, Winona Ryder, Spike Lee e Brian de Palma.
Os últimos trabalhos dos mestres consagrados, Takeshi Kitano e Terrence Malick, decepcionaram.
A religião, em particular, todas as formas de fundamentalismo e sectarismo, inspiraram muitas das obras apresentadas e premiadas, como se o mundo estivesse sobrecarregado pelas convenções.
Entre os documentários se destacaram um sobre Michael Jackson (Bad 25) de Spike Lee e a cópia restaurada de "As portas do céu", a obra prima de Michael Cimino, presente em Veneza.
A coincidência do festival italiano com o de Toronto, no Canadá, obrigou muitas produções a se dividir entre os dois lados do oceano e até o lendário Robert Redford só permaneceu uma noite em Veneza.
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